F1 Raio-X do GP do Bahrein - Julianne Cerasoli Skip to content

Raio-X do GP do Bahrein

A estreia do novo regulamento da Fórmula 1 não poderia ter sido melhor para um time que não sabia o que era começar uma temporada com uma dobradinha desde 2010. A Ferrari teve o melhor conjunto no GP do Bahrein, com um carro bem equilibrado, rápido nas retas e, mais importante, leve com os pneus. Mas a dobradinha só aconteceu porque o único time que poderia tirar a vitória ferrarista, a Red Bull, teve problemas relacionados ao sistema de combustível. E a Mercedes viu o tamanho da montanha que terá de escalar.

Haas e Alfa Romeo foram outros destaques positivos, enquanto McLaren e Aston Martin se arrastaram junto da Williams nas últimas posições. O início dessa nova era na F1 mostrou o nível de preparação de cada equipe e foi influenciado pelas restrições de desenvolvimento aerodinâmico, já que os carros ainda têm mais horas de simulação do que de pista a esta altura do campeonato.

@Scuderia Ferrari Press Office

Entre os grandes, ninguém chegou mais bem preparado para a temporada que a Ferrari. Eles tiveram mais tempo de túnel de vento e CFD e, de quebra, teve testes sem quaisquer problemas, completando todo o seu programa. 

Isso fez a diferença quando a Red Bull viu os motores dos dois carros pararem de funcionar com poucas voltas para o final da prova. As causas ainda não foram esclarecidas pela equipe, mas tudo indica que faltou fazer uma simulação de corrida completa nos testes, levando o tanque ao seu limite. 

Isso porque outros times perceberam que, como o combustível deste ano, com 10% de etanol, opera em uma temperatura mais alta, adaptações precisam ser feitas para evitar a cavitação, um fenômeno relacionado à temperatura que causa danos nas bombas. Então havia combustível (pelo que apurei, 13kg no carro de Verstappen), mas o motor não conseguia ser alimentado quando o tanque estava quase vazio.

Não que este tenha sido o único problema da Red Bull. Verstappen (e muitos outros pilotos) sofreu com superaquecimento de freios. E, depois da terceira parada nos boxes, ele começou a sentir o volante puxando. É possível que algo tenha quebrado justamente na parada.

Não que estes tenham sido os motivos da vitória da Ferrari. Largado da pole, Charles Leclerc só teve a vitória realmente ameaçada logo depois da primeira rodada de pit stops, quando ele e Verstappen tiveram um duelo por três voltas.

O DRS está mais poderoso nesta temporada porque a asa traseira é maior, então logo os pilotos perceberam que não seria uma desvantagem estar atrás no ponto de detecção da segunda zona de DRS. Foi então que Leclerc começou a frear antes para deixar Verstappen passar, e o holandês também passou a tentar ficar atrás dele. Mas, no final das contas, o monegasco permaneceu na ponta para vencer.

Novos carros forçam mais os pneus que o esperado

Essa seria a única grande chance de Verstappen porque o rendimento da Ferrari com o pneu médio foi ligeiramente superior. A corrida começou com todos, menos as McLaren, com os pneus macios, e já sofrendo muito desgaste.

Na volta 11, os primeiros carros começaram a aparecer nos boxes. O primeiro deles, inclusive, a Mercedes de Lewis Hamilton, naquele momento em quinto lugar e perdendo 1s por volta em relação aos líderes. A Mercedes fez uma opção inesperada pelos duros, e o inglês sofreu com falta de aderência na saída dos boxes. Mesmo assim, ele logo passou a virar 2s por volta mais rápido do que vinha conseguindo anteriormente, sinal que o undercut tinha grande potencial.

Assim, a Red Bull chamou Verstappen antecipadamente, na volta 14, quando ele estava a menos de 4s de Leclerc. Mesmo a Ferrari respondendo na volta seguinte, eles saíram lado a lado, tamanha a vantagem da borracha mais nova.

Estes novos carros são cerca de 50kg mais pesados, as suspensões são mais rudimentares por força das regras, o porpoising que muitos carros vêm tendo é outro fator e as saídas de frente nas curvas de baixas não ajudam. Tudo isso coloca pressão nos pneus, que já sofrem normalmente no Bahrein. Daí o nível de degradação que foi visto na primeira etapa.

