Quem já conhece o blog de outros carnavais sabe que é perda de tempo vir aqui atrás de “análises” de lançamentos de carro. Principalmente em ano de regulamento estável, o que mais acontece é convergência. A Ferrari está mais com cara de Red Bull, a Red Bull olhou com carinho o bico da Mercedes, e aí por diante. Isso sem levar em consideração o uso da configuração de lançamento (a Ferrari, por exemplo, já avisou que seu bico logo no primeiro teste será diferente) e dos ângulos controlados nas fotos tiradas por fotógrafos muito bem pagos para mostrar o mínimo possível do carro e o máximo dos patrocinadores.
Ah, e não me peçam para comentar pintura de carro, por favor. Semana que vem, divido com vocês o que vi na pista. Melhor do que uma aleta aqui, outra ali.
Deixei nas mídias sociais a porta aberta para vocês participarem do F1 on Demand, aproveitando que o projeto do Catarse está aberto neste mês de fevereiro (aliás, se quiser participar, é só colocar seu email aqui). E como recebi muitas dúvidas sobre o GP da China, achei melhor me antecipar e explicar algumas questões práticas.
Antes, vale dar uma olhada neste post que fiz sobre a logística da F1
E neste sobre como é montado o calendário
Voltemos um pouco no tempo: há uns 10 meses, tentava descobrir no paddock onde encaixariam o GP do Vietnã. Sabia que seria em abril, mas antes da China? Depois? Em finais de semana seguidos (que chamamos de back-to-back) ou não? O propósito de tudo isso é mais para nós, freelancers, pegarmos hoteis com preço bom, do que para dar matéria. Então é uma informação que corre o paddock a sete chaves!
A primeira resposta que ficou clara era de que China e Vietnã não seriam um back-to-back, e a conversa era de que o temor não seria tanto a alfândega vietnamita, mesmo sendo um desconhecido para a F-1, mas sim a chinesa. O pessoal da logística apontava que a alfândega chinesa estava cada vez mais demorada, e tinha alertado a Liberty a evitar back-to-back com o GP chinês. O último tinha sido com o Bahrein, em que a F-1 entra com tapete vermelho. Com a certeza da maior dificuldade na China e o desconhecido em relação ao Vietnã, o back-to-back tinha sido vetado.
Por que isso é importante agora? O GP da China, adiado devido ao coronavírus, só poderia ser encaixado no calendário como um back-to-back. E esse é só um dos problemas. Em agosto, as regras da F-1 (e as trabalhistas da Europa) obrigam as fábricas a parar, então um encaixe teria de ser feito depois do GP da Itália, como já apontou Ross Brawn.
Vejamos as possibilidades: cinco corridas seguidas? Bélgica-Itália-China-Singapura-Rússia? Além do excesso de corridas em sequência, o calendário evita back-to-back em que se “perde” muitas horas devido ao fuso, como seria o caso de Itália e China. E há a questão levantada anteriormente.
Qual a outra: Singapura-Rússia-China-Japão? Essa é a que faz mais sentido (ou a menos horrorosa) Existe uma questão logística porque um navio a mais precisará ficar na Ásia (a lógica diz que seria o que vai para Melbourne-Singapura-Brasil). Existe também o “fuso contrário” Sochi-Xangai. E uma chiadeira sem tamanho nas equipes, cujos mecânicos ficariam fora de casa por umas seis semanas. Além disso, a empresa que promove o GP tem outros dois grandes eventos esportivos no fim de setembro/começo de outubro.
Depois, Japão-China-EUA-Mex é inviável. E nem vou comentar Brasil-China-Abu Dhabi. E depois de Abu Dhabi? Os árabes pagam a mais para fechar a temporada, e também seria difícil convencer as equipes a ter uma temporada mais longa justamente às vésperas de uma mudança de regras tão importante. Além disso, faz tanto frio em Xangai em dezembro quanto na pré-temporada em Barcelona.
A única forma de convencer as equipes é abrindo as contas: o GP da China certamente paga mais de 30 milhões de dólares por ano, e trata-se de um mercado chave para a categoria, em que a presença anual é tida como fundamental. É um dos poucos países, inclusive, em que a F1 está na TV aberta (com um acordo bastante favorável aos chineses) no mundo.
Mas o que está mais com cara mesmo é de que a opção foi pelo adiamento, e não cancelamento, por questões contratuais. Foi por isso, inclusive, que a F-1 teve de esperar: a decisão tinha de partir dos promotores para que o imbróglio saísse de graça para a categoria. Parece que o cancelamento definitivo, também.
1 Comment
O The Times falava na sua edição de hoje em “cancelamento”. Eu acho que, dadas estas dificuldades, e não tendo a certeza sobre o controle desta epidemia até ao final do verão, inclino-me para o cenário mais pessimista.
Vamos a ver.