Respondendo a pergunta de um fã sobre o que mudaria nas regras para tornar as corridas mais disputadas, o diretor técnico da Mercedes, James Allison, surpreendeu e disse que se livraria das bandeiras azuis.
“Sei que Toto não apoiaria, mas eu acabaria com elas. Faria com que as corridas se tornassem um pesadelo para os carros mais rápidos porque os carros mais lentos não sairiam da nossa frente. Teríamos que lutar para abrir caminho e isso deixaria as corridas interessantes.”
É uma ideia bem mais simples do que o complicado sistema de grid com a posição invertida do campeonato para uma corrida classificatória que pode ser adotado em algumas provas ano que vem (complicado até de explicar, apesar de ser a favor de pelo menos tentar em alguma corrida tradicionalmente chata só para ver o que acontece). E de certa forma apresenta o mesmo desafio: ver até mesmo os pilotos dos melhores carros tendo de abrir espaço no pelotão. Só não é, claro, tão midiática.
A bandeira azul era simplesmente um indicativo de que um carro mais rápido estava se aproximando, deixando a decisão de sair ou não do caminho a cargo do piloto. Isso valeu na F1 até 1995, quando as regras foram regulamentadas. Hoje, se o piloto não sair rapidamente da frente, como aconteceu com Sergio Perez no GP da Espanha, após ele ter atrapalhado o líder Lewis Hamilton, a punição é de 5s.
Esse é um padrão nas categorias europeias, mas na Indy, por exemplo, o piloto que está levando uma volta pela primeira vez pode lutar para permanecer na volta do líder. É discutível se isso funciona melhor em ovais.
Quem é contra diz que é perigoso, que as velocidades são muito diferentes entre os carros. Ou que não é justo porque o líder pode ter o azar de pegar o carro lento em um lugar mais difícil da pista. E imagine o tamanho da confusão no caso de colisão entre o líder e um retardatário!
Bandeiras azuis fazem sentido na classificação, já que a diferença de velocidade é potencialmente muito maior porque um piloto pode estar entrando no box e, o outro, em volta rápida. Também é fato que a bandeira azul é tida como importante em categorias de base por questões de segurança, já que os pilotos são obviamente menos experientes. Mas e entre os 20 que chegam à F1, ainda mais com a capacidade de frenagem e pressão aerodinâmica que esses carros têm?
Em relação à segurança, a diferença de ritmo entre os melhores e os piores carros do grid dificilmente superam os 3s por volta – isso, em uma volta longa como em Spa. E isso pode acontecer, inclusive, quando se luta por posição, já que os carros costumam se encontrar na pista com estratégias diferentes. Além disso, os engenheiros estão lá para alertar os pilotos de tudo o que está acontecendo.
Em relação a ser injusto, os pilotos não costumam responder sobre qualquer dificuldade que “é a mesma para todo mundo”?. Na maioria das pistas, não seria algo decisivo, pela diferença de velocidade entre os carros e o DRS, lembrando que retardatários já dão o direito aos carros mais rápidos de usarem a asa móvel, algo que dá ainda mais vantagem, hoje em dia, para o líder. E ninguém diz que é injusto.
Sem bandeiras azuis, até o líder teria que ultrapassar para vencer uma corrida na maioria das provas, e o fato dele fazer a manobra (ou seja, ir para o lado mais sujo da pista) faria com que o retardatário perdesse muito menos tempo e o pelotão ficaria mais junto. Isso porque quem sai do caminho perde de 1 a 3s naquela volta até conseguir limpar os pneus da sujeira. A custo zero e sem precisar de medidas mirabolantes, é um passo para diminuir o abismo entre equipes das duas pontas do pelotão, onde está efetivamente o problema (da terceira equipe à sexta, as corridas e o campeonato têm sido ótimos).
