O GP da Bélgica foi um teste para as ferramentas de simulação das equipes, que foram para a pista sem referências de como seus carros se comportariam numa corrida com pista seca. Afinal, o único treino livre e a sprint tinham sido no molhado, em um final de semana em que só faltou nevar em Spa-Francorchamps. Ou melhor, em que só faltou Max Verstappen fazer chover.
Ele fez a pole position com mais de oito décimos de vantagem para o rival mais próximo, Charles Leclerc. Largou em sexto por uma punição pela troca de câmbio. Fechou o primeiro setor da primeira volta em quarto, assumiu a liderança na volta 17 e, em 25 voltas, abriu 22s de vantagem em cima do próprio companheiro Sergio Perez. De quebra, ainda vez a pole e levou a sprint no sábado.
Spa-Francorchamps sempre seria uma pista em que a Red Bull mostraria sua força, pois premia a eficiência aerodinâmica que o carro esbanja. Eles conseguem gerar muita pressão aerodinâmica no assoalho, dando mais flexibilidade para a escolha da configuração de asa. E, quando eles não estão com as asas maiores de pistas como Mônaco e Hungria, seu DRS muito mais potente que os dos rivais reaparece. E isso é um combo forte para a classificação, e que também ajuda os pilotos a abrirem caminho na corrida.
Verstappen termina primeiro setor em quarto
Quem chegou mais perto em todo o final de semana foi Oscar Piastri, a 11 milésimos de Verstappen no shootout. A pista secando ressalta as qualidades da McLaren, que optou por uma configuração com mais asa traseira, ajudando Piastri a ser até mais rápido que Verstappen no segundo setor. Isso, no entanto, vem com um custo grande na velocidade de reta, e o australiano foi ultrapassado com facilidade pelo holandês quando se viu na frente na sprint.
Foi a mesma facilidade que Verstappen encontrou na corrida para se recuperar. Ele se manteve longe da confusão da largada, quando Sainz tentou fazer a La Source por dentro, onde estava Piastri. O australiano, com danos no carro, ficou muito lento, e atrapalhou quem vinha atrás. Russell e Gasly perderam várias posições ali.
Verstappen pulou de sexto para quarto antes de chegar na freada da Les Combes. Ele teria que esperar cinco voltas até passar Lewis Hamilton, aproveitando o momento em que o inglês deixou de poder usar o DRS para tentar passar Charles Leclerc. Foram mais quatro voltas até o holandês passar pela Ferrari e ir à caça do líder Perez.
Hamilton foi o primeiro dos líderes a parar, tentando um undercut em Leclerc. Isso chamou Perez aos boxes e, consequentemente, Verstappen. O holandês estava em dúvida se ficaria na pista esperando uma possível chuva quando foi chamado aos boxes. Outros pilotos que estavam mais atrás decidiram esperar. Lance Stroll, George Russell e Pierre Gasly estenderam tanto seu primeiro stint aguardando a chuva que acabaram convertendo a estratégia para uma parada, já que o composto macio estava durando mais que o esperado.
A corrida iô-iô de Norris
Mas a chuva não veio. Foram apenas cinco minutos com uma garoa mais forte, que fez os tempos de volta despencarem. Menos de um carro: a única McLaren que sobrevivia na pista, de Lando Norris. Com pouca velocidade de reta devido ao acerto do carro, mais voltado para a chuva, Norris ficou tão para trás no começo da prova que pediu para ir para o pneu duro. A escolha não deu muito certo, o composto era lento demais.
Mas essas três voltas com a pista um pouco molhada fizeram com que ele recuperasse bastante tempo, já que era o carro mais rápido da pista e, quando ele colocou os macios com o carro mais leve, foi como se a McLaren voltasse à vida, embora sem o mesmo tipo de desempenho das duas últimas provas, já que ficou claro que, andando com menos downforce, o carro não funciona tão bem. De qualquer maneira, pela maneira como a corrida dele começou, não era de se esperar que ele terminasse em sétimo lugar.
Verstappen passa Perez e some
Lá na frente, assim que colocou os médios, Verstappen passou a voar em relação a Perez, sempre lembrando que, quanto mais macio o composto, teoricamente é mais fácil pilotar o carro porque mais aderência vem da borracha. O holandês foi 1s mais rápido que Perez na primeira volta, e logo chegou e passou sem dificuldades.
Era a volta 17. Ele chegaria 22s na frente de Perez ao final de 44 voltas, vantagem construída com sua pilotagem e também porque Perez teve de levantar o pé nas curvas de alta velocidade para evitar que seu carro batesse no solo, algo que estava acontecendo devido ao acerto escolhido do lado dele da garagem.
Mais atrás, Hamilton às vezes ficava a menos de dois segundos de Leclerc, mas a diferença não diminuía mais do que isso. O inglês conseguiu abrir uma vantagem tão grande em relação a Fernando Alonso que pôde fazer uma terceira parada para colocar pneu novo e conseguir a volta mais rápida.
O inglês depois disse que seu acerto, com pouca asa, foi agressivo demais. Gerando menos pressão aerodinâmica, seu carro escorregava muito no segundo setor, dificultando que ele cuidasse dos pneus como gostaria. Assim, ele não conseguia se aproximar de Leclerc e usar a vantagem de velocidade de reta que esse acerto lhe dava.
Cinco carros diferentes na segunda metade do top 10
O espanhol fez uma corrida solitária, e a tática de uma parada acabou funcionando para Russell se recuperar da primeira volta ruim e chegar em sexto. Com Norris em sétimo, Esteban Ocon conseguiu pontuar com a Alpine, bem nas retas por estar com pouca carga aerodinâmica. Lance Stroll também com uma parada foi o nono.
E Yuki Tsunoda conseguiu um ponto com a AlphaTauri. Ele entrou no top 10 ainda no início da prova, escolhendo o lado certo na largada, e fez uma estratégia invertida em relação aos pilotos com os quais normalmente disputa, com dois stints de médios no começo e macios nas últimas 20 voltas. Com isso, estava veloz na parte final, e conseguiu chegar na frente da Alpine de Gasly.
A decepção do final de semana ficou por conta da Williams, fora dos pontos em um circuito em que, em teoria, andaria bem. Mas eles optaram por um acerto muito agressivo para aproveitar sua velocidade de reta, e acabaram com os pneus no setor 2. Mais um exemplo de como as ferramentas da fábrica não estão no nível dos demais.
2 Comments
Excelente análise e texto, como sempre!
Além de conhecimento do que fala, que maravilha de texto. Flui.