Com a noção cada vez mais clara de que a recuperação de Kubica será longa, a Renault já começa a armar um plano de contenção. Não é o caso de simplesmente chamar o piloto reserva, como o próprio chefe da equipe, Eric Boullier, já adiantou. Eles precisam arrumar outro piloto número 1 para a equipe.
É claro que não há ninguém no mercado que possa suprir a falta de Kubica, o piloto que teve a maior disparidade entre seu talento e o rendimento de seu carro ano passado. E os nomes que surgem não são dos mais interessantes: Heidfeld, Liuzzi, etc. Por enquanto, é chute, e não é esse o centro da questão.
De um lado, há a óbvia preocupação com a recuperação do polonês que, nesses estágios iniciais, é de difícil previsão. Quando, como ou até se ele volta são perguntas ainda longe de serem respondidas. De outro, quais serão os próximos passos para a recuperação da Renault, que vem tentando se reerguer depois do fiasco técnico e moral de 2009, quando chegou ao fundo do poço depois de convalescer por 2 anos de maus resultados.
A ideia dos franceses era se livrar da equipe que consumia muito e ganhava pouco, mas o estouro do escândalo de Cingapura alterou os planos – acredita-se que Max Mosley tenha costurado um acordo para garantir a equipe no grid nos próximos anos, em troco de uma punição branda no julgamento do crashgate.
Grande parte das ações do time, então, foi vendida à Genii, empresa cujo negócio é fazer dinheiro. Contrataram Kubica, investiram direito, e tiveram um 2010 promissor, subindo do 8º lugar no mundial de construtores ao 5º em 12 meses. É bem verdade que, mesmo que o trabalho na pista tenha sido bem feito, não faltam dúvidas a respeito da questão financeira da equipe, que teria recebido o dinheiro da FOM adiantado no ano passado e até sido oferecida como garantia de empréstimos de sua proprietária, empresa com base em Luxemburgo (como se isso já não fosse estranho o bastante).
Ao final do ano, os negócios da equipe ficaram ainda mais nebulosos, com a parceria com a Lotus Cars. Inicialmente, foi anunciado que a montadora teria comprado os 25% que ainda estavam nas mãos da Renault. Hoje, acredita-se que quem o fez foi a própria Genii e que a Lotus entre com patrocínio, embora a empresa garanta que quer comprar o time em 2 anos. Seja como for, com a montadora mal das pernas, é mais dinheiro que não se sabe de onde veio.
No entanto, o fato do CEO da Lotus Cars, Dany Bahar, ter sido indicado como diretor da equipe, não ajuda em nada a elucidar a situação. Por que colocar um simples patrocinador no controle do time? É claro que a relação entre Lotus e Genii é mais profunda que isso e são óbvias as intenções da montadora de controlar a equipe, 4 vezes campeão mundial com Schumacher (nos tempos de Benetton) e Alonso (já com Renault). Contando que saia no lucro, a Genii está na sua, mas o que acontecerá até lá é uma incógnita.
As primeiras faíscas começaram a sair logo após o anúncio da “compra” da Lotus Cars, com Boullier fazendo questão de dizer que é ele quem manda. Depois, na apresentação do carro, Bruno Senna (cujo sobrenome cai como uma luva para a estratégia de marketing da montadora) e Romain Grosjean (protegido do chefe da equipe no programa de desenvolvimento de pilotos Gravity, uma das plataformas de negócio da Genii) se proclamaram substitutos imediatos dos pilotos titulares.
E pensar que Kubica, que ainda poderá ter papel importante nessa briga, já parecia ter escolhido seu lado, ao declarar no lançamento do carro: “até onde eu sei a Lotus é um patrocinador. Eu poderia falar sobre o sonho de guiar pela Total (referindo-se a outra marca que estampa seu carro). Acho que seria diferente se a Lotus fosse dona da equipe e estivesse totalmente envolvida. É uma boa parceira para se ter e eles têm grandes ambições. Parece promissor.”
Realmente parece promissor. O carro tem um escapamento inédito e parece ser bem nascido. Encontrar um substituto para Kubica, que tenha capacidade semelhante de liderar e acelerar, será tão difícil quanto manter essa Renault de gente demais no comando e clareza de menos nas finanças nos eixos.
12 Comments
Villeneuve ou Kimi…
Boullier acabou de dar uma entrevista falando que sua lista é Senna, Heidfeld e Liuzzi mesmo. Faz sentido porque, depois da dificuldade do Schumacher em se readaptar, ninguém quer arriscar contratar alguém que não guia de F1 faz tempo. O Kimi está completamente focado no rali, não voltaria como tapa-buraco.
Heidfeld pilotou ano passado pela Sauber, em substituição ao De la Rosa. Então, pode ser considerado como ainda em atividade. Mais do que o próprio Bruno Senna, pois aquilo que ele pilotou em 2010 não chega a ser um F1 de verdade.
