Li um post assustador há algumas semanas: 1990 está tão longe de nós quanto 2050. E fiquei pensando se, há 30 anos, a F1 imaginava que estaria onde está. De um lado, tornando-se um negócio bilionário e tendo invadido mercados antes vistos como exóticos, de Singapura aos Emirados Árabes. De outro, ainda engatinhando nos EUA e não exatamente no centro da discussão sobre o futuro da mobilidade urbana.
A Fórmula E, obviamente, fez sua aposta pelos carros elétricos. Porém, ainda que não se discuta que eles são menos nocivos ao meio ambiente que os motores a combustão, também se sabe que eles não são tão “verdes” assim.
Os elétricos ainda não são tão potentes (nem na FE, nem nas ruas – ainda que cavalos sejam muito menos importantes se o que você quer é ir de A a B), e sua autonomia ainda é relativamente reduzida. Eles hoje servem para quem vive em grandes cidades, tanto pela velocidade, quanto pelos deslocamentos mais curtos e maiores possibilidades de recarga (muito maior em países desenvolvidos do que no Brasil, é verdade, mas a tendência é isso mudar nos próximos anos).
Mas a grande crítica é em relação ao marketing feito em torno desses carros. A indústria automobilística viu neles uma maneira de atacar as quedas nas vendas especialmente em países desenvolvidos, nos quais os mais jovens preferem não ter carros por conta da poluição, por ser um investimento ruim e pela ampla oferta dos serviços de transporte público. Do lado do poder público, são comuns especialmente nos EUA as propostas de só permitir que carros com “emissão zero” rodem nas cidades nos próximos anos.
O problema é que os carros elétricos têm, sim, emissão zero de poluentes em seus escapamentos, mas o processo de recarga usado atualmente também se utiliza de combustíveis fósseis para a produção de energia. Além disso, estudos mostram que o processo de manufatura de um carro elétrico gera de 15 a 68% mais emissões que os carros a combustão. Ou seja, exatamente de “zero”, eles não têm nada.
Isso quer dizer que o carro elétrico é mais poluente? Não. Por mais que exista essa questão da manufatura (que é neutralizada após seis a 18 meses de uso, dependendo do porte do carro), da forma como a energia é gerada e do descarte das baterias (hoje quase 100% renováveis), o carro elétrico ainda ganha em termos de sustentabilidade que o com motor a combustão. Para ser mais precisa, após 10 anos de uso, o carro elétrico vai gerar uma emissão de 30 toneladas a menos de gás carbônico que um convencional.
Mas o que a F1 tem a ver com isso? Note que, embora o motor elétrico seja melhor para o meio ambiente, ele ainda não é uma resposta totalmente convincente para os idos de 2050. É uma boa aposta de marketing no médio prazo para a indústria, e por isso a FE cresce a passos largos, mas a F1 tem de estar à frente para seguir relevante.
Não é por acaso que, a partir de 2021, a categoria contará com três das cinco fontes de energia consideradas as melhores hoje em dia: os biocombustíveis ocupam o primeiro lugar, seguidos da eletricidade, vapor (sim, há quem defenda voltar no tempo!), energia cinética e calorífica. A categoria, portanto, não está, com o motor mais termoeficiente que existe, movido a energias cinética e calorífica e que contará com biocombustíveis em breve, em um caminho completamente errado.
Mas a tecnologia que aparece em sexto lugar é a que mais intriga. Hidrogênio. Simplificando, carros movidos a água, ainda que o hidrogênio também possa alimentar as estações onde se recarregam os carros elétricos. O custo de produção atualmente é considerado muito alto, mas algumas montadoras, como a BMW, já começam a apostar nesse segmento. Talvez seja um caminho para a F-1 de 2050. E, sim, está mais perto do que parece!
7 Comments
Legal! Sobre outro tema, o Brexit trará alguma consequência à F1?
A formula E quanto performance parece irrelevante, justamente devido a potência que é importante quanto a subidas e ultrapassagens. O WEC deve em quatro ou cinco anos desenvolvimento de motor a nada de hidrogênio.
Acho o sistema hibrido com muito futuro, ainda não desenvolveu todo seu potencial e pode melhorar muito ainda. O sistema puramente elétrico é dependente de fontes que geralmente produzem muito CO2, futuramente que sabe carros feitos com “placas solares” e baterias super duráveis poderão ser viáveis. A F1 ainda vai continuar fazendo barulho por muito tempo.
Excelente post, Julianne. Queria uma opinião sua: você acha provável (ou ao menos possível) que a Fórmula 1 use álcool como combustível em um futuro próximo?
Olá Jonas! Vou tomar a liberdade de responder e peço que a Julianne me corriga caso eu escreva alguma bobeira.
A F1 já introduziu em seu regulamento para 2021 um aumento no percentual de etanol utilizado nos combustíveis para 10% (atualmente é 5%) e este percentual pode ser aumentado de forma gradual segundo o que ouvi em um Podcast da Motor Sport Magazine na qual eles entrevistam Andy Cowell que é um dos responsáveis pelo desenvolvimento das PU da Mercedes (altamente recomendável, diga-se de passagem) e uma conversão não é descartada, mas não ocorrerá do dia para a noite.
Abs!!!
Na verdade,base de hidrogênio em quatro ou cinco anos.
Ju. a Toyota estava pra lançar no mercado um carro movido a Hidrogênio.
Como qualquer produto com matriz energética diferente, o problema é o reabestecimento.