Foi assim há duas semanas, no Japão, e a história se repetirá neste fim de semana, na Rússia: a chuva – e, no caso de Sochi, aliada a um improvável vazamento de diesel de um caminhão de serviço – praticamente inutilizou os treinos livres. Assim, pilotos e equipes terão uma hora de pista para preparar seus carros para a classificação e a corrida, uma vez que a maior parte das configurações não pode ser alterada do sábado para o domingo.
E todos vão sobreviver.
É claro que esse tipo de situação abre a porta para algumas surpresas – ainda mais em um circuito do qual se tem poucas informações, utilizado apenas pela segunda vez e, neste ano, com compostos de pneus diferentes. Mas nada que transforme um carro bom em uma abóbora de um dia para o outro.
O nível de simulação da F-1 é tão alto hoje em dia que os carros chegam praticamente acertados ao GP. Os engenheiros falam em uma precisão próxima a 98% de toda a configuração, número que depende do conhecimento prévio da pista e dos compostos. Basicamente, a sexta-feira é utilizada para comprovar esses dados e avaliar a durabilidade dos pneus na interação com as condições de asfalto e temperatura encontradas. E atender a uma ou outra preferência de cada piloto.
Ou seja, a F-1 não precisa das sextas-feiras de treinos livres. Principalmente em tempos de restrições de motores, câmbios e pneus, elas só acabam servindo para desgastar a imagem da categoria. Afinal, quando correm com normalidade, os pilotos são uníssonos no discurso de ‘é só sexta-feira, não significa nada, estudaremos os dados à noite para melhorar o carro’; quando são disputadas em condições nas quais não interessa às equipes colocarem seus carros na pista, como em etapas em que chove na sexta e a expectativa é de sol para o resto do final de semana – exemplo tanto do Japão, quanto da Rússia – são horas de um tipo de exposição que não faz favor nenhum ao esporte. Tanto, que a notícia após os treinos livres em Sochi foi a cochilada de Felipe Massa em seu carro.
É fato que os treinos livres são utilizados para testar novas peças, mas isso é prejudicado justamente pelas restrições do regulamento. O mais adequado seria alocar dias específicos para isso em circuitos-chave para se medir a performance, como Barcelona ou Silverstone.
Usar a sexta-feira para entrevistas e eventos que promovam verdadeiramente o esporte – o que, hoje, acontecem às quintas – talvez fosse mais rentável. Porque em promover o que tem de ruim, a F-1 tem se superado uma etapa atrás da outra.
1 Comment
Taí uma coisa que o Grupo de Estratégia (ou outro mais específico, se houver) poderia pensar… sim, é estratégico pensar na validade dos treinos do ponto de vista técnico, mas também do ponto de vista financeiro. O marketing se encarrega de aproveitar melhor o tempo livre na sexta de todos e os técnicos aproveitam o sábado pra trabalhar de verdade no ajuste dos carros. Mais uma vez, ótimo post pra reflexão, Julianne.