Aqui o vídeo completo do Allison:
Estrategicamente, também poderia ser interessante, já que acabar com as bandeiras azuis adicionaria mais um item estratégico, pois certamente os engenheiros vão querer livrar seus pilotos de encontrarem um retardatário em um setor mais sinuoso, ou até mesmo tentarão casar as paradas nos boxes com uma situação de mais tráfego.
E Allison ainda lembra de outro ponto: “Isso também significa que as equipes teriam que forjar alianças umas com as outras, o que faria tudo politicamente intrigante.” Ou seja, o time com motor Ferrari seguraria o carro da Mercedes, e assim por diante. Isso, aliás, não seria novidade. Só para ficar em um exemplo mais recente, era esperado que a britânica Williams desse uma mãozinha para os pilotos da McLaren contra a Ferrari no final dos anos 1990.
Afinal, como diria Guenther Steiner (achei essa frase dele defendendo Gutierros lá em 2016):
“Se o seu carro é tão mais fácil, você deveria conseguir ultrapassar sozinho, sem reclamar. Vocês são pilotos de corrida ou querem que todos saiam de seu caminho? Precisamos trazer os pilotos de corrida de volta: se seu carro é tão melhor assim, ultrapasse na pista.”
8 Comments
SENSACIONAL!!!!
Ideia brilhante…pq não tentar, né?!
Inacreditável alguém ter a coragem de propor isso. Coitada da F1!
“Se o seu carro é tão mais fácil, você deveria conseguir ultrapassar sozinho, sem reclamar. Vocês são pilotos de corrida ou querem que todos saiam de seu caminho? Precisamos trazer os pilotos de corrida de volta: se seu carro é tão melhor assim, ultrapasse na pista.”
O problema seria uma equipe satélite segurar algum “concorrente” e liberar fácil pra equipe principal. Teriam até ameaças e retaliação. Ou alguém acha que uma Alpha Tauri iria ficar dificultando/segurando o Verstappen, ainda mais em circuitos travados?
Por mim, era só não usar nenhum circuito desenhado pelo Tilke que já melhoraria 50%. Pra melhorar 100% era só limitar os freios, pra ter disputa nas frenagens.
Exatamente isso, imagina final de campeonato, Hamilton x Verstappen, abu dabhi, uma merda de pista, hamilton precisa passar para ser campeão e não consegue, bottas tem “problemas” no pit stop, demora 30 segundos, sai e “roda” na saída do box, volta exatamente na frente do Vertappen. Nunca que ele passa, dai hamilton chega e acaba passando os 2, acho uma regra muito perigosa
“E Allison ainda lembra de outro ponto: ‘Isso também significa que as equipes teriam que forjar alianças umas com as outras, o que faria tudo politicamente intrigante.’ Ou seja, o time com motor Ferrari seguraria o carro da Mercedes, e assim por diante. Isso, aliás, não seria novidade. ”
Um bom exemplo dessa situação é o GP da Europa de 97, em que o Norberto Fontana, da Sauber (que tava iniciando sua parceria com a Ferrari) ficou bloqueando por um bom tempo os carros da Williams. No fim, a gente sabe que pouco adiantou, mas fica aí a lembrança
Eu mudaria o uso do DRS. Ao invés de permitir o uso dele em zonas específicas dentro da distância máxima de 1 segundo entre os carros, eu liberaria o uso por 200 segundos ao longo de uma prova, independentemente da distância que você tem em relação ao carro da frente e do trecho de pista onde você está.
Com isso os pilotos perseguidos poderiam utilizar o DRS para defender suas posições, ao mesmo tempo que os perseguidores poderiam usar o DRS para encurtar a distância, mesmo que ela estivesse acima de 1 segundo.
Boa idéia.
Mônaco viraria a procissão.
Coitada da Renault, que está sem clientes.
E a Mercedes teria menos dificuldade, fornece para quase meio grid.
E para os pilotos com motor Ferrari, não faria diferença. Só andam lá atrás.