Não me lembro de ter visto o paddock inteiro torcer por um piloto. Nada contra qualquer um dos demais. Simplesmente, todos a favor da Fórmula 1, querendo ver a história sendo feita por um menino de 21 anos que tem todos os ingredientes para escrever capítulos importantes daqui em diante. E todos saíram do paddock em Sakhir com a sensação de que, mesmo sem a vitória, é só o começo.
E olha que não estava sendo uma daquelas vitórias fáceis. Após uma sessão de classificação em que superou Sebastian Vettel o tempo todo, com direito a um erro do alemão na última tentativa, Charles Leclerc não largou bem, acabou mal posicionado na primeira curva, dividida com o companheiro, perdeu momento, e acabou ultrapassado também por Bottas. Recuperou as posições na pista, incluindo um duelo que muita gente não acreditava que a Ferrari permitiria com Vettel. Logo depois, a Scuderia calou mais uma vez aqueles que veem Vettel como seu número 1 incontestável: defendeu a posição de Leclerc quando a Mercedes fez o undercut com Hamilton, basicamente rendendo a posição de Vettel. Caso tentasse proteger o alemão e chamá-lo primeiro, correria o sério risco de perder ambas as posições.
A partir daí, Leclerc impôs um ritmo forte ao mesmo tempo em que cuidava dos pneus, lembrando da época de Fórmula 2, em que gerava até desconfianças a respeito da legalidade de seu carro. Seria uma vitória fácil até um problema no sistema de recuperação de energia deixá-lo rendido, com 40km/h a menos nas retas. Era uma questão de tempo para que Lewis Hamilton e Valtteri Bottas o passassem.
E Vettel? Esse já tinha dado mais um motivo para a imprensa italiana e a própria Ferrari questionarem sua posição de número 1 – que, compreensivelmente depois dos erros dos dois últimos anos, não é inquestionável em Maranello. Na tentativa de defender um ataque até meio suicida de Hamilton – ele mesmo disse: “mergulhei o carro e esperei pelo melhor” – o tetracampeão rodou sozinho, e a vibração causada por sua roda acabou quebrando a asa dianteira quando ele retomou a velocidade na reta. Por uma afobação, mal sabia que estava jogando fora uma vitória. E abrindo caminho para a mesma pressão com a qual não lidou bem nos últimos anos.
Porque Leclerc vai ganhando até mesmo os mais céticos. Sem firulas, sem máscara. Só um jovem piloto ciente de que tem muito a aprender – e aproveitando todas as oportunidades de fazê-lo.
No mais, foram várias as equipes que foram mal na Austrália e bem no Bahrein, em um daqueles altos e baixos comuns a inícios de temporada, principalmente em pistas tão diferentes em todos os aspectos – da condição do tempo ao asfalto. Mas a pista de Sakhir é mais significativa do que Melbourne, e isso dá confiança para a Ferrari, e também para a McLaren, outra equipe cujo ritmo foi muito superior ao esperado até mesmo pelo time.
Já a Haas sai com a pulga atrás da orelha, sem saber onde foi parar o ritmo da classificação, e a Renault com os dois pilotos fora praticamente ao mesmo tempo por problemas na unidade de potência. Além do abandono duplo, eles ainda tiveram de ouvir a cutucada de Christian Horner, que disse que só a Renault mesmo para tirar o pódio deles, já que o Safety Car foi acionado bem na hora em que Max chegava em Leclerc. (Aliás, para quem achou o período de SC longo demais, o carro de Ricciardo estava com a luz vermelha acesa, mostrando perigo de eletrocutamento – ou seja, os fiscais não podiam mexer no carro)
Mas também acabou sendo a chance de Leclerc receber o merecido reconhecimento em um primeiro pódio que nem curtiu. Mas pelo menos ouviu de Lewis Hamilton que tinha de levantar a cabeça porque ainda venceria muitas corridas na carreira…
4 Comments
Que corrida! Que corrida!
Uma como a muito tempo não se via!
Foi realmente incrível ver como LeClerc dominou a corrida e o desespero do menino nas últimas voltas, sem ter muito o que fazer.
Sinceramente, nos dois últimos anos já vinha me perguntando se Alonso estava certo ao afirmar que o carro da Red Bull vencia as corridas para Vettel. Agora tenho certeza, Vettel só um piloto excepcional se tiver tudo a seu favor, do contrário é “apenas” um piloto de algum talento.
Errou todas as vezes em que esteve pressionado (à exceção da batida com Bruno Senna) e não dá mostras de aprender com os erros diferente de Hamilton que errava demais e era afobado demais, mas aprendeu a controlar a agressividade e ser ousado no momento certo.
Julianne uma dúvida, como andam os sentimentos de Red Bull e McLaren com relação a seus carros e motores? Alguma das equipes dá sinais de ter se arrependido das decisões?
A Red Bull tem provado que boa parte do fracasso da associação McLaren-Honda era culpa dos ingleses.
Grande abraço a todos do Blog!
Estou gostando dessa F-1 jovem com Norris, Leclerc, Max, Ocon são pilotos fenomenais. Mas ainda creio no Hexa de Hamilton.
A boa surpresa foi ver a McLaren no começo da prova com Sainz voando, ia ultrapassar o Max de Red Bull quando houve o toque e acabou a corrida para Sainz. Norris com consistência mas alguns erros, dito por ele mesmo, chegou em 6° mostrando uma ótima evolução do chassi com relação ao do ano passado. Com a chegada do James Key e do Andreas Seidl na equipe para logo mais, acho que a McLaren terá uma 2° parte da temporada mais forte.
Um coisa que observei e gostei, foi os carros seguindo os outros para fazer as ultrapassagens. Parece que o regulamento acertou desta vez, pois mesmo com o ar sujo gerado pelo carro da frente, não impediu do carro de trás acompanhar. Na volta 2, Leclerc estava a 2.1 do Vettel e em duas voltas ele tirou esta diferença e na volta 6 passou.