F1 Turistando: histórias de 10 anos de F1 e um dia glorioso na Espanha - Julianne Cerasoli Skip to content

Turistando: histórias de 10 anos de F1 e um dia glorioso na Espanha

Estava tudo sob controle na sexta-feira em Barcelona…

Costumo me referir a essa história como o momento de maior glória do jornalismo brasileiro na Fórmula 1. E isso é indiscutível.

Tudo começa no inverno londrino, nas primeiras semanas de 2019, quando eu tropeço no meu sobretudo subindo uma escada, caio lentamente e, sabe-se lá como, consigo evitar quebrar meu nariz, mas não parte de meu dente. O estrago não é catastrófico, mas faz eu me sentir com 6 anos de novo. Sabendo do preço salgado e da péssima fama dos dentistas britânicos, procuro uma solução mais barata e uso o serviço público (que, para esses casos não é grátis, mas pelo menos não é um absurdo).

O resultado ficou bem discutível, mas segui em frente.

A primeira vez que o preenchimento caiu foi já no mês seguinte, o que deveria ter feito eu colocar a mão no bolso e investir em algo melhor, mas achei melhor voltar no mesmo lugar e conseguir a reparação de graça. 

Três meses depois, no sábado de manhã, cheguei no palco do GP da Espanha e fui pegar um cappuccino na Mercedes. Com o tempo, aprendemos qual equipe tem a melhor máquina de café, qual é a melhor para cappuccino, onde é possível comer algo saudável (isso, na era pré-Covid, já que agora não podemos entrar nas equipes) e, o principal, em qual pista não dá para contar que seremos minimamente alimentados na sala de imprensa. O GP da Espanha foi piorando (de um padrão que não era dos melhores) ao longo dos anos. Eles passaram de uns lanchinhos que acabavam em segundos para um criativo (embora um tanto vazio) croissant com o formato do circuito, servido com um chocolate quente super doce. E uma máquina de café horrorosa, daquelas de rodoviária.

Ok, estou tentando justificar o que eu fiz: esperando pelo cappuccino, peguei uma inocente ameixa na cesta de frutas que a Mercedes, cordialmente, deixa perto da máquina de café. Eu não estava com a mínima fome, mas lembrei do croissant e resolvi forrar o estômago com algo mais saudável. Na primeira mordida, um som ecoou dentro da minha boca. Era sábado de manhã e eu tinha quebrado o preenchimento comendo algo que eu absolutamente não precisava ter comido.

Fiz as entrevistas no cercadinho normalmente até porque não tinha escolha. O piloto fica a menos de um metro da sua cara e é impossível não notar, mas acontece. Maldita gula e maldita insistência em querer economizar com uma coisa tão simples.

Domingo, estou almoçando (novamente na Mercedes, que só não tem uma comida melhor que a Pirelli, onde só se almoça com horário marcado) e vejo na tela que Neymar e Dani Alves estão na pista como convidados da Red Bull. Algumas mensagens aqui e ali para saber se corria para a garagem para gravar uma entrevista ou os encontraria no grid e faria ao vivo, e um tempinho para rir da minha cara: no dia em que um dos brasileiros mais famosos do mundo está na F1, um pedaço do meu dente da frente não compareceu.

No grid, escolhi certo o meu lugar para esperá-lo, e ele entrou pela porta em que eu estava. Ele viu meu microfone da Band e assentiu com a cabeça que daria uma entrevista. Já ao vivo, falei para ele que ele não precisava parar, iríamos falando e andando. Fiz umas três ou quatro perguntas, ele estava completamente maravilhado com aquele movimento e, como estávamos andando pelo grid, nem olhou na minha cara. Ótimo.

Já Dani Alves já tinha sido entrevistado por mim antes e me reconheceu. Ali não teve muito jeito, entrevista cara a cara e o Dani gosta de falar. Amigos fotógrafos vieram registrar a cena e dá para perceber que estava sorrindo como uma gueixa. Classe.

https://www.instagram.com/p/BxZV0fyF0l7/

Depois da corrida, vou para o cercadinho novamente entrevistar os pilotos e descubro o resto da história. Esperando os pilotos junto com a Mari, ela me puxa para perto e fala ‘’você não tem ideia do que aconteceu comigo no grid.” Vira de costas para mim e levanta a blusa que está tampando um rasgo considerável na sua calça.

“Estávamos à caça do Neymar, cada um dos produtores me mandando para um lado, até que um falou ‘ele tá aqui!’, eu saí correndo, tropecei no cabo do microfone e caí de bunda na grama, na frente da torcida’’. Perguntei se tinha machucado. ‘’Calma, ainda não cheguei na pior parte: levantei e fui correndo atrás do bendito do Neymar, senti um certo ar na minha bunda, mas pensei ‘vejo isso depois’. Até que o Giangi me chama, pega a blusa que estava amarrada na cintura dele e falou: ‘usa isso, depois a gente vê’.’’

Foi esse momento aqui:

https://www.instagram.com/p/CN4pVEIgdCw/

Algumas pessoas depois vieram me perguntar por que eu tinha tido um ataque de riso em pleno cercadinho. Assim como meu dente, a sensação que ela tinha era de que o buraco era muito maior do que realmente era. Contei de como tinha feito minha entrevista de lado, as duas deram risada da situação, e partimos para as entrevistas.

Ah, e a entrevista dela com o Neymar também saiu. Todo repórter sabe qual é sua prioridade.

Tem uma pessoa no paddock que nunca esquece dessa história do meu dente. Jack Plooij é repórter da TV Ziggo, da Holanda, há muitos anos. Mas essa é, digamos, sua segunda identidade. Quando volta para casa, Jack é um renomado dentista, além de ser muito gente boa. Então eu mostrei o estrago para ele, expliquei toda a história, e ele me convenceu a procurar um dentista melhor. Eu segui seu conselho, e nunca mais tive problemas – ou comi uma ameixa sem precisar. 

Mas o engraçado é que, vira e mexe, ele aponta para o dente dele, do outro lado do cercadinho, e faz positivo com o dedo, perguntando se está tudo bem comigo. Vai saber o que os pilotos pensam que está acontecendo.

Já a calça da Mari foi devidamente aposentada.

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4 Comments

  1. Já sabia dessa história da Mariana, mas juntando à sua, ficou ainda mais incrível, Ju! Vcs colocam o trabalho acima de qualquer perrengue e ainda compartilham histórias com quem nunca pisou num padock. Fiquem bem e seguras, vcs são necessárias à F1😘😘.

  2. Sensacional…kkkkk


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