O GP da Bélgica já seria complicado do ponto de vista da estratégia de qualquer maneira. Afinal, os somente dez carros só tinham feito (algumas) voltas com a pista seca e ninguém sabia quanto eles durariam ou qual seria a diferença entre o macio e o médio. As bolhas, particularmente nos carros de Red Bull, adicionaram mais um tempero de dúvida – não por acaso, a primeira frase de Adrian Newey ao encontrar seus pilotos no caminho do pódio foi “bom vê-los, garotos.”
O problema começou quando, devido às condições e ao tempo alto de volta, a opção no Q3 foi fazer o maior número possível de voltas. Então, os pilotos largaram com pneus que já haviam rodado basicamente por metade das voltas que aguentariam. As equipes que utilizavam níveis de cambagem mais agressivos observaram a formação de bolhas, principalmente nos dianteiros.
Isso fez com que Vettel e Webber parassem logo nas primeiras voltas (4 e 5), pois havia muita incerteza. A ideia era analisar o pneu para prever quantas paradas eram necessárias.
Curiosamente, a decisão acabou ajudando ambos, pois Vettel voