Quem nunca viajou naquelas imagens aéreas da região do circuito de Spa-Francorchamps, com seus sobes e desces em meio à floresta das Ardenas? Um dos ‘GPs raiz’ da temporada, a prova da Bélgica atrai tanto pelo cenário de filme, quanto pela lendária pista em si, recheada de desafiadoras pistas de alta velocidade.
Para os fãs de Schumacher, a pista se tornou algo como um santuário em seus anos de domínio, devido à enxurrada de alemães que cruzavam a fronteira com seus carros e motorhomes no que acabou se tornando um GP mais identificado com o heptacampeão, que nasceu não muito longe dali e teve muitos momentos marcantes em Spa, do que qualquer outro. Hoje em dia, contudo, o circuito mudou de “dono”. Afinal, é a prova mais próxima da Holanda no calendário – a última grande cidade holandesa antes da fronteira, Maastricht, fica a 70km do circuito e Amsterdã, a 2h30, perto o bastante para dezenas de milhares de torcedores de Verstappen terem invadido a região próxima ao circuito no sábado na corrida do ano passado, mesmo sem ingresso para a prova do domingo.
Imaginem, após 24h de bebedeira no meio do nada – e com cerveja belga, ainda, que não é das mais fracas! – a situação das estradas na saída do circuito.
O calor ajudou toda essa festa ano passado, mas é impossível contar com ele. Já peguei de 6 a 30 graus em Spa, e não é exagero. Qualquer coisa pode acontecer no verão nas Ardenas, inclusive tudo ao mesmo dia – o que, diga-se de passagem, é o mais comum. Na verdade, o ano todo pode ser assim: no final de abril a pista estava coberta de neve neste ano.
Mas se as galochas e capas de chuva foram feitas para alguma coisa, é ou para festivais de verão na Inglaterra ou para o GP da Bélgica!
A região, que fica a cerca de 2h ao leste da capital Bruxelas, é cercada de verde, montanhas e cidadezinhas charmosas, todas floridas quando as visitamos no final do verão. O contingente de jornalistas brasileiros fica, há décadas, hospedado em uma casa de montanha bastante confortável e com uma vista incrível, que ilustra este post. Porém, como o tal contingente hoje já nem pode ter esse nome – os únicos que vão a todas as provas são repórter e produtor da Globo e eu – a casa hoje está nas mãos dos ingleses em sua maioria, e tenho também a companhia dos argentinos. Com essa vista e a boa companhia, Spa já estaria no meu top 5.
Mas tem a pista, e que pista! É a mais longa do campeonato, e sempre me arrependo em algum momento, mas ao mesmo tempo é a que mais espero para correr. Toda a subida da Kemel (Eau Rouge não é de nada, minha gente, passa rápido!) vale a pena quando você chega no topo da montanha, vê aquela vista maravilhosa e dá um suspiro profundo, sentindo todo o verde da floresta em seus pulmões. E os carros passando na Eau Rouge então? É impossível que seu nível de respeito por esses caras seja o mesmo depois de ver isso por perto.
Ao longo do ano, a pista de Spa é bastante usada em diversas categorias, e também é aberta ao público, que pode usar o próprio carro em dias pré-selecionados. Dá para pesquisar no site oficial e, neste ano, foram sete as datas em que a pista esteve aberta.
Assim como na Áustria, não é uma região fácil de se deslocar sem carro e não há trem direto de Bruxelas, cidade com o maior aeroporto nas proximidades: você teria de ir até Liége. Há quem opte por voar por Colônia ou Dusseldorf, na Alemanha, mas o trem também vai chegar em Liége. A própria Liége tem um aeroporto acanhado, mas todas as vezes que tentei buscar voos internos na Europa para lá, havia uma conexão na Espanha (isso sem falar nos preços). Vai entender!
Da mesma forma que é possível traçar paralelos entre Barcelona e Budapeste, e Monza e Silverstone, é impossível não comparar os palcos dos GPs de Áustria e Bélgica. Embate duro. Diria que as cidades no entorno de Spa são mais simpáticas – em Spielberg, mais rústicas. Em termos de natureza, Áustria ganha pelas montanhas mais altas e imponentes. Já pensando na experiência de ver a corrida, em Spielberg é tudo mais arrumadinho e prático – digamos que fique do lado mais Nutella no espectro de corridas raíz – enquanto em Spa, andando quilômetros de um barranco para o outro (no caso de comprar general admission, e explico melhor no raio-x) muito provavelmente na lama, a experiência é o mais hardcore possível na F-1. Com tantas nuances, será que qualidade da cerveja serve para desempatar?
