Lá nos idos de 2010, eu comecei um blog totalmente independente. Minha ideia era escrever coisas que eu gostaria de encontrar na internet, mas não conseguia. E não é que tinha mais gente com a mesma “sede” que a minha? Não demorou para o Faster F1 ser notado por profissionais da área e, no final do ano, Luis Fernando Ramos, o Ico, me convidou para escrever um texto no blog dele. E logo depois ele e o Felipe Motta me chamaram para fazer parte do time do TotalRace. Quase dez anos depois, chegou a hora de eu retribuir. Selecionei 12 textos entre as dezenas que me mandaram e espero que curtam o material que vai ser publicado até meados de janeiro por aqui.
Por Arthur Marques
O automobilismo não é exatamente um campeão de popularidade com os produtores de
cinema de Hollywood. Além das questões como os custos de produção envolvidos, em
geral esportes que possuem maior identidade com os EUA, são escolhidos pelos produtores
dos grandes estúdios.
Porém, vez ou outra o esporte a motor é retratado nas telonas de cinema, produzindo obras
que cativam os apaixonados pelo esporte. No passado tivemos Grand Prix (1966), estrelado
por James Garner, e o filme As 24 Horas de Le Mans (1971) com Steve McQueen como
ator principal. Rush (2013) foi o último filme em que o automobilismo foi representado nas
telonas. O filme vem contando a histórica rivalidade entre Niki Lauda e James Hunt,
representados por Daniel Bruhl e Chris Hemsworth.
Mais recentemente, o filme Ford vs. Ferrari, que contou a história do lendário Carroll Shelby, responsável cenário o desenvolvimento do icônico Ford GT40. A produção dirigida por James Mangold conta com nomes como Matt Damon e Christian Bale em seu elenco.
Aproveitando o lançamento do filme, e a saudade que os amantes da Fórmula 1 sentem
desde o lançamento de Rush, nós escolhemos aqui 3 histórias da Fórmula 1 que são dignas
de virarem filme.
A rivalidade entre Senna x Prost
Uma das maiores rivalidades da história do esporte, e provavelmente a maior já
vista na Fórmula 1. Senna x Prost protagonizaram em pistas ao redor do mundo, no final
dos anos 80 e começo dos 90, cenas dignas das maiores telas de cinema do mundo. Com
direito a finais felizes e tristes (dependendo de para quem você torce), cenas de tensão,
discussões e brigas, a rivalidade entre ambos mudou a história e os rumos da Fórmula 1,
aumentando muito a sua audiência global.
Essa história é tão rica, e contém capítulos tão bons, que poderia ser escrito em formato de
trilogia (no melhor estilo O Senhor dos Anéis). Uma primeira parte retratando um Alain Prost
já consagrado, e bicampeão do mundo na McLaren. Em paralelo a história de um certo
Ayrton Senna, lutando para mostrar o seu potencial, e conseguir um lugar em uma grande
equipe e lutar pelo seu sonho de ser campeão na Fórmula 1.
O período em que ambos foram companheiros de equipe na McLaren merece um filme à
parte. Aqui, podemos ver Senna recebendo sua grande oportunidade de mostrar o seu
potencial. Em contraste, temos Prost vendo sua posição na equipe ameaçada pelo jovem
talento e suas ambições. O resultado já é conhecido, tendo cada um levado um título e
ambos arrancado os poucos fios de cabelo existentes na cabeça de Ron Dennis. As
histórias desse período marcaram toda uma geração de fãs da Fórmula 1, como a polêmica
decisão do campeonato de 1989, que marcaria o final deste segundo filme.
E no que seria último filme dessa franquia, a história se inicia com a ida de Prost para a
Ferrari, então maior rival da McLaren à época. Com um enredo passando pela acirrada
temporada de 1990 e retratando o acidente entre ambos em Suzuka, o que deu o
bicampeonato à Senna. Em seguida o ano 1991, quando Senna iguala o número de títulos
de seu ex-companheiro de equipe, e antigo ídolo. Por fim, o ano sabático de Prost, além do
sofrimento de Senna com uma temporada pouco competitiva da McLaren em 1992; o
retorno do Professor na Williams (e com um detalhe: vetando a presença de Senna) para
ser tetracampeão, com direito à reconciliação entre ambos no final da temporada.
Uma trilogia e tanto para os amantes do automobilismo se jogarem na pipoca, e nas salas
de cinema no mundo todo. Difícil somente vai ser achar um ator que para interpretar o Alain
Prost.
A biografia de Colin Chapman
Não é exagero nenhum dizer para um amante do automobilismo que Colin Chapman está
para a Fórmula 1, assim como Steve Jobs está para a tecnologia. O projetista foi um gênio
criativo, inovador e ousado, que revolucionou a construção dos carros de Fórmula 1 nos
anos 60, 70 e começo dos anos 80, fazendo com que a Lotus se tornasse uma das grandes
equipes da época.
