Muito tem se falado nas mudanças do regulamento técnico da Fórmula 1 para este ano, mas elas estão longe de ser as únicas. As novidades nas duplas de pilotos são as maiores em muito tempo – desconfio que desde 2010 – e trocas de comando também devem surtir efeito.
Começando pelos pilotos, que mais chama a atenção é Charles Leclerc, do alto de seus 21 anos, estreando em uma Ferrari que tem tudo para lutar pelo título. E o monegasco, vai lutar pelo quê? Já expliquei por aqui por que a expectativa em cima dele é alta e porque essa história de “sentir o peso” do macacão da Ferrari não tem muito a ver com sua trajetória. (A respeito disso, aliás, recomendo o episódio dele do podcast oficial da F1).
Quem também estará sob os holofotes é Robert Kubica, de volta depois de oito anos. No último teste antes do acidente de rali, ele liderou em Barcelona, algo que só aconteceria se a Williams fizesse uma simulação de classificação logo no primeiro dia ou algo do tipo. De certa forma, voltar por uma equipe em má fase e ao lado de um novato – ainda que Russell pareça ser o melhor deles – parece ser a desculpa perfeita caso as coisas não saiam como esperado. Mas, assim como no caso de Leclerc, a história de Kubica sugere que é melhor não dar-lhe por vencido.
Além dos quatro estreantes que apresentei por aqui, tem vários outros pilotos de casa nova: Kimi Raikkonen, na verdade, volta a casa e deve ser um personagem e tanto para acompanhar no paddock. Se já no final do ano passado ele estava falante e sorridente, imagine depois do vermelho realmente ficar na memória? E Kvyat, vai voltar paz e amor ou a metralhadora em que tinha se tornado depois da demissão na Red Bull?
Não me surpreenderia ver Stroll como figurinha fácil no top 10, agora dono de uma equipe cheia de potencial, enquanto Carlos Sainz parece ter ouvido demais as mesmas pessoas que assessoram Alonso. A McLaren está perdida há anos na aerodinâmica do carro e é difícil ver sinais de recuperação. Deve doer para o espanhol ver quem estava atrás dele no programa da Red Bull, Pierre Gasly, no time principal, ainda que o último companheiro que Carlos queira ter pela frente seja Verstappen, mesmo motivo que fez Ricciardo apostar no escuro da Renault.
Em outras palavras: quem vai ficar perdido ou perdida com qual piloto está em qual equipe na Austrália levanta a mão!
Mudanças no Comando
Mas as novidades de 2019 não ficam só nos cockpits. Mattia Binotto finalmente conseguiu o cargo que lhe tinha sido prometido por Marchionne e tem uma grande chance de fazer a Ferrari caminhar apenas em uma direção. É raro ter alguém com perfil técnico comandando a Scuderia e será interessante ver como funciona essa dinâmica.
Assim como também curioso ver se o primeiro projeto da Renault com possíveis “assopros” do polonês Marcin Budkowski gera realmente um ganho para o time. Marcin foi alvo de uma polêmica ano passado quando deixou o cargo de chefe do departamento técnico da FIA, ou seja, deixou de ser aquele que sabe dos segredos dos rivais para trabalhar para um dos times. Claro que as regras mudaram e o conhecimento não é tão valioso quanto seria ano passado, por exemplo. E resta saber se o motor finalmente vem junto.
Isso porque a Honda terminou 2018 com o terceiro melhor motor do grid. Como eles conseguiram isso depois de penar tanto com a McLaren? A estratégia mudou: com a Toro Rosso, eles sofreram muitas punições, mas desta vez de propósito. O motor não estava quebrando mais e, sim, sendo desenvolvido a toque de caixa e, por isso, tinha de ser trocado com frequência. E, no final do ano, já se falava em 60cv de vantagem em relação à Renault, que se desenvolveu em um ritmo mais lento, com o time principal lutando até o final pelo quarto lugar e sem poder usar punições para testar melhorias.
Outra vantagem é que a Honda está disposta a gastar o que for necessário, o que não é o caso da Renault que, inclusive, tem outros focos de tensão fora da F-1 no momento.
Voltando às mudanças de comando, resta também como a chegada dos Stroll vai moldar a Racing Point. Olhando de fora, a relação do engraçado e aberto Otmar Szafnauer com Lawrence Stroll parece funcionar, mas há dois lados do bilionário: ele é, ao mesmo tempo, um empresário bom o suficiente para delegar quem deve mandar no negócio, mas também é conhecido pela paixão quase doentia que tem pela carreira do filho.
Uma coisa é certa, dessa vez não dá para dizer que tudo continua como antes na Fórmula 1.
4 Comments
Ótimas colocações! Realmente eu estou ansioso para ver o que vai dar tudo isso! Esse ano as coisas na fórmula 1 não estão mornas, como a vários anos vinha acontecendo!
o/
Julianne o senhor Stroll seria capaz de comprar a Daimler interinha para fazer do filho campeão?
Veja bem, bilionários não são pessoas feitas a gastar dinheiro, e sim a fazer.