RAIO-X:
Preços: Os preços sobem na época de GP, pois é daquelas provas em que não há tanta estrutura assim normalmente, mas ficam dentro do padrão do oeste europeu. Os ingressos não estão entre os mais baratos, com o general admission (sem lugar na arquibancada) saindo por 520 reais. Um lugar na arquibancada não sai por menos que o dobro disso. Na minha opinião, se for para ir para Spa, que seja de GA com direito a pelo menos uma sessão no barranco da saída da Pouhon.
Melhor época: Não há muito para se fazer pela região em termos de turismo. Basicamente, se você viu uma das cidadezinhas – que são agradáveis, mas sem grandes atrativos – viu todas. Se não for para o GP ou outra competição (ou mesmo nas datas em que dá para entrar na pista), vale passar por lá em alguma rota de Bélgica-Holanda-Noroeste da Alemanha. Em termos de clima, esteja preparado/a para tudo.
Por que vale a pena? O circuito sempre está na lista dos melhores dos pilotos e isso não é por acaso: curvas de alta velocidade com variações de altitude exigem muita precisão e um pingo de falta de noção. O cenário não decepciona e é uma parte da Europa que vale a pena explorar.
18 Comments
Julianne, muito boa a série turistando na F-1.
Me convenceu a ir ao Canadá ano que vem.
Sobre SPA, com o “GA” é possível chegar a um ponto que de visão a Eau Rouge?
Dá para chegar perto do apex, pela parte de dentro. Mas tem que ficar em pé na grade e é claro que muita gente quer ficar lá.
Estou me programando para Monza ano que vem. Então pq não fazer a dobradinha Spa e Monza? Vou pensar sobre isso pois Spa parece sensacional!
Julianne a Ferrari divulgou algo sobre trocar o motor no final de semana? A Mercedes trocou e também está no limite né?
Seria uma boa sim, e há vários lugares para visitar entre um país e o outro!
Eles não vão trocar aqui e não comentam se ou quando isso será feito. A situação da Mercedes é um pouco diferente: Hamilton entrou na terceira PU em Silverstone e na quarta agora, porque começa uma sequência de muita potência e é normal que eles façam uma troca para pegar uma unidade mais nova. Mas eles podem ir mudando os motores até o final. O Vettel está há um bom tempo pendurado e só pode usar dois turbos porque os outros dois têm problemas de confiabilidade.
Ju, ja teve essa experiência de dirigir o próprio carro em algum circuito? Deve ser algo animal!
Duvido que isso vá acontecer um dia porque odeio dirigir hahaha
Uma jornalista de F1 que odeia dirigir? Isto não esta certo hehehe.
E eu que amo F1 e nem sei dirigir! Hahaha
O sonho de consumo para todo fã de automobilismo…. se já tinha vontade de ir sem saber disso tudo, imagine agora!
Ótimo texto, Julianne!
Fantástico o post Ju.
Sem dúvidas é uma das pistas que tenho vontade de ir.
Estava pensando em fazer isso ano que vem. Mas terei que adiar.
Esse ano eu estava planejando ir para o Japão e aproveitar para ver p GP de suzuka.
Tem planos para falar sobre esse GP?
(Pena que sofri um acidente e fraturei a tíbia. Ficará para o ano que vem).
Tem turistando de Suzuka também, claro, no meu país favorito no mundo!
E melhoras!
Sua dicas do turistando são demais! E sim, a qualidade da cerveja deve desempatar!
Abraços pros meninos e beijos pras meninas!
Uma jornalista de F1 que sabe dirigir, mas odeia e uma outra garota que gosta de F1, mas não sabe dirigir. Rapaz … Que dupla! Hahaha…
Olá Ju. Uma dica importantíssima para quem vai lá ver o GP é o lance de entrar na pista logo após o encerramento da prova.
Como a invasão já se tornou ‘oficial’ no evento, no lado externo da pista desde a Bus Stop até metade da reta Kemmel há ‘portas’ no alambrado que são abertas assim que os últimos carros adentram para o parc fermé ao fim da corrida (os carros não fazem volta após a quadriculada pois a pista é muito longa e o tempo das TVs para o pódio é urgente).
