F1 Talento, relacionamento, sorte: Os 3 pilares para um piloto chegar na F-1 - Julianne Cerasoli Skip to content

Talento, relacionamento, sorte: Os 3 pilares para um piloto chegar na F-1

Sim, esses são Bianchi e Leclerc

No último post falei sobre aquele que tem sido o último passo dos pilotos para chegar à F-1, todavia muita água tem de passar por debaixo da ponte antes do menino promissor do kart ser contratado por um time da categoria. Mas o que vai fazer a diferença entre quem chega e quem fica pelo caminho?

A resposta mais rabugenta é “dinheiro”. Porém, sabemos que até a Fórmula 1 está cheia de histórias de pilotos que não nasceram em berço de ouro e que, na verdade, os Lance Stroll da vida são raridade. Para eles, foi o apoio especialmente de montadoras no momento crítico da transição entre o kart e os carros de fórmula que fez a diferença. Então a pergunta é, na verdade, como conquistar esse apoio?

Conversando com quem é do ramo entre empresários e equipes, cheguei a um tripé: talento, relacionamento e sorte. Ou seja, não é uma matemática fácil de se controlar ou equacionar.

Embora muita gente com memória curta diga que “hoje o talento não conta” e coisas do tipo, não é o que a história da maioria dos pilotos do grid conta. Desde Raikkonen, Hamilton, Kubica, passando por Vettel e chegando a Leclerc, Ocon, Gasly, etc.: eram todos meninos de classe média ou média-baixa (e sinto dizer aos que estão na classe média e se sentem ricos no Brasil que esse não é bem o caso). Todos eles chamaram a atenção no kart e, se não o tivessem feito, não teriam seguido na carreira por falta de patrocínio.

São histórias de superação: o pai de Lewis, que chegou a ter três empregos para sustentar a família e a carreira do filho, procurava o piloto mais rápido da pista, via onde ele freava e parava alguns passos à frente. Era ali onde Lewis tinha que frear, com seu kart de segunda mão, motor usado e pneus que tinham sido descartados pelos demais, para ganhar a corrida. E foi assim que ele se tornou um especialista em freadas e aprendeu a contornar os problemas do equipamento, foi ganhando corridas e patrocinadores pequenos até fechar com a McLaren aos 13 anos.

Ocon tem uma história até mais dramática: em determinado momento, seus pais venderam a casa onde moravam, compraram uma caravan e moraram dentro dela junto do cachorro da família e do equipamento de kart por três anos, indo de corrida a corrida pela Europa. Até o menino chamar a atenção de um time italiano e, depois, do programa da Gravity.

Ou seja, o talento faz diferença sim e acredito também que as empresas entendam que esses pilotos que conviveram com a pressão de ganhar tudo sem os melhores equipamentos para compensarem a falta de grana têm aquele algo a mais na hora em que a situação se complica.

Os casos de Hamilton e Ocon são de pilotos que vieram mesmo do nada. Mas você pode se beneficiar de conhecer as pessoas certas. Foi o caso de Leclerc, cujo pai era muito amigo do pai de Bianchi. Jules ganhou tudo em sua época de kart, era considerado um fenômeno, e por isso passou a ser empresariado por Nicolas Todt. E depois apresentou Leclerc a Todt, que acabou se interessando pelo menino. A partir daí, o novo piloto da Ferrari só teve de se preocupar com a pilotagem. O financiamento da carreira estava garantido.

Esse é um exemplo de relacionamento ajudando na carreira, mas não da forma mais importante que isso deve acontecer. Cansei de ver pilotos sendo queimados dentro de categorias pela sua forma de trabalhar não agradar os membros da equipe. Isso geralmente começa quando o piloto entra em parafuso porque está sendo batido pelo companheiro e passa a ver “fantasmas”, acha que o time está o prejudicando.

Ouvi uma história de um piloto que começou a desconfiar que a equipe estava dando equipamento melhor para seu companheiro, na GP2. Eles deram ao companheiro, um tal de Hamilton, o carro em um teste em Silverstone, e ele foi 0s4 mais rápido. Foi o fim de seu sonho de chegar à F-1. Então estar constantemente aprendendo e demonstrar evolução à equipe também conta.

