F1 Turistando na F-E entre cheiros e cores de Marrakesh - Julianne Cerasoli Skip to content

Turistando na F-E entre cheiros e cores de Marrakesh

Passo por um dos portais da Medina, a cidade velha de Marrakesh, onde o tempo certamente parou: quase não há carros – e nem faz muito sentido passar por lá, já que a maioria das ruas é estreita demais para eles – as pessoas tomam conta das ruas, vende-se e conserta-se de tudo em lojinhas improvisadas e cheias de bugigangas, inclusive um pôster de Kaká provavelmente recém ido à Europa, e uma cortina de fumaça constante paira sob o ar. Em meio a tudo isso sinto um cheiro. Eu sei o que é isso! Onde eu já senti esse cheiro antes? Jordânia, é o docinho que o motorista do ônibus me ofereceu no caminho a Petra!

Uma consequência interessante de se viajar muito é que a memória parece não dar conta mais de ligar tantos pontos e os sentidos acabam se encaminhando de dar as dicas. E a dica era que estava pisando na África pela primeira vez, mas não perceberia. Era o mundo árabe e seus arabescos de cair o queixo. E seus homens de querer mandar lá mesmo, para aquele lugar.

Mas tenho que dizer que sempre ouvi que, por viajar sozinha, jamais deveria ir especialmente para o Marrocos e o Egito. E depois da experiência no primeiro – inclusive hospedada por uma inglesa que decidiu morar sozinha por lá – já estou pensando quando embarco para o segundo. Mexem constantemente com quem eles percebem que não é de lá e um menino de uns nove anos me fez uma proposta indecorosa que deixou até mesmo seu amigo, de uns 13, envergonhado. Os dois vinham me seguindo há tempos, primeiro pedindo para racharmos um táxi, depois pedindo dinheiro. Até que o menino tenta: “E sexo? Ali, no jardim.” E levou um cutucão do amigo.

Mas a dupla foi a única que realmente me importunou. De resto, só os vendedores que acreditam que todo turista é cheio de dinheiro e que a insistência vai te convencer, algo que é bem típico desses povos cuja cultura do comércio é milenar. A diferença no Marrocos em relação ao Oriente Médio na minha experiência, contudo, foi encontrar os encantadores de cobras e macacos no meio da praça principal.

Nessa mesma praça, aliás, notei que os poucos negros que via estavam vendendo as mesmas mercadorias baratas e descartáveis – e sempre como ambulantes, nunca com seu próprio negócio – que vendem na Europa. Impossível não se impressionar ao vê-los em situação tão ruim mesmo em seu próprio continente.

Ah, os ornamentos árabes….

Contei no twitter que vi a Rafa Massa pechinchando, como reza a tradição, no centro de Marrakesh, e eu também comprei um colar por metade do preço inicial e ainda muito acima do que ele realmente vale. Digamos que tenha sido minha diminuta contribuição para um povo que é realmente bastante pobre, sendo a quinta economia da África, e que tem o setor de serviços como o mais forte economicamente, embora tenha índice menor de desemprego e mais investimento em educação proporcionalmente do que o Brasil.

Por outro lado, alguns palácios e afins estavam totalmente ou parcialmente fechados para restauração, o que é um ótimo sinal pois o que pude visitar tinha o que de melhor existe em arquitetura e ornamentos árabes (na minha opinião, os mais bonitos do mundo) mas longe de estar em perfeito estado.

Amamos o nosso rei. Sério?

De fato, o ex-território francês – onde a língua latina ainda é amplamente falada – é um país que está tentando renascer depois de anos de um regime autoritário. Mesmo que contin

ue sendo uma monarquia parlamentarista, com o primeiro-ministro indicado pelo rei, o país tomou um caminho mais democrático nos últimos 20 anos e especialmente depois da Primavera Árabe.

É um caminho longo ainda e um bom exemplo disso foi a única exigência que fizeram na minha entrada e na saída: é jornalista? Escreva o nome da publicação. A mídia ainda é altamente controlada pelo governo por lá e a corrupção faz parte da cultura.

Deixando a política de lado, fico com os cheiros, a mistura de cores e até a estranha cortina de fumaça, um misto de incenso e poeira, da cidade antiga. Talvez seja esse cheiro que deixará o Marrocos gravado na memória.

3 Comments

  1. Belíssimo texto, Ju, parabéns!

  2. interessante essa sua observação sobre a memoria olfativa…

    acho que isso é bem mais marcante pra quem, como voce, consegue visitar e conhecer os lugares mais a fundo, viajando sozinha e nao precisa se ajustar aos interesses ou necessidades de amigxs/namoradx/maridx ou filhos.

    agora, além do seu texto, sempre tao bom, fica mais uma constatação:

    que foto phoda essa do mercado, hein?!?!

    ficou linda!


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