Minha janela dá vista para um canal e, nas beiradas, tem um caminhozinho que o pessoal usa para correr e andar de bicicleta, já que ele é ininterrupto por dezenas de quilômetros. Dizem que vai de Londres até Oxford, mas aí já não posso confirmar. No começo, eu criticava todo mundo que ainda estava indo e vindo. Depois comecei a comemorar por ver uma alma viva, conversava mentalmente com essas pessoas, sonhava que era eu quem estava correndo e respirando ar livre. E eu odeio correr na rua, principalmente no frio. Fazia uns 5 graus.
Isso evoluiu para um campeonato que inventei: quem vir passar um barco tem que gritar “barco” antes do outro. A disputa está acirrada, mas estou ganhando até o momento.
Não que trabalhar em casa seja um problema para mim. Faço isso há cinco anos em full time, e na verdade sempre fiz em meio período, desde que comecei a trabalhar, há muito tempo atrás. Se quiserem, aliás, posso até colocar algumas dicas por aqui. O problema é não saber quando será possível dosar o trabalho dentro de casa com a caminhada, que seja, na beira do canal. E vai demorar mais para esse dia chegar enquanto as pessoas continuarem indo e vindo e imaginando que suas prioridades individuais são maiores que o coletivo.
Mas isso acredito e espero que vocês saibam muito bem.
Depois do retorno da Austrália, em uma estranha viagem que acabou acontecendo nas duas semanas que mudaram o curso do mundo e que descrevi na minha coluna no UOL e no podcast do Gui Pereira, resolvi que o melhor seria adotar o auto-isolamento por 14 dias. Mesmo sentindo-me 100% bem, sabia que tinha estado em contato com muita gente e também sabia que o vírus demora a se manifestar e que, por isso, é tão perigoso ficar andando por aí. Agora já fazem oito dias, sigo sentindo-me bem, e permanecerei evitando qualquer contato até a crise passar aqui no Reino Unido, seguindo a determinação do governo.
Aos poucos, entre um chat e outro para me certificar que a família vai bem do outro lado do mundo, vai caindo a ficha. Serão meses difíceis para todo mundo que gera conteúdo em diversas áreas que estão paradas. Meses complicados para a grande maioria das pessoas, na verdade. E as más notícias começam a aparecer, já que patrocínios já foram cancelados e tudo vira uma bola de neve. Que ninguém sabe o tamanho que pode chegar.
Os mais pessimistas já começam a questionar até o futuro imediato da Fórmula 1. Como vocês leram no texto sobre modelos de negócio, time de F-1 não é sinônimo de reserva de caixa e, ainda que não se esteja gastando com as viagens e o desenvolvimento, também não se sabe o quão menor será a fatia do bolo dos direitos comerciais ano que vem. Afinal, quanto menos provas no calendário, menores os ganhos da Liberty, e certamente as TVs vão tentar renegociar seus contatos.
O que parece claro é que o mundo não será o mesmo depois que tudo isso passar, como falo no papo com o Gui. A única certeza é que estaremos com as mãos mais limpas para recomeçar!
Por aqui no blog, decidi focar em viagens. Já que estaremos todos trancados, segundo as determinações da OMS, quero levar vocês para passear. Serão três tipos de rotas: uma, pelas etapas que a Fórmula 1 não vai fazer, trazendo detalhes e curiosidades. Outra, pelo tempo, revisitando datas importantes da história da categoria, com vídeos para não perder o costume da velocidade. E, por fim, por textos antigos, numa viagem por conhecimento, contando os minutos até que possamos sair dessa e explorar nossos canais.
7 Comments
Obrigado, Ju! se cuida
Olá, Ju! Esses tempos realmente prometem não ser dos mais fáceis. Inclusive, a quarentena tem um custo pesado na saúde mental. O mais importante agora é se cuidar durante esse período, mantendo contato virtual com seus familiares e amigos. Espero que você consiga superar da melhor forma possível esse isolamento. Nós, como leitores assíduos do seu blog, esperamos que tudo fique bem por aí e podemos tentar, da nossa forma, te ajudar 🙂
Que tal comentar mais a fundo o “Drive to Survive”, tipo, os bastidores dos bastidores.
Linda Vista, pelo menos relaxa um pouquinho…..
Será que logo começarão a discutir a possibilidade de uma temporada 2020/2021 como a fórmula E ou o WEC?
é.. realmente o medo é uma das melhores armas para que pessoas boas abram mão de liberdades individuais. e ainda espalhem essa posição
Medo? Chamaria de razão