Apesar da maldade do comentário sobre o Hispania, é verdade, as 6 ou 7 provas que o Heidfeld fez de Sauber valem mais que as 18 do Bruno. Isso sem contar na experiência anterior.
Estou pensando uma coisa agora: ficaria preocupada em relação à real situação do Kubica se escolhessem o Bruno e não um piloto mais em fim de carreira, claramente um tapa-buraco, como o Heidfeld. O que vocês acham?
Por mais paternalista que pareça ser, mas a falta de um comando unificado na Renault contribui mt para decisões equivocadas, onde falta um foco esportivo mais coeso, que possibilite ganhos técnicos. Imagino que Kubica possui esse teor aglutinador, por transparecer liderança via sua competitividade, funcionando como catalizador. Sua falta será preciosa, tanto no desenvolvimento, quanto na imposição dentro da pista. É uma pena! Justamente quando o carro parece ser bem nascido…..
Destes pilotos ao meu ver o mais interessante seria o Heidfeld, já pilotou carros bons e tem conhecimento bastante para desenvolver um bólido de competição.
Com relação a pergunta da Julianne, do real estado do Kubica, ainda acredito que ele volte esse ano.
Pela capacidade técnica de Kubica, a única forma que vj ele perder espaço para Bruno Senna na Renault, seria ele não voltar, ou uma sequela mt importante. Na atualidade, colocaria no nível do polonês, ou acima, apenas Vettel, Alonso e Hamilton. Esse caso se parece com 99, quando Shumacher era o referencial, e quebrou a perna, cabendo à Irvine, brigar pelo título. Posso estar tremendamente enganado, mas Bruno Senna nunca me inspirou confiança, além do sobrenome. Acredito que o polonês ainda vai nos surpreender.
Sinceramente, não vejo nada no Bruno Senna que indique um bom futuro na F1. Basta lembrar que ele chegou a tomar tempo do Yamamoto e Chandock na dagra da Hispania.
Sobre a recuperação de Kubica… olha, vendo as projeções do que foi o acidente e as fotos penso que foi um milagre ele ter sobrevivido. Se ele voltar a pilotar em alto nível na F1 seria um milagre ao cubo. De qualquer forma, será uma pena se ele não voltar. Um dos melhores que apareceu nos últimos anos.
Tenho uma “teoria em construção” de que o carro muito bom e o muito ruim nivelam os pilotos. Vemos as grandes diferenças entre os pilotos quando os carros não estão 100%, mas também não são uma draga completa, daqueles que você corrige tanto que acaba não guiando. Por isso prefiro – e também por ter sido o ano de estreia, e a gente sabe como é difícil estrear na F1 nesses dias – esperar pra ver o que o Bruno pode fazer.
Não que tenha expectativas muito altas, já que a carreira dele até aqui não é nada excepcional (3º na F3 Inglesa e vice na GP2, atrás do Pantano, ambos os resultados conseguidos em seu 2º ano nas respectivas categorias), só não gosto de ir queimando um piloto assim, de primeira.
Minha pergunta sobre a recuperação do Kubica era outra (do jeito q escrevi nem eu entendi depois!): vocês acham que a opção da Renault, seja ela qual for, dirá alguma coisa sobre a expectativa da equipe a respeito da volta dele?
Pode ser, mas na real eu acho que eles estão num mato sem cachorro!
Não dá pra ter a menor expectativa à respeito de Kubica. Provavelmente ele poderá voltar a pilotar carros mas F1 é um nível muito alto.
Em casos de reconstrução de membros, na maioria das vezes os movimentos mais sutis das mãos nunca voltam a ser os mesmos, a sensibilidade nas extremidades fica muito comprometida, nesse estado querer disputar com pessoas que têm 100% da sua capacidade motora é muito difícil.
Além do mais, com aquela quantidade de pilotos reservas, sendo que o mais experiente estreou na F1 ano passado numa carroça e sem muitas alternativas no mercado…
Acredito que a ficha caiu na Renault, e por enquanto, sabendo que ficarão na melhor das hipóteses, meses sem Kubica, estão procurando minimizar os danos, de forma que a tentativa de reerguer a Renault, e possivelmente, encorpar o marketing Lotus 2 na briga judicial. O primeiro passo sem o referencial, é tentar manter o mínimo de funcionalidade, se Robert se recuperar, é lucro. Tudo isso dependerá de como se apresentarão os coadjuvantes, na falta do ator principal.
Sobre a pergunta feita, acredito que o estado de saúde e possível recuperação de Kubica em nada vai interferir na escolha de seu substituto, até porque chegou a ser cogitada uma dupla na Renault com Raikkonen e o polonês.
Colocar um piloto de alto nível na equipe agora parece ser a única alternativa para a Renault, pois com dois pilotos meia-boca a equipe deve ir para o buraco.