Muito já foi dito sobre a reação negativa da direção da Mercedes em relação à desobediência de Lewis Hamilton no GP de Abu Dhabi. A atitude do inglês, que intencionalmente diminuiu o ritmo para que seu rival na disputa pelo título, Nico Rosberg, sofresse a pressão dos pilotos que viessem atrás, dando a chance de que caísse para o quarto lugar do qual o tricampeão precisava, dividiu opiniões e, mais importante, deixou um clima ruim dentro da equipe.
Ninguém espera que um piloto como Lewis Hamilton simplesmente corra para vencer uma prova e se contente que não pode fazer nada para evitar a perda de um campeonato. Se a Mercedes realmente acredita que ele faria isso, então tenho de concordar com Christian Horner e considerá-los ingênuos.
Pilotos inteligentes sabem que pode ser contraproducente ser rápido o tempo todo. Ganhar da maneira mais lenta possível, geralmente tática aplicada para poupar equipamento – especialmente em dias de restrições de número de câmbios e unidades de potência e de necessidade de economizar combustível – tem sido a regra nos últimos anos e não é crime algum.
Além disso, dizer que os cálculos matemáticos mostravam que a vitória estava em perigo é mais uma prova do excesso de confiança dos engenheiros em seus modelos, a grande causa de erros de estratégia. Da mesma forma que os grandes acertos acontecem quando há um equilíbrio entre acreditar nos dados e enxergar o que está acontecendo na pista. E na pista em Abu Dhabi Hamilton tinha o controle da situação e começaria a acelerar assim que sentisse que Vettel se tornara uma ameaça à vitória.
E, em terceiro lugar, intervir porque uma vitória da equipe está em risco quando o campeonato de construtores está definido e o de pilotos está em seu momento mais agudo é algo difícil de justificar.
Por outro lado, seria absolutamente incrível se a tática de Hamilton funcionasse. Afinal, Rosberg precisava cair de segundo para quarto para que o inglês fosse o campeão. Sabendo que a Mercedes tinha dúvidas se seria uma boa ideia renovar com o alemão justamente pelo fato da relação dos companheiros já estar bastante tensa depois de quatro anos de altos e baixos, a única justificativa para as insistentes mensagens – e, principalmente, pela maneira como os dirigentes deixaram claro que a desobediência não ficaria barata – é que eles estejam olhando adiante.
As declarações recentes dos chefes e especialmente de Hamilton escancaram as dúvidas que o time tem sobre a continuidade de seu domínio ano que vem. O discurso de “temos de aproveitar esse momento” de Lewis nos últimos meses lembrou muito Sebastian Vettel, ganhando com um pé atrás o campeonato de 2013, mas sabendo que estava às vésperas de uma importante mudança de regulamento. Naquele caso, as incertezas eram enormes porque o desafio dos motores híbridos representaria uma verdadeira revolução, enquanto as alterações aerodinâmicas e a liberação do desenvolvimento dos motores que teremos agora, ainda que representem um grande desafio, não são tão extremas.
Ainda assim, a Mercedes tem seus motivos para se precaver. Mesmo com o regulamento estável, a Red Bull pulou de ficar a 1s4 da pole ano passado para 0s7 nesta temporada e é, sabidamente, um time extremamente preparado – e com altíssimo orçamento – para aproveitar uma situação como esta.
No mínimo, o que se espera é uma disputa mais acirrada. E, ainda mais com Rosberg fortalecido pelo título, ver seus pilotos jogando pontos no lixo é a última coisa que a Mercedes quer. Por isso, pelo ponto de vista deles, o melhor é cortar os individualismos agora – e isso é até previsível. Agora, a reação que um piloto que já tem três títulos e números entre os melhores da história mesmo aos 32 anos, é mais difícil controlar.
10 Comments
A vitória nunca esteve em causa, como muito bem diz, mas a dobradinha da Mercedes poderia ter estado, pelo que compreendo o que se passou a partir do muro das boxes.
Compreendo até melhor do que a estratégia de Hamilton. Afinal, se o inglês teria de acelerar para escapar de Vettel caso este levasse a melhor sobre Rosberg, como é que o alemão, com a pista mais livre, perderia o terceiro lugar?
