Vamos deixar de lado um pouco a queda gigantesca – e esperada – no número de ultrapassagens do GP da Austrália entre 2016 e 2017. Cinco manobras foram feitas neste ano, contra 37 da prova da temporada passada. O circuito de Albert Park, sobretudo pela falta de retas longas, sempre foi palco de provas travadas e dependeu muito de Safety Cars, que não aconteceram no último domingo, para ter emoção e nada impede que, com pequenas revisões, como o aumento das zonas de DRS e a escolha de compostos mais macios por parte da Pirelli, esse cenário possa ser atenuado daqui em diante.
A informação que fica do final de semana em Melbourne é o que vai transformar a estratégia neste ano – leitura que, na primeira prova do ano, foi mais bem feita pela Ferrari do que pela Mercedes – é a seguinte: ao longo de um stint (sequência de voltas entre uma parada e outra), os tempos subiram em meio segundo, enquanto, até o ano passado, podiam piorar em até 4s.
Isso explica por que a estratégia em 2017 será virada de ponta-cabeça. E também elucida por que, pensando com a cabeça de 2016, a Mercedes perdeu a corrida.
De 2011 a 2016, com os Pirelli de alta degradação, o chamado undercut (parar antes do rival e usar a aderência extra nas primeiras voltas para emergir na frente) foi o caminho perseguido pelos estrategistas. Agora, a palavra de ordem é posição de pista.
Como a degradação é muito menor, a diferença de velocidade entre um carro no final ou no começo de seu stint é pequena demais para garantir a ultrapassagem. Assim, os estrategistas têm de observar se seu piloto voltará no tráfego antes de fazer a parada.
Foi esse cuidado que a equipe Mercedes não tomou quando recebeu o retorno de Lewis Hamilton via rádio de que seus pneus tinham acabado. Como Sebastian Vettel conseguira manter uma distância de cerca de 2s antes da parada, o inglês estava exposto à ameaça ferrarista. Com a cabeça de 2016, o time o chamou ao box e esperou que ele tivesse performance suficiente para superar Verstappen e se manter na frente. Com a cabeça de 2017, a Ferrari esperou ele perder tempo atrás do holandês e tomou a ponta.
A questão é que, dificuldade de ultrapassar devido à turbulência à parte, o ritmo de Verstappen com os ultramacios usados não era tão diferente. Ele vinha sendo 1s por volta mais lento mesmo com pneus mais velhos e isso não é suficiente para garantir uma ultrapassagem simples na F-1, o que nos faz voltar àquele número do início, dos 4s de offset de performance entre o começo e o fim do stint, que acabou com a adoção dos pneus duráveis que os pilotos tanto pediram.
Mais atrás no pelotão, houve outros exemplos de como as estratégias podem ser usadas neste ano. Presa por um Fernando Alonso bem mais lento, a Force India, com Esteban Ocon, tentou o undercut e, mesmo parando na volta seguinte, o espanhol conseguiu se defender e voltar à frente. Já no caso do outro carro da equipe, Sergio Perez fez a mesma estratégia, mas conseguiu passar Carlos Sainz usando as dificuldades do espanhol em aquecer os pneus. A equipe, assim como a Mercedes, deve ter aprendido que, com os carros de 2017 e especialmente os pneus, o undercut deve virar coisa do passado.
15 Comments
Ju vc é fera adoro suas matérias.
Ju, a Mercedes não poderia cogitar alongar um pouco mais a primeira parada do Lewis? Pelo visto, mesmo sem pneus, ele não seria ultrapassado pelo Vettel, e poderia ter abrir mais do Max. Quanto aos pneus disponiveis para a China, os médios podem definir estratégias diferentes?
Sim, provavelmente ele teria vencido.
A expectativa é que as estratégias diferentes só sejam vistas quando a Pirelli passar a levar só pneus mais macios. Para a China eles foram conservadores ainda, até porque essa decisão foi tomada faz tempo.
Ju, a Mercedes tem o melhor carro em classificação em relação a Ferrari ou os pilotos da Ferrari cometeram erros em suas voltas?
Os dois disseram que erraram, mas tem também o modo de motor na Mercedes.
Ju seria possível a Pirelli começar a levar pneus “opostos” as corridas, tipo ao invés de levar ultramacio, supermacio e macio, eles levarem, ultramacio, macio e médio?
Meio que tentarem criar um “degrau” entre um composto e outro, para existir uma diferença entre carros com tipos de pneu diferente.
Mas, creio que eu mesmo vou responder a minha pergunta, em determinadas pistas, com esse pneu de alta durabilidade a degradação não existiria, então o piloto poderia parar no início da prova e ir até o final sem perder tanto ritmo.
Não descartaria totalmente essa hipótese. Dependendo da pista é possível que o macio fazendo a prova inteira se desgatasse e permitisse uma disputa com quem fizesse um stint de macio e outro ultramacio, por exemplo.
Lendo esse (maravilhoso) post, me lembrei de cara de uma matéria em que a Pirelli disse ter deixado pneus de alto desgaste reservados para o caso da F1 mudar de ideia.
Acredita que as estratégias de pneus serão muito diferentes depois da quinta prova Julianne? Se não me engano depois da quinta etapa os pilotos e equipes poderão escolher os compostos.
Belo post como sempre!
Abraços pros meninos e beiios pras meninas!
Podem escolher quantos jogos querem de cada um dos compostos selecionados pela Pirelli. Na segunda falo mais de como os italianos podem ajudar as corridas.
Não seria melhor altera as pistas para facilita ultrapassagens? Quanto mais lenta e de raio curto a curva antes da reta mais fácil seria entrar colado no carro da frente? Reta maiores ajudariam?
Posso estar errado, mas parece que quanto maior o raio e a velocidade da curva antes da reta, dificulta entrar colado no carro da frente.
Essa teoria do raio curto e curva lenta é a base dos Tilkódromos. Na verdade não existe fórmula, mas curvas com várias linhas possíveis sempre ajudam
Obrigado
Espero que, com esses pneus, seja possível ter a volta de corridas onde um piloto possa optar por ter um stint tão longo de um determinado composto, que ao final do GP, ocorra briga real entre carro de pneus estraçalhados e outro com pneus novos.
Se acabasse com a obrigatoriedade de usar dois compostos por corrida acho que seria uma bom modelo de disputa
Lendo a matéria comecei a pensar o quanto ficou complicada e complexa uma corrida de carros. Para compreender temos que assistir com um computador do lado, fazendo as contas e mais contas.
Não que eu não goste dos detalhes técnicos, pelo contrário, gosto e muito.
Mas imaginem o público nas arquibancadas, que paga caro pra ver uma corrida, e sai de lá frustrado por não ver uma simples disputa verdadeira de posição durante mais de hora e meia.