F1 Raio-X do GP de São Paulo – e como Hamilton passou 24 carros em 95 voltas - Julianne Cerasoli Skip to content

Raio-X do GP de São Paulo – e como Hamilton passou 24 carros em 95 voltas

LAT Images-Mercedes

O primeiro GP São Paulo ficará sempre marcado na história da Fórmula 1 como o palco de uma das maiores performances de Lewis Hamilton na carreira. E, para os brasileiros, como a corrida em que o inglês supreendeu com o gesto de carregar a bandeira no carro e no pódio, mostrando que eles também tinham uma participação em tudo o que aconteceu no sábado, quando ele, desclassificado do qualy, passou 15 carros em 24 voltas e, no domingo, mais nove, incluindo o rival Max Verstappen. Foi uma vitória que valeu muito mais do que os sete pontos que ele descontou de sua desvantagem no campeonato.

Mas como explicar que a Mercedes estivesse tão veloz, caçando, um a um, os rivais na longa zona de aceleração da Subida do Café à freada no S do Senna? E por que Max Verstappen, tomando a ponta logo de cara depois que o pole do domingo, Valtteri Bottas, deixou a embreagem escapar um pouco cedo demais, não conseguiu abrir na ponta?

A expectativa para este final de semana era de que o duelo seria equilibrado, com a Mercedes ganhando nos setores 1 e 3, e a Red Bull no segundo e mais longo trecho da pista. Porém, trocando o motor a combustão de Hamilton, a Mercedes potencializou seus ganhos nos setores que já seriam seus, e a Red Bull não conseguiu fazer os pneus dianteiros, o grande ponto fraco de seu carro, funcionarem. Com a frente do carro deslizando, os pneus se desgastaram mais do que o esperado, e o resto é história. Já faz um tempo que a Red Bull só consegue colocar seu carro na janela correta com muito calor, como foi o caso de Austin e, especialmente tendo corridas pela frente com largadas no final da tarde; isso deve ser uma preocupação em Milton Keynes.

Do lado da Mercedes, assim como no México, eles se debruçaram sobre os motivos que fizeram com que o carro não andasse bem em Interlagos em 2019, e foram em uma direção diferente no acerto.

Voltando ao Brasil, Hamilton já na quinta-feira falava em como tinha se acostumado a ser vaiado especialmente depois de começar a falar sobre racismo, e como sentia que, no Brasil, sua mensagem era mais bem compreendida. E depois lembrou que as vaias de milhares de pessoas não eram diferentes de ser importunado pelas outras crianças na época da escola. A sensação dele é a mesma, injustiça e impotência.

LAT Images-Mercedes

Após a desclassificação da sexta-feira, quando uma checagem muito provavelmente feita apenas como resposta à queixa da Red Bull de que a lâmina inferior da asa traseira da Mercedes estava se movimentando a partir de 260km/h, a asa somente do carro de Hamilton não passou pelo teste, por 0.2mm, apenas do lado direito. Era, claro, uma falha estrutural da peça, e não uma tentativa de ganhar vantagem. Mas a FIA justificou que a equipe deveria ter visto esta falha, como a Red Bull fez no México (e teve a permissão para reforçá-la) e anulou a primeira colocação de Hamilton. 

Foi então que essa sensação de injustiça e impotência se espalhou pela Mercedes.

Na pista, o time vivia dois extremos: com as dificuldades da Red Bull e seu motor novo (o que, no caso da Mercedes, dá muito mais potência do que no caso dos rivais, porque o motor alemão perde muito rendimento ao longo de seu ciclo de vida), Hamilton tinha o conjunto mais veloz do final de semana. Mas largaria em último na sprint, já sabendo que pagaria cinco posições de punição para o domingo.

Seu companheiro, Bottas, pulou na ponta no sábado e venceu, mas ficou a impressão de que Verstappen só não o atacou mais no final porque estava pensando no campeonato.

A corrida do domingo começou perfeita para a Red Bull, com Verstappen tomando a ponta e Sergio Perez aproveitando que Bottas chegou a sair da pista para tomar o segundo posto. Enquanto Hamilton, que largou em décimo após escalar do 20º para o quinto lugar no sábado, e cumprir a punição de cinco posições pelo motor novo, lidaria com o tráfego, eles poderiam abrir na frente.

O problema é que Hamilton não ficou preso no tráfego, passou quatro carros na primeira volta, uma Ferrari na segunda, outra na terceira e viu Bottas abrir na quarta. Em cinco voltas, ele era o terceiro, com Verstappen tendo aberto apenas 4s5, diferença que ficaria quase nula após um Safety Car causado por uma manobra otimista de Yuki Tsunoda em Lance Stroll.