Se fosse eu, teria pilotado o mais rápido possível. Se o monolugar não aguentasse, ficava na mesma no que ao campeonato diz respeito, mas se fosse até ao final, teria colocado uma vantagem enorme em cima do rival do outro lado da garagem.
Obrigado pelos sempre interessantes artigos, E saudades dos posts sobre as diferentes transmissões. Ainda dará para fazer sobre este último GP?
Tudo de bom para si,
A tentativa era fazer Nico errar e deixá-lo exposto a quem viesse atrás. Se Lewis acelerasse Nico também iria abrir e Vettel jamais chegaria. Não foi uma tática boa em si, mas sim a única opção que ele tinha de fazer algo.
Quanto ao post das transmissões, te escrevo enquanto espero mais um avião para chegar em casa quinta, exausta. Vou pensar em algo para o ano que vem que não me custe tantas horas e que seja no mesmo caminho.
Obrigado pela resposta, caríssima Julianne.
Espero que consiga descansar bastante, mas hoje o Rosberg não terá contribuído para isso.
Quanto ao post das transmissões, faça o que a deixar mais satisfeita. A mim e aos restantes leitores a Julianne não deve nada, não tem obrigações, tudo o que fizer por nós estará bem, Portanto, faça o que mais gostar, para mim, cada leitura será, certamente, um prazer.
Tudo de bom para si.
Claro que a torcida adora quando o cara se rebela contra a chefia, em todos os setores é assim, e logico que essa mesma chefia fica P. quando é desobedecida, dito isso, é possível a Mercedes não renovar com Hamilton?
Em 2 anos muita coisa pode rolar!
Oi Jú, como disse anteriormente e vc afirmou hoje o título de construtores já estava decidido, é claro que a equipe quer fazer 1 e 2 mas o Hamilton conquistou essa posição na pista fazendo a pole e largando bem, pois se nenhum das anteriores acontecesse um abraço.
Sei que você trabalha demais e muito parabéns por isso. Mas tenho que confessar que sinto falta também da cobertura das transmissões. Hoje acompanho muito a Sky F1 inglesa e a forma como eles tratam o produto, a visão diferente e no detalhe é muito bom, pra quem é viciado no esporte, assim como suas análises que são ´ótimas também…
Se der pra fazer de duas emissoras ou de 3 em três corridas seria um grande presente.
Um abraço e um ótimo fim de ano Jú
Quando Rosberg teve que passa o Verstappen a tática do Hamilton quase deu certo, o garoto é sabidamente arisco!
não entendo pq a Mercedes jogou toda a sua esportividade durante o ano, no lixo na última corrida. Com o campeonato de construtores já ganho e não deixando os dois pilotos brigarem na pista pelo título. A direção da equipe teve uma postura deselegante nessa corrida, pra fazer isso melhor seguir a filosofia da Ferrari com primeiro e segundo pilotos bem definidos.
Julianne uma pergunta para você:
Sabe a probabilidade de termos uma disputa entre 3 ou 6 pilotos pelo título ano que vem? Como você fica mais perto do Padock deve ter uma resposta melhor.
Abraços pros meninos e bjs pras meninas!
O Hamilton tinha todo o direito de fazer o que fez na corrida. Mas sua hipocrisia na quarta antes da corrida quando declarou que não iria fazer o que acabou fazendo, merece crítica. Afinal ele disse “Se eu estiver na frente, o que vou fazer é tentar ficar o mais longe possível. Quando você está a 18 ou 30 segundos à frente, isso é tão doloroso quanto deixar claro ao cara que você está lutando. Se você olhar a corrida no Brasil sem bandeira vermelha, eu estaria 30 segundos na frente. E isso é uma conquista maior do que ficar tentando bloquear o seu companheiro de equipe. Não seria fácil nem inteligente”.
Ju a Mobil agora será parceira da Red Bull,deixando a Mclaren. Mas lembro que em algum post vc relatou um deficit da eficiência do combustível e lubrificantes fornecido pela empresa. Quem será o novo parceiro da Mclaren Honda agora é a Red Bull retrocedeu com essa parceria ?
Isso era verdade ano passado, neste ano a Mobil ganhou bastante terreno e hoje os lubrificantes estão em um nível bem semelhante. Mas será interessante ver qual o caminho escolhido pela McLaren!