Mas e se, mesmo com tudo isso, o piloto simplesmente não vingar? Alex Albon, por exemplo, já tinha desistido da F-1 quando recebeu um chamado de última hora justamente do homem que tinha lhe fechado as portas anos antes, Helmut Marko. O que dizer de Gasly, então, que estava “perdido”, segundo suas próprias palavras, no Japão, foi chamado no meio do ano retrasado para estrear pela Toro Rosso e hoje se preparar para estrear na Red Bull? Quem é do ramo pode tentar gerenciar tudo, mas é vida é mesmo cheia do imponderável. Desculpe decepcionar quem chegou até aqui mas não, não existe receita de bolo para chegar à F-1. Mas que a história de que talento não conta é balela.

6 Comments

  1. Os casos em que os caras eram ricos e com pouco talento tiveram passagem efêmera na F1, vamos ver o Stroll esse ano com um equipamento muito bom.

  2. Olá Julianne!
    Ótimo texto, como sempre para os leitores do blog.
    Se analisarmos os últimos 20 anos de F1, mais ou menos, veremos que realmente os ricaços são raros no grid. Só consigo me lembrar de mais dois:
    Pastor Maldonado e Marcus Ericson.
    Fora eles não me lembro de mais nenhum ricaço no grid.
    Creio que essa questão do talento do piloto é mais pod dois fatos, um geral e outro específico do Brasil. O geral é as pessoas subestimarem o talento alheio como por exemplo Jenson Button qie muitos diziam ser um piloto mediano para bom, mas foi o único companheiro de equipe a bater Hamilton até o Nico Rosberg dar tudo de si (e inclusive se aposentar) e ser campeão em 2016. O fator específico do Brasil é brasileiro só achar bom quem está vencendo, se não tem título mundial o cara é ruim, pros tupiniquins é simples assim (Senna e Piquet acostumou mal o povo brasileiro).
    Uma coisa que também atrapalha os pilotos é a falta de competitividade no esporte, que o diga Alonso um dos maiores talentos que passaram na F1, mas com aquela McLata-Honda (como eu queria um trocadilho pra Honda!) se despediu da F1 sem conquistar um pódio. Se as regras forem na direção de aproximar mais o grid, com toda certeza veremos talentos como LeClerc e Occon surpreendendo os grandes do grid.
    Falando um pouco dessa competividade, seria interessante uma postagem sobre a forma do grid atual, pois temos as montadoras, as “equipes satélites” de montadoras e Williams e McLaren “perdidas” por serem construtores independentes.
    Grande abraço a todos do Blog!

    • Nato, onde você colocaria a Red Bull e Toro Rosso, na sua “forma do grid atual”? Vejo a Red Bull no grupo das montadoras, mas ela não é uma. E a Toro Rosso é uma satélite sim, mas da Red Bull ou da Honda? Ah! e não me venha com a Red Bull é a equipe da Honda, pois até o ano passado era *client* da Renault, OK? ;~)

      • Oi Muguelo!
        Colocaria a Red Bull como montadora, a equipe tem orçamento e status de montadora, vale lembrar que é uma das que recebe o bônus de serviço prestado à F1.
        A Toro Rosso é satélite da Red Bull sem dúvida alguma.
        O lance é que a Red Bull faz com sucesso o que a McLaren tenta fazer:
        Conseguir uma montadora dando apoio na parte de motor. Por isso eles pularam fora da Renault assim que puderam, pois sabiam que os franceses apoiariam muito à equipe própria do que a eles, ainda mais depois de terem tentado se livrar da Renault de todas as formas possíveis.
        Grande abraço cara!
        Grande abraço a todos do Blog!

  3. Julianne,
    sugestão para um artigo sobre os brasileiros que chegaram à F-1.
    “Naqueles” tempos e atuais.
    Abraços

    • Como diria meu professor da faculdade, “isso não é uma pauta, é uma enciclopédia!” (sim, ele era bem grosso e morríamos de medo dele). Mas que daria um bom livro, isso sim, até porque são histórias diferentes entre si, é difícil ver um padrão que sobrevive por tanto tempo.


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