Na maioria dos esportes, as roupas têm que ser leves e resistentes, e dotadas de alguma tecnologia que melhore a troca de calor entre o corpo e o ambiente. Na Fórmula 1, contudo, a indumentária usada pelos pilotos tem uma função a mais: salvar suas vidas. E não para por aí: até mesmo os acessórios utilizados visam promover o ganho de alguns décimos de segundo. Há muita tecnologia no capacete e macacão de F1.

Nos primórdios do automobilismo, o macacão servia apenas para proteger as roupas de manchas de óleo. Eles eram feitos de algodão e não havia qualquer tratamento para torná-los mais leves ou eficientes contra o calor. Sequer eram usados capacetes.
Até que um tecido desenvolvido pela Du Pont para o exército norte-americano, o Nomex, entrou em cena nos anos 1960 e passou a ser utilizado nos Estados Unidos após a morte de Jerry Unser Jr. Sua vantagem é que sua estrutura molecular só se alterava aos 370ºC.
O problema era que os estudos com o exército demonstravam que o tecido era mais eficaz se mais de uma camada fosse utilizada. Portanto, quando o Nomex cruzou o Atlântico pelas mãos do médico Sid Watkins, muitos pilotos se relutaram a utilizá-lo, pois o macacão ficava quente demais.
O material foi sendo desenvolvido nos anos 1980 e se tornou mais leve. Hoje, os macacões de Nomex possuem de duas a quatro camadas, mas a temperatura interna não passa dos 41ºC. Para serem usados não apenas pelos pilotos, como também pelos mecânicos, eles são lavados e secados 15 vezes e depois submetidos a testes com 600 a 800ºC. A temperatura dentro do macacão não pode ultrapassar os tais 41ºC, temperatura considerada crítica para o ser humano, por mais de 11s. Eles também possuem tecnologia que dissipa o suor. Em média, um piloto usa 16 macacões por ano.

Qual é o padrão do macacão de F1?
Hoje, a Federação Internacional de Automobilismo cuida até dos zíperes, que não podem derreter ou transferir calor para o corpo do piloto. O macacão possui ainda uma espécie de gancho de tecido na parte do ombro, para que, no caso de um atendimento, o mesmo possa ser puxado de seu carro junto de seu banco.
Em termos de leveza, apenas o fato dos logos serem impressos ao invés de costurados fez com que o peso diminuísse em meio quilo, algo importante em uma categoria na qual sempre busca-se ficar próximo do peso mínimo – que é contabilizado junto do piloto e seu equipamento.
Embaixo do macacão, os pilotos usam meias, calça e camiseta também à prova de fogo, além da balaclava. As botas são especiais para protegerem os pés ao mesmo tempo em que não prejudicam a sensibilidade com os pedais, da mesma forma que as luvas, que têm camurça nas palmas para melhor aderência no volante.
Como funciona o sistema de refrigeração que estreia em 2025