Dentro deste cenário, a opção da Ferrari de colocar mais asa no carro mostrou acertada, pois isso deu mais estabilidade. A diferença começou a ficar mais clara quando os ponteiros estavam com pneus médios, com os quais Leclerc estava mais sob controle. Tanto, que quando a Red Bull novamente antecipou a parada de Verstappen para tentar o undercut, na volta 30, ele já não voltou tão perto do líder.

A Red Bull ainda tentaria mais uma cartada, apostando em uma degradação alta no final e parando Verstappen uma terceira vez. A Ferrari, desta vez, não respondeu, avaliando que teria vantagem suficiente e que Leclerc estava administrando bem seus pneus para ir tranquilo até o final. Não vimos como essa história terminaria porque Pierre Gasly teve um problema no ERS-K, o que gerou um SC que deu, efetivamente, uma parada quase de graça para o líder.

Mercedes tem noite de limitação de danos

Até a relargada, a sete voltas do fim, a corrida tinha uma Ferrari, uma Red Bull, outra Ferrari, de Carlos Sainz, que vem tendo mais dificuldades de se adaptar com o carro novo que o companheiro, e a segunda Red Bull, com Perez passando boa parte da prova a cerca de 3s do espanhol. Mas os problemas de combustível das duas Red Bull acabaram promovendo Lewis Hamilton ao pódio.

O inglês teve uma noite solitária no Bahrein. Mas nem correndo sozinho teve vida mais fácil com os pneus, que são um problema da Mercedes em função do desequilíbrio do carro e do porpoising. Quando o SC foi acionado, ele estava 76s atrás do líder, com uma parada a mais. Mas mesmo na comparação com Verstappen, que já tinha parado três vezes, Hamilton estava 51s atrás após 45 voltas. E mais de 10s à frente de seu novo companheiro Russell, que ao menos conseguiu se recuperar da classificação ruim.

Eles são claramente a terceira equipe no momento, à frente da Haas e Alfa Romeo logo em seguida. Não coincidentemente, são equipes que tiveram mais tempo de túnel de vento e CFD em relação às outras. E também são equipes que usam motor Ferrari, que claramente deu um salto importante antes do congelamento.

Isso fez com que dois pilotos se destacassem no pelotão. Kevin Magnussen bem que correu com ar limpo o tempo todo, o que ajuda a poupar os pneus, mas não deixa de impressionar que ele tenha levado a boa Haas ao quinto lugar mesmo com pouca experiência no carro. É claro que andar no meio do pelotão não ajudou Mick Schumacher, mas era uma corrida, principalmente depois do abandono de três pilotos que estavam no top 10, para a equipe norte-americana pontuar com os dois pilotos.

Quem aproveitou essa chance foi Guanyu Zhou. Ele caiu para último na largada, após ambas as Alfas terem problemas de embreagem, errou a primeira curva, mas não se desesperou. Foi passando um a um seus adversários e, na volta 18, já estava andando junto com o companheiro Valtteri Bottas em 13º. Ficou na mesma balada do finlandês até os dois pararem juntos durante o SC. Como ele teve de esperar, voltou bem atrás, e mesmo assim marcou um ponto na estreia.

4 Comments

  1. Excelente análise! Parabéns!

  2. Interessante mesmo. No início pareceu um erro bobo do Pérez mas agora realmente deu pra entender que a equipe talvez tenha bobeado no teste e confiou demais. Talvez tivesse tido esse problema no teste e evitado na corrida.

  3. Ju…
    Farei a pergunta aqui, embora saiba que será difícil responder, mas:

    – No tempo que (o motor da) Ferrari ficou de castigo em 2.020, a equipe pode trabalhar no seu motor para 2022?
    – No castigo que sofreu (o motor da) Ferrari, as equipes que recebiam o motor também foram “castigadas”, pois foi o motor o “condenado”?

    Abraços Ju e acho que todos sentimos sua falta cá cobertura no rádio!

    • Julianne Cerasoli

      O castigo foi não poder usar o sistema que injetava mais combustível do que deveria no motor. Atingiu todas. E o desenvolvimento continuou normalmente


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