O Safety Car logo foi seguido por um período de VSC, e Hamilton só conseguiu se livrar de Perez na volta 19, quando Verstappen tinha 3s7 de vantagem. A velocidade do inglês em relação ao holandês não apareceu logo de cara, já que ambos estavam com os pneus médios, com os quais a Red Bull costuma se dar melhor. Era só uma questão de fazer voltas suficientes para não ter de sofrer com stints tão longos com os duros. Então, assim que foi aberto um espaço atrás, Hamilton parou na volta 26, com a Red Bull respondendo na volta seguinte.

Com o undercut, Hamilton voltou mais próximo, a 1s2 de Verstappen, impedindo que o holandês tivesse tempo de preparar bem seus pneus, enquanto, mais atrás, Bottas tinha parado durante um período de VSC para superar Perez.

Como a diferença entre os líderes permanecia estável, mas perigosa porque, se Hamilton parasse antes, fatalmente emergeria em primeiro, Verstappen passou a cobrar a equipe para que o chamasse primeiro para os boxes, temendo levar um undercut. E ele foi chamado até antes de se abrir um espaço claro no pelotão, na volta 40, com 31 para o final.

A Mercedes não respondeu logo em seguida, já tendo percebido que sabia cuidar melhor dos pneus duros e tentando criar um offset, para que Hamilton passasse Verstappen na pista. Ele parou três voltas depois.

Verstappen até conseguia ter uma boa saída do Café para evitar um ataque de Hamilton mas, a cada volta que fazia isso, demandava mais de seus pneus. O fato de um carro conseguir seguir o outro de perto por muitas voltas indica que ele é o conjunto mais rápido e, na volta 48, Hamilton fez o primeiro ataque, focando em sair melhor do S do Senna para ir para cima na reta oposta. Os dois saem da pista e Verstappen se mantém à frente.

Levaria outras 10 voltas para Hamilton atacar novamente, de maneira semelhante, e tomar a liderança. Sem ter armas para revidar, Verstappen focou em economizar seu motor e garantir o segundo lugar, que ainda o mantém na liderança do campeonato. Seria só uma questão de trocar o motor e também se encher de potência para as três últimas corridas? Não é tão simples assim, já que um motor Honda novo não daria a mesma vantagem, ao mesmo tempo em que o holandês aposta que não demorará para Hamilton começar a perder potência.

Com Bottas em terceiro e Perez em quarto, as Ferrari ficaram com a quinta e sexta colocações, abrindo em relação à McLaren, que viu Lando Norris sair de combate após um toque com Carlos Sainz logo na largada, e Daniel Ricciardo não ter ritmo suficiente para ameaçar e, depois, ter uma perda de potência e abandonar.

Na luta pelo sétimo lugar, Pierre Gasly teve de passar as Alpine, que fizeram apenas uma parada, na pista, mas ao menos os franceses saíram de Interlagos com o sétimo e oitavo lugares, e Norris ficou com o último posto nos pontos.

3 Comments

  1. Ótimo post.
    Interessante que quase não aconteceu, na temporada, um duelo do Perez e o Bottas. E nesta corrida o encontro foi só no começo, o VSC garantiu a ultrapassagem na parada do finlandês.
    Não me lembro de outra disputa deles, talvez tenha acontecido mais uma ou duas vezes.
    Quando um ia bem, o outro ia mal.
    Será que nós ficaram devendo?

  2. Achei curioso que só a Alpine arriscou uma parada. Sei que os compostos mudam de um ano, bem como cada tem uma história diferente, mas Sainz (2019) e Raikkonen (2014) são exemplos de pilotos que ganharam posições com essa tática de uma parada em Interlagos.

    Para uma corrida com SC e VSC, outros poderiam arriscar mais.

    E o Tsunoda, salvo engano, foi o único a botar os macios na corrida feature, ainda mais na largada. “Kamikaze” total, rs

  3. Provavelmente esta corrida e este fim-de-semana, já que também teve a corrida sprint, foi o melhor de sempre de Lewis Hamilton na F1. O piloto britânico esteve imparável, com uma confiança incrível e ninguém o parou.
    Quem viu este Grande Prémio de São Paulo nunca mais se vai esquecer, à semelhança dos Grandes Prémios do Brasil de 1991 e 1993.

    cumprimentos

    visitem: https://estrelasf1.blogspot.com/


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