Para quem vem da reta Kemmel é um bônus excepcional que faz compensar o alto preço do ingresso (mesmo o de ‘general admission’, para brasileiros está mesmo caro) : a vista na caminhada a pé, descendo a reta e chegando em Eau Rouge pela ladeira do Raidillon é espetacular e, claro, dá pra imaginar a emoção de estar pisando onde minutos antes os bólidos passavam a milhão.
Todos se deleitam em tirar selfies sobre as zebras ou deitados no asfalto e na grama da área de escape interna do Raidillon. E aí a gente nota a variedade de nacionalidades dos espectadores no evento, pois a maioria carrega uma bandeira ou sinal de seu país – algumas em longos mastros, como os que haviam nos estádios de futebol décadas atrás aqui no BR.
Em seguida as pessoas sobem em direção à La Source e vão espiar a movimentação que sobra nos pits após o pódio — com sorte poderá se ver alguns minutos da examinação dos carros recolhidos pelos fiscais da FIA — todas as vezes em que fui isto acontecia no início do pit-lane, mais perto do S de Bus Stop. Altas fotos em close dos carros…
Boa tarde Fernando,
Posta algumas fotos se ainda tiver, e se a Julianne deixar, seria muito legal ver!
Abraços pros meninos e beijos pras meninas!
Nato, não sei como adicionar fotos aqui, estou comentando no site, não pelo Fb; e não sei bem como é a coisa de publicar fotos tiradas no evento, pois no verso dos ingressos há um aviso muito explícito não permitindo mostrar em qualquer meio público , é só para “usufruto pessoal”. Nunca testei o rigor dos cabras , embora vá fazer isso algum dia pois quero montar um conjunto das muitas fotos que fiz justamente do público, sem os carros em destaque. Quando realizar isso deixarei saberem aqui na página da Julianne (ela permitindo, claro).
Tive a enorme alegria de ir em 2008 e 2010 nas corridas em Spa e ler seu texto me levou de volta nas lembrancas daquelas semanas. Fui nas duas vezes de carro de Bruxelas até o circuito (150Km) nos três dias de atividade e era realmente um mao de obra. Para quem é de fora o aeroporto de Liege não serve pq é mais um aeroporto de cargas e voos charter para turistas belgas que vão para paises mais quentes. Mas ter o GA valia todo o sacrificio de fazer 300Km por dia. Tinha meu lugar cativo no barranco da Pouhon e como todo mundo, levava até uma pá para cavar melhor e fixar a cadeira. Logico que nas duas vezes enfrentei chuva e até comprei uma capa da Ferrari para me molhar menos. Mas era mesmo muito legal circular pelo circuito, ver todas as torcidas, na epoca tinha muito polones devido ao Kubica, os trailers atras da reta entre as curvas Malmedy e Rivage com churrasco, bebida e musica que virava a madrugada. Sem duvida é o mais perto que podemos encontrar do espirito da F1 dos velhos tempos.
Dennis, sua afirmação no fim do comment é bem verdade: sou já de meia-idade e tive a chance de ver alguns GPs dos anos 70 em Interlagos; nunca acampei mas se podia andar no entorno e assim admirar os bólidos em diferentes trechos da pista, algo impossivel hoje em dia, como bem sabemos. E em Spa-Francorhamps se tem esse privilégio novamente. Da última vez que fui, 2012, fiquei num hotel de Aachen, cidade alemã junto à fronteira, a 60-70 kms do circuito. Não consegui nada mais perto com preço razoável mas tive a sorte de ser à beira da auto estrada, entao nao tive a inconveniência do transito citadino. Vi a primeira passagem dos carros no interno da Eau Rouge, era um domingo de Sol pleno, foi excelente. Em outras duas vezes fiquei em Liege, sem carro (habilitação vencida), então utilizei trem de Liege para Verviers (20 minutos o percurso), onde sempre há serviço especial de onibus para o circuito, nos 3 dias do evento. Funcionou muito bem, só meio mal para voltar pois o serviço-onibus se encerrava 40 minutos depois do fim da prova, e eu ainda estava lá na pista, pisando no asfalto. Mas dá para encarar na boa, e, se a pessoa está sozinha, sai mais em conta do que alugar veiculo. E há muitas vagas de hospedagem em Liege junto à estação ferroviária.