Há quem aposte que acompanhar o circo da Fórmula 1 pelos quatro cantos do mundo nas coberturas jornalísticas seja o trabalho dos sonhos, mas desafios não faltam para quem embarca nessa aventura – e tem muita história para contar.
O TotalRace abriu o espaço para que os leitores tirassem suas dúvidas sobre como é a cobertura e o resultado foi um bate-papo entre os jornalistas Felipe Motta, Luis Fernando Ramos e Julianne Cerasoli sobre os bastidores das notícias, viagens e, como não poderia deixar de ser, a lista dos pilotos mais “gente fina” – e o indiscutível grande mala do grid.
Confira alguns trechos desta edição especial do podcast “Credencial” abaixo e confira o programa inteiro aqui:
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Gustavo Querodia Tarelow: Gostaria de saber qual o piloto mais antipático e o que proporcionou melhores entrevistas a vocês nesses anos de cobertura da F-1.
Felipe Motta: Gosto muito do Vettel, do Button, o Kobayashi é uma figura. Felipe Massa também é um cara legal. O Alonso eu não incluiria porque, apesar de ser muito profissional, é uma pessoa difícil. Uma coisa eu respeito nele: é como o [ex-goleiro] Marcos, do Palmeiras. Quando o time ia bem, ele falava, e quando as coisas estavam péssimas, também não fugia. A maioria dos jogadores vai direto para o vestiário em uma situação dessa.
Já o mais mala felizmente não estará no grid neste ano: Paul Di Resta. O Rosberg tem seus bons e maus momentos, mas o Di Resta nunca teve. E muitos especulam que a o motivo para a saída dele – até porque os resultados de pista não foram tão ruins – é o relacionamento. Motivo da demissão: ‘malice’.
Julianne Cerasoli: Acredito que esse conceito de ser legal para nós tem muito a ver com os conteúdos das entrevistas, com dizer coisas interessantes e, de certa forma, dar manchetes para nós. Por isso eu citaria pilotos como Pastor Maldonado e Romain Grosjean, que prestam atenção no que você está perguntando e tentam fugir do lugar comum nas respostas.
Jopa: Com o passar do tempo, a experiência e o conhecimento mais a fundo dos personagens, pilotos, técnicos e engenheiros, dá para “ler” nas expressões, no semblante, na linguagem corporal e compor com as respostas verbalizadas uma impressão diferente do que foi dito?
Luis Fernando Ramos: É muito diferente estar lá. Por exemplo, o Massa nos dias de Ferrari: trata-se de uma equipe que limita muito o que os pilotos vão dizer. No caso do Felipe, apesar do discurso estar muito afinado com o time, a expressão dele dizia muito mais do que ele falava. Outro exemplo é o Vettel, um piloto que adora fazer gracinhas nas entrevistas. Já vi coisas que eles disse só para fazer algum repórter rir na hora ser publicado como se fosse alguma provocação. Por vezes, foi algum comentário infeliz.
Edu Bassan: Qual a rotina da equipe nos fins de semana de um Grande Prêmio? Minha curiosidade é saber como é normalmente o cronograma da equipe, desde acordar, chegar no autódromo, apurar notícias, preparar matérias, entrar ao vivo na rádio, horário de almoço etc., até a hora de dormir.
Luis Fernando Ramos: A rotina de um dia normal de GP é acordar, ir para a pista, trabalhar o dia inteiro, procurar um lugar para comer e ir dormir. Pegando como exemplo uma prova na Europa, chegamos ao circuito cerca de uma hora antes do início da primeira sessão de treinos do dia, às 10 ou 11h da manhã. Depois tem a sessão da tarde, colhemos as entrevistas e produzimos o material, saindo da pista por volta das 21h.
Felipe Motta: A gente aprende a trabalhar melhor o tempo porque algo que acontece muito é o acúmulo de cansaço, que faz com que, em algum momento da temporada, você fique doente. Temos de ter a sensibilidade de saber o dia em que o bicho vai pegar e quando guardar a energia. Os dias mais cansativos são a quinta-feira, dia reservado às entrevistas, e o domingo, que é um dia muito físico.
