Coletiva de imprensa de quinta-feira no GP da Bélgica. “Olha como todo mundo está queimado! Todos com cara boa!”, dizia um também bronzeado e animado Lewis Hamilton. Alguns fãs podem reclamar do jejum de provas em agosto, mas tenham certeza que as férias de verão da F-1 são muito necessárias para quem trabalha na categoria.
Até porque é como se fosse dezembro ou janeiro para os brasileiros: é a época das férias escolares mais longas e a chance para curtir a família e o calor que costuma ser forte nesse período do ano na Europa. Ou, como no meu caso, ir atrás de barganhas em plena alta temporada.
Há quem sempre goste de voltar ao mesmo destino. Eu já prefiro explorar. Enquanto vocês estiverem lendo estas linhas, já terei visitado meu 50º país diferente, a Macedônia. Como nem minha irmã, historiadora e curiosa, sabia muito sobre o destino, vamos lá: o que posso dizer antes é que eles acabaram ficando sem saída para o mar depois da dissolução da Iugoslávia, país no qual não sei muito bem por que foram parar, pois não são eslavos, mas sim macedônios – e há uma disputa com a Grécia pelo uso desse nome, já que o povo macedônio está espalhado por lá e pelos também vizinhos Bulgária e Albânia. Tudo bem que eles estavam sob controle sérvio quando a Iugoslávia se formou, o que ajuda a entender a história – e também é uma boa pista do porquê deles usarem o alfabeto cirílico.
Não será minha primeira vez nessa parte do mundo. Em 2016, fiz uma das viagens mais inesperadamente incríveis da minha vida, da Romênia ao sul da Itália. Fui cruzando por terra, com trens e ônibus – e o último trecho, claro, por mar. Na Romênia, me surpreendi com Timissoara, quase na fronteira com a Sérvia. Em Belgrado, cruzei pela primeira vez com os refugiados sírios e com as marcas de uma guerra tão viva nas minhas lembranças de infância.
Mas o país que mais me encantou nesta jornada foi a Bósnia-Herzegovina. Sabia da influência muçulmana em Sarajevo, mas não esperava chegar e me sentir em Istambul. E andar alguns metros e cair, do nada, em Viena! Isso sem contar nas pessoas, incrivelmente simpáticas, até quando contavam dos horrores do período em que a cidade foi sitiada por quase 1.500 dias. E os quilométricos cemitérios não deixam esquecer que o mesmo vale que dá forma ao belíssimo pôr-do-sol foi o esconderijo perfeito para as forças sérvias.
A Bósnia não é só a capital. Passei por lugares incríveis antes de chegar a Dubrovnik, já na Croácia. O país é extremamente verde e a estrada em si já é linda. Por lá, o cartão-postal mais famoso é Mostar, mas para mim Počivati, um vilarejo medieval com forte influência otomana, é o grande destaque. Fora que dá para relaxar nas lindas cachoeiras de Kravica.
Chegando em Dubrovnik, me encontrei com as multidões de turistas do verão europeu, mas não sabia quando teria a oportunidade de voltar, era uma parada estratégica para meu próximo destino e… a cidade merece, é belíssima mesmo quando se paga caro por tudo.
E deu até para dar uma esticada até Montenegro, outro país com natureza bastante exuberante, antes de pegar o ferry para Bari, minha base para explorar a região mais incrível da Itália em que estive até agora: a Puglia. As pessoas levam a espontaneidade bem a sério por lá, no melhor dos sentidos! A comida nem se fale e as praias… para vocês terem uma ideia, estava em um ônibus quando vi uma praia tão linda que corri para o motorista e falei “vou descer aqui!”, sem saber direito onde estava.
Acho que já tinha ficado um pouco pugliese.
Bom, podia ficar horas contando as histórias desse verão, ou de quando fui na contramão dos europeus e, ao invés de praia, fui para a Escandinávia em agosto. Vai ver foi por isso que, quando Lewis disse aquilo na coletiva, certamente não se referia particularmente ao meu bronzeado, inexistente. Mas a cara certamente estava boa!
19 Comments
Olá Julianne,
Que leitura agradável! Poderia ler por horas também!
Continue nos mantendo informado.
Abraços.
Luís Armando.
