Já vimos e revimos porquês de 2010 ter sido uma temporada especial. Mas o que dizer do novo campeão? Seria esse o primeiro capítulo de uma história lendária na categoria, um começo ainda marcado pelos erros decorrentes da pouca idade, mas que colocaria a pedra fundamental na carreira de um alemão que superou seu ídolo? Ou será que, daqui 10, 20 anos, olharemos 2010 como o campeonato que, mesmo com um carro melhor, a Red Bull quase perdeu?
Foi um ano de mudança no sistema de pontuação, mas isso, como acompanhamos por aqui, pouco influenciou ao longo do ano. Ao final, apenas as posições de Webber e Hamilton terminariam invertidas.
Na verdade, a nova fartura dos pontos só atrapalhou a comparação com campeonatos do passado. Multiplicando os pontos conquistados por todos os campeões desde 1950 – o que se aproxima muito do sistema utilizado hoje – Vettel teria o 15º lugar (lembrando que não foram computados os vice-campeões).
Ano | Piloto | Pontos* |
2002 | Michael Schumacher | 380 |
2004 | Michael Schumacher | 367 |
2001 | Michael Schumacher | 327 |
2005 | Fernando Alonso | 322 |
2006 | Fernando Alonso | 321 |
2000 | Michael Schumacher | 286 |
1992 | Nigel Mansell | 279 |
1988 | Ayrton Senna | 275 |
1991 | Ayrton Senna | 274.5 |
2007 | Kimi Raikkonen | 272 |
1993 | Alain Prost | 271 |
1998 | Mika Hakkinen | 271 |
1995 | Michael Schumacher | 268 |
1996 | Damon Hill | 258 |
2010 | Sebastian Vettel | 256 |
*pelo sistema de 2010
Mas é claro que este campeonato foi mais longo que os demais – comparável apenas ao de 2005. Ao compararmos a média de pontos por prova de todos os campeões, vemos o quanto Vettel e a Red Bull desperdiçaram durante o ano.
Isso não diminui a conquista do alemão prodígio, que fez nada menos que 10 poles – ficou a 4 de igualar o recorde de Mansell em 1992, mas apenas a uma da melhor marca pessoal do ídolo Schumacher, 11 em 2001 – além de 3 voltas mais rápidas, 10 pódios e 5 vitórias.
Ao contrário do “outro” alemão, contou com um batalhão de peso na briga pelo título – 3 campeões mundiais e um companheiro de equipe experiente pilotando como nunca – e deu a impressão de que amadurecia sob os olhares do público, tentando, errando e sendo cobrado como se fosse um veterano. Esse é o grande valor de seu campeonato.
A partir do momento em que se colocou com zebra, depois da Bélgica, quando era 3º na classificação, deixou as trapalhadas para trás (o único erro foi na classificação de Cingapura, o que lhe custou 7 pontos) e voltou a ser aquele piloto imbatível largando da pole, como tínhamos visto em Monza-2008 e na temporada de 2009. Tendo em vista que seus erros cruciais foram em tentativas de ultrapassagens – Turquia e Spa – Sebastian já deve saber do que precisa provar que é capaz para figurar entre os grandes.
Analisando os gráficos, contudo, é impossível não imaginar o que deveria ter sido. As linhas azuis, da dupla da Red Bull, dominam claramente as posições de largada, enquanto o sobe e desce é geral nas posições de chegada.
Curiosamente, quando vemos o desenvolvimento dos pontos, são Hamilton e Vettel, os mais novos da turma, que têm a maior variação. E quem imaginaria que o título não ficaria com Webber, que tem uma clara ascensão a partir da Hungria e parecia firme na liderança, ou Alonso, que evolui quase verticalmente depois da Bélgica?
Observando os resultados de todos os pilotos, salta aos olhos a prova do quanto os testes fazem falta aos novatos. Apenas 3 dos 6 estreantes marcaram pontos, todos eles com um padrão muito semelhante durante o ano.
8 Comments
Ainda não consigo enxergar em Vettel um grande campeão, acredito que muito dessa minha imagem vem da dificuldade que o mesmo apresenta em evoluir quando vem de trás.
Com certeza é isso que falta a ele, mas também não teve muitas oportunidades de mostrar isso, com um carro tão dominante… pelo que vimos neste ano, as recuperações na China e Bélgica ficaram bem abaixo do que Hamilton e Alonso fizeram. Só em Silverstone ele foi razoavelmente bem.
Vettel ainda não é um grande campeão, mas tem total condição de vir a ser. O cara tem 23 anos de idade, é inteligente, muito rápido e vem evoluindo rapidamente.
Ele ta em franco processo de aprendizagem e é um campeão do mundo! Pelo que vejo…deve fazer muitas poles ainda!
Esse problema dele em se recuperar numa prova, ainda vem de uma certa dificuldade em ultrapassagens. É que quando vejo Hemmilton e Alonso fazendo provas com muitas ultrapassagens, fica evidente que esse é um talento especial dos grandes campeoes (Shumacher seria excessão?…gostava de ganhá-las nos boxes!)
E de qual escola vem Vettel? Ele é muito parecido com Schumacher, em vários aspectos.
Ju, excelente post! muitas idéias congestionaram minha kbça, devido a riqueza de detalhes. suas 3 perguntas iniciais são difíceis. vettel está em processo de amadurecimento, assim como hamilton. o alemão possui 2 importantes quesitos de todo grande campeão: arrojo e carisma. o primeiro, intimida o concorrente, o segundo, por mais que pareça banal, faz parte da guerra psicológica. como não se lembrar de alonso vencendo e batendo no peito, ou vettel acariciando e beijando o carro, isso não é exibicionismo puro, vai mais longe ainda, faz parte da guerra de nervos. é surpreendente ver um novato com tanta capacidade nativa, resta saber se terá estrutura para suportar os obstáculos do caminho.
Acho que nenhuma delas tem resposta, pelo menos ainda não. A única certeza é que a concorrência fez deste campeonato especial.
Sobre o carisma, acho que foi a atitude positiva de Vettel que acabou destruindo Webber no final. Ele continuou leve e sorridente – mesmo que esta seja somente uma defesa – enquanto o australiano foi consumido pela própria dureza.
um ponto muito interessante a respeito do 15º lugar de vettel, em comparação com os campeões recentes, é que, na maioria das vezes, lutavam contra um concorrente direto, ao passo que o alemão, pegou uma concorrência mais disputada. méritos para o jovem talento. em outros casos, o carro era tão superior (mclaren 88/willians 92), que a disputa foi interna, ou até mesmo não existiu. outro detalhe muito importante, é que já vimos pilotos com grandes carros perder títulos ganhos ( ex: hill em 94 e 95, mansell em 86, alonso/hamilton em 2007) ao contrário de vettel, que o menos experiência, mesmo com erros, na hora certa, teve sorte e soube driblar as dificuldades. portanto, foi uma conquista de muito valor!