Enquanto quase todo o paddock estava voltando para a Europa depois do GP dos Estados Unidos, e depois cruzando o Oceano Atlântico oito dias depois para ir ao GP do Brasil, estava fazendo algo que deveria ter começado a fazer há muito tempo: explorar a América Latina.
Recebo as boas-vindas do taxista em Cuzco, no Peru (depois de um longo dia que começou em Austin, passou por uma longa conexão na Cidade do México e, de manhã, outra curta em Lima): “Você é brasileira, então deve gostar de futebol. Qual seu time?” Depois da minha resposta, o melhor complemento: “O campeão do mundo graças a um gol de Paolo Guerrero!” Agradeci.
Seria só o começo de uma sensação que seria boa e estranha em igual medida. Cuzco é a antiga capital do império Inca (que aprendi lá que nunca foi um império per se) e ainda é uma cidade importante no Peru. Mas bem mais pobre do que deveria ser. As pessoas ao mesmo tempo eram muito parecidas conosco, mas nos viam com um enorme distanciamento. “Ninguém mais consegue entrar no seu país”, me disse um jovem local, com quem fiquei por mais de uma horatentando comprar ingresso para o evento que mexeu com a cidade naquela semana (que fique o registro que fomos ajudados por alguns dos 30mil venezuelanos que estão por lá, já que o Brasil também está fechado para eles, obviamente, mas o Peru os acolheu como a mãe que coloca mais água no feijão): o Cienciano jogava em casa com grandes chances de voltar à primeira divisão depois de quatro anos. Conseguimos só um ingresso no final das contas, e deixei com o garoto local. Acabei indo na praça principal ver a festa dos cuzqueños, que ao final da goleada foram lembrados pelo sistema de som: “Amanhã não é feriado, ok? Todo mundo trabalhando a partir das 7h!”
Mas Cuzco, no final das contas, seria só uma (excelente) base para outras aventuras. Passei duas noites em um ônibus numa estrada pra lá de esburacada para visitar o lago Titicaca, na fronteira com a Bolívia, e lá encontrei tribos que vivem em ilhas flutuantes e outra que mantém costumes pré-incas! Ambos, conseguindo manter sua própria língua.
Mas tudo seria só um aperitivo para Machu Picchu. Infelizmente, não teria tempo para fazer a trilha completa, de quatro dias. Seriam dois: um fazendo um hike de 14km para chegar a Machu Picchu do alto, tendo passado por outros sítios arqueológicos impressionantes e em meio ao que é o início da Mata Amazônica, e outro explorando Machu Picchu em si. Acabou sendo uma experiência muito melhor do que poderia imaginar: cheguei sozinha justamente ao ponto em que os turistas fazem fila para tirarem fotos para seu Instagram (buscando ângulos em que fingem estar sozinhos) e pude apreciar tudo com calma. Como o parque já estava para fechar, todos tinham ido embora, e a chuva fina também ajudou. Ou me ajudou.
No dia seguinte, voltaria para uma visita mais cuidadosa (mesmo com todos os turistas, o lugar é impressionante, mas imagino que fazer o “caminho da roça” de trem + ônibus seja bem menos interessante), e com outro desafio: subir a montanha Huayna Picchu e ter uma visão ainda mais privilegiada desse patrimônio da humanidade. Só 400 pessoas podem subir lá por dia e guardar na memória a satisfação de ter enfrentado uma trilha que não é das mais fáceis ou mais seguras, mas com a recompensa de uma vista inesquecível.
Neste ano repetirei a dose e ficarei em algum lugar entre o México e o Brasil até o GP em Interlagos. Aceito dicas!
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Great!