Aqui um registro da “irmã curiosa”, sempre de carona nos comentários do “turistando”: ir pela contramão das hordas de turistas e seguindo a intuição e espontaneidade (plugliese?) deve fazer bem ao bolso, trazer o descanso merecido das férias, além de trazer a cara boa e os olhos brilhantes que acompanham cada descoberta. Mas desconfio também que pode ser um jeito muito criativo de responder a uma pergunta que ouvi de Ju há mais de 25 anos, a queima-roupa: “você pode me contar a história da Europa?” Devo ter enrolado a criança… e ela resolveu ser autodidata! Boas férias, Ju!
Bom dia Julianne,
Confesso que rolou uma pontinha de inveja, aqui no Paraná tá quase 0ºC… Boas férias, aproveite esse cenário maravilhoso, os seus relatos são tão precisos que dá vontade de entrar no primeiro avião e ir pra esse calor aí! Mais uma vez, boas férias!
Boas férias, Ju! Aproveite e descanse, você merece. Gostaria de te pedir uma indicação também, estarei em Londres durante o GP da Bélgica, algum lugar você recomenda pra ver com os londrinos? Um abraço!
Dei uma sondada com meus amigos aqui e não tem nada programado. Mas pubs com TVs costumam mostrar.
Ju, desses 50 países, qual foi o que te mais impressionou em termos de choque cultural?
Japão, com certeza.
Para quem gosta de Fórmula 1 e de viajar como eu, este seu relato é um verdadeiro deleite. Já estive na Europa, mas não em tantos países como você. Tenho muita vontade de visitar a Escandinávia. Tenho um apreço pelas línguas de raízes germânicas e também pelo finlandês. Fico por entender como a Finlândia, com tanta tradição na F1, nunca sediou um GP… ninguém nem fala a respeito. Quem sabe um dia você pode questionar Räikkönen e Bottas a respeito.
Parabéns pelo blog!
O clima por lá não ajuda…
Legal esse cenário, esse castelo ao fundo lembra os horizontes ingleses, tipo aquelas coisas de Rei Arthur. Eu teria vontade de esticar de onde você está, de carro, até a Ucrânia, atravessando a Romênia, mas sem chegar muito perto da Usina de Chernobyl!
Ju, seu profissionalismo e dedicação transformam seu trabalho em arte, parabéns, bom descanso!!! 😉
Oi.Admiro sua coragem em viajar por aí. Talvez um dia eu perca meu medo e faça o mesmo. Eu só posso imaginar como você faz pra se virar. Da pra se virar apenas com um bom inglês?
Sim, na verdade nem precisa ser um inglês extremamente bom, mas quanto melhor você se expressar, mais vai curtir
Isso que é vida em, boas férias.
Turismo, história, geografia e porque não uma pequena dose de sociologia.
Sobre a antiga Iugoslavia, Macedônia, Bósnia… me lembrei da comemoração dos jogadores bósnio-suiços Xhaka e Xhakiri no jogo Suiça X Sérvia na ultima Copa do Mundo.
Eles são culturalmente Bósnio e tiveram de morar na Suiça.
Ao marcarem seus gols comemoraram fazendo o gesto da Águia.
O gesto não foi nada bem visto entre aqueles com quem conversei por lá, parece haver uma mágoa por eles terem escolhido a Suíça. Aliás, a própria águia negra é um caso curioso, pois está na bandeira da Albânia, maior pais muçulmano da Europa, mas é um símbolo tradicional da ingreja ortodoxa russa.
Valeu pelo adendo Ju.
Nada como o relato in loco.
Olá Julianne. Apenas uma pequena sugestão para o próximo “Turistando…”, re GP da Bélgica: há a possibilidade do espectador ir sem carro utilizando serviço de ônibus – utilizei uma vez a linha saindo do pátio da estaçao ferroviária de Verviers, meia hora até o circuito (ao portão na ponta oposta da pista, em relaçao a Francorchamps). Fiquei hospedado em Liége a 50 metros da estaçao de trem (moderna, + um projeto do arquiteto espanhol Calatrava) , daí percurso de 20 minutos até Verviers.
Ok Julianne conseguir encontrar as postagens recomendadas. Thanks and good luck