Cristiano Seixas: Qual corrida deu mais satisfação em cobrir in loco?
Luis Fernando Ramos: O GP do Brasil de 2008 foi muito marcante por tudo o que envolveu aquela prova, com a chance do Massa ser campeão em casa. E pela maneira como tudo aconteceu, desde a largada atrasada pela chuva que caiu quando os pilotos já estavam no grid, depois secou e choveu de novo e houve aquele final apoteótico.
Outra corrida que me marcou foi o GP de Cingapura de 2008. Ela se tornou histórica [quando Nelsinho Piquet denunciou que a vitória de Fernando Alonso havia sido arranjada] um ano depois, mas desde o primeiro momento achamos tudo o que acontecera muito estranho. A prova terminou umas 23h e eu e o Felipe saímos 10h da manhã e o cara que tinha a chave da sala de imprensa estava dormindo. Sobramos apenas nós dois.
Felipe Motta: Acho que toda decisão de título é especial, como Brasil 2008 ou Abu Dhabi 2010. Mas, citando duas provas avulsas, lembro de duas em Valência. Em 2012, confesso que meu olho lacrimejou com aquela vitória do Alonso largando em 11º e parando o carro para celebrar junto de sua torcida. Aquilo foi lindo. E em 2009, quando o Rubinho venceu logo na prova seguinte da demissão do Nelsinho e do acidente do Massa. Foi mágico. Rubinho estava tomando pau do Button, desacreditado, e guiou muito naquele final de semana.
Julianne Cerasoli: Uma prova que me marcou foi o GP da Espanha de 2012. Primeiro, pela vitória da Williams de Maldonado, que de uma hora para a outra andou muito naquele final de semana e justamente em um circuito no qual o melhor carro sempre ganha. Era difícil de explicar. E, na comemoração, o box da equipe pega fogo. Eu estava na entrevista do Stefano Domenicali e os telões do motorhome começaram a mostrar a fumaça. Ele, com toda a calma do mundo, disse: ‘e vocês ainda dizem que nós, italianos, é que somos fogosos’. Deu cinco segundos e todos saíram correndo para ver o que estava acontecendo.
10 Comments
Bom dia pessoal. Uma sugestão, por que não publicam os podcasts do Credencial na AppStore?! Vcs produzem um material de primeira e, lá, poderiam conseguir uma abrangência ainda maior. Abraço a todos.
É uma boa ideia!
Vcs tinham que fazer um App do TR.
Noticias, twitter, jogos, videos…
Sonhar é grátis…
Apoiado! Apoiado! Apoiado!
Abs
Obrigado pela atenção, Julianne.
Olá Pessoal,
Que bom ouvi-los novamente no Credencial, que foi muito bom. O Credencial é um programa gostoso de ouvir, que o tempo passa sem perceber. Até poderia ter outro Credencial, após os últimos treinos no Bahrein, fazendo um preparatório para a 1ª corrida do ano.
Abraços a todos.
Parabéns aos 3 pelo programa , ficou muito bom, nos fez sentir muito próximos do trabalho que vcs realizam e boa sorte neste ano com a cobertura que irá logo começar.
Ficou mesmo muito legal esse diferente Credencial. Agora sabemos mais um pouquinho do universo dos jornalistas e também do esporte. Vocês formam uma equipe de primeira e é um prazer pra gente acompanhar esse trabalho tão interessante. Parabéns ao time e uma boa temporada a todos, jornalistas e fãs!!! Abraços!
Acabei não mandando pergunta, mas acompanhei o Credencial. Ótimo trabalho!
só consegui ouvir o programa agora…
caramba, ficou muito legal!
muito obrigado e parabéns pela idéia Julianne!
muito divertido o Ico comentando que ele fica mais simpático aos olhos do pessoal da sala de imprensa com a presença da Julianne… hehehe
na verdade isso até tem relação com o fato de que o machismo existe sim no meio da imprensa escrita. os tempos podem mudar, mas que demora, demora…