Chapman introduziu à categoria conceitos inovadores de aerodinâmica. Se hoje nós
conhecemos os carros em sua concepção com aerofólios, deve-se à ele. Suas ideias são
atemporais, como o efeito-solo. Uma inovação aerodinâmica introduzida em 1977 no Lotus
79, e que deverá ser adotada pelo regulamento nos carros da Fórmula 1 em 2021.
A Lotus também produziu grandes campeões nesse período. Alguns com relação muitopróxima ao dono da equipe, como Jim Clark e Jochen Rindt. Porém, com o passar do tempo,
a concorrência foi se acirrando, e outras equipes recuperaram o terreno perdido. Some-se a
isso polêmico envolvimento de Colin com John DeLorean, as dívidas da Lotus com o
governo Inglês, além da saúde de Colin já não estar lá muito em ordem. Assim, o homem
que jogava o boné a cada vitória de um carro seu, perdeu a corrida contra a própria saúde,
sofrendo um ataque cardíaco e falecendo no ano de 1982.
Além dos amantes do automobilismo, trata-se de uma histórica humana rica em conteúdo,
onde é retratado um gênio da inovação automobilística e da engenharia.
A temporada de 1982
O ano de 1982 é marcante para a Fórmula 1 por várias razões. Nesse ano morreram Gilles
Villeneuve e Riccardo Paletti em acidentes dentro da pista, além do já citado Colin
Chapman fora das pistas. Também neste ano, Didier Pironi, que se tornara favorito ao título,
teve sua aposentadoria forçada após um acidente nos treinos para o GP da Alemanha. E
Jochen Mass decidiu por se afastar das pistas por um tempo, após sofrer um forte acidente
no GP da França
Mas, não pense que esta temporada se resumiu à mortes e derramamento de sangue no
asfalto. O ano de 1982 marcou o retorno de Niki Lauda às pistas, uma inédita greve dos
pilotos antes da corrida de abertura, guerras políticas entre FISA e FOCA, brechas no
regulamento, o começo de uma era dos motores Turbo na categoria, boicotes das equipes,
a ferrenha rivalidade entre Villeneuve e Pironi, troca de tapas em plena pista, um GP da
Suíça que na verdade foi na França, três GPs nos EUA e um título definido na última etapa
do campeonato em favor de um piloto que venceu somente uma única corrida ao longo da
temporada. Ufa!
Em uma temporada com cenas dignas de filmes dirigidos e escritos por Quentin Tarantino,
o finlandês Keke Rosberg se sobressaiu por meio da regularidade ao longo do ano, levando
a Williams (que utilizava um motor aspirado nessa época) ao seu segundo título de pilotos
em menos de 3 anos, superando as favoritas Ferrari, Renault e Brabham. Algo nada
parecido essa Williams que a gente vê hoje na pista. Detalhe: Rosberg conseguiu esse feito
tendo vencido somente uma única corrida, repetindo o feito de Mike Hawthorn em 1958.
Nunca mais esse fato foi repetido na história da Fórmula 1.
E você, gostou das nossas escolhas? Tem alguma sugestão de história que poderia virar
filme? Deixe seu comentário aqui embaixo, e conte para nós a sua opinião!
4 Comments
Essa do Colin Chapman seria minha preferida para ir ao cinema. Ainda teríamos as idas da Lótus a Indy 500!!!
A temporada de 1982 seria um filme bem confuso. Muita coisa aconteceu. Teria que ter um bom roteirista.
Já a rivalidade Senna vs Prost, há um documentário recente. Não sei se haveria um espaço para um filme agora, mas quem sabe para um futuro…
Chapman foi o maior inovador da F1. E da Indy com Jim Clark, o melhor piloto da F 1 de todos os tempos, mas que a TV não mostrou. Esse Seria o filme.7
Minhas sugestões. 1. Sobre Senna x Prost muito já foi mostrado. Acho que seria interessante, mas com certeza os franceses vão ficar irados, mas é melhor uma historia do Jean Marie Balestre, nesse periodo, e teria mais “fofoca” de bastidor para abastecer a historia; 2. Para cativar USA e a usina do CINEMA, acho que poderia contar a historia de Mario Andretti na FI único americano de sucesso, assim poderia mostrar cenas de corrida espetaculares, a genialidade de Chapman com um conceito usado até hoje e outros pilotos geniais da época. Fittipaldi, Jackie Stewart, Niki Lauda
1982 deveria ser uma minissérie da Netflix. Tem material bastante pra ter um episódio para cada corrida. Teve tragédia, comédia, surpresas, finais emocionantes, muita política nos bastidores, personalidades interessantes. E terminou em Las Vegas, com a Diana Ross no pódio – não podia ser mais hollywoodiano que isso.