Para evitar problemas em corridas disputadas sob calor intenso, a FIA determinou que, a partir de 2025, todos os carros tenham um sistema que ajuda o piloto a manter a temperatura do corpo mais baixa.
Na parte da vestimenta em si, eles ficarão com um colete em cima da primeira camada, semelhante ao que já é usado para esfriar o corpo antes de entrar no carro nas provas mais quentes. No cockpit, haverá um sistema com gelo, para esfriar o líquido que, então, é bombeado para esse colete.
Inicialmente, o sistema deve pesar cerca de 5kg, mas espera-se que soluções sejam encontradas para diminuir isso. Esse peso extra não vai entrar, pelo menos por enquanto, na conta do peso mínimo do conjunto carro + piloto, que é de 800kg.
Capacete aerodinâmico
O capacete é um elemento de segurança à parte e foi alterado depois que Felipe Massa foi atingido por uma mola na classificação do GP da Hungria de 2009, quando ganharam uma camada de um material chamado Zylon, posicionado entre o visor e a parte de cima do capacete. Os capacetes têm de ser extremamente leves – geralmente pesam cerca de 1,250kg – e resistentes.
Por isso, são feitos de fibra de carbono e várias camadas de Kevlar, tecido usado também em roupas à prova de bala. Já a viseira é feita de policarbontato, e possui camadas, que são retiradas pelo piloto quando estão sujas durante a corrida. Elas têm um tratamento que impede que embaçem semelhante ao de câmeras de TV.
Capacetes não são iguais
Apesar de padronizados, os capacetes não são iguais. Eles possuem diferentes configurações que visam ajudar na aerodinâmica do carro. Cada fabricante desenvolve suas próprias maneiras de fazer isso, por meio da forma em si e de aletas colocadas na parte externa. Além da questão técnica, a adaptação de cada piloto e até contratos com equipes vão definir quem opta por qual marca no grid.
Alonso é um piloto que tem experimentado de tudo. Trocou a Schuberth, marca associada à Ferrari, pela japonesa Arai em 2016, marca que já tinha usado no início da carreira, mas hoje utiliza Bell.
O espanhol explicou que as diferenças são pequenas, porém marcantes.
“Cada um tem um peso, e você sente isso quando está pilotando. A refrigeração é diferente e o conforto também muda. Mesmo que eles preparem o capacete com a forma da sua cabeça, tem aquele com que você vai se sentir confortável logo de cara e o outro que vai precisar de várias mudanças.”
Fernando Alonso
Além do peso e do formato, há outras variáveis, como ventilação e até o quanto o piloto escuta do som ambiente.
Pode haver, também, questões sentimentais. Felipe Massa contou certa vez que passou a usar o Schuberth por instrução da Ferrari e depois seguiu fiel porque o capacete salvou sua vida no acidente da Hungria.
Ou técnicas: Daniel Ricciardo revelou que a Red Bull pede que seus pilotos usem Arai porque era o modelo utilizado no túnel de vento da Red Bull quando ele estava por lá. Enquanto Lewis Hamilton trocou a Arai pela Bell em 2016 justamente por acreditar que eles estavam ficando para trás na “corrida” pelo desenvolvimento aerodinâmico.
Uma empresa que vem crescendo é italiana Stilo, conhecida por ter os capacetes mais leves do mercado e por oferecer atendimento VIP por ter menos clientes que as demais.
Quanto custa a “armadura”?
Na Fórmula 1, os pilotos têm acordos com suas marcas favoritas, que ganham espaço de publicidade nos macacões e capacetes. Mas quem quiser se vestir como um piloto de verdade, terá de desembolsar algo em torno de R$ 9.000 (contabilizando 860 pelas roupas de baixo, 6 200 pelo macacão, 1.330 pela bota, 300 pelas luvas, 185 pela balaclava, 100 pelas meias). Isso, sem contar em um investimento de 40 a 50 mil reais no capacete de padrão F1.
10 Comments
Cacete de agulha …
pesado esse preço hein ! hahahahahahahahahaha
Mas é interessante saber que não é só o carro que evolui a segurança. Ju, faltou aquele protetor de ombros que prende o capacete (esqueci o nome daquilo). Ele provavelmente é adaptável a cada piloto, mas, vem no combo junto com o capacete ? ou ele é comprado separadamente ?
Realmente bem legal essa matéria. Normalmente ficam focado no carro e esquecem dos demais fatores.
É o HANS, que serve para segurar o pescoço do piloto e proteger sua coluna em caso de acidente. Ele custa mais de 2000 reais.
Muito legal, Ju.
Sempre nos surpreendendo.
Olá Julianne!
Amo automobismo, sou comissario de pista em Interlagos, curto muito seus post reportagem e comentarios.
Todos pilltos tem acordo com fabricante e com isso não pagam o capacete/macacão/sapatilha ou isso é para um ou outro?
Se tiverem que pagar quem paga ele ou a equipe?
Julianne, ur the best.
10+.
10+.
Sempre desejei saber sobre isso, haja vista que TODOS os componentes estão comprometidos com o resultado final
Grazie
qual o propósito daqueles valores impressos na parte posterior da gola dos macacões dos pilotos?:
São os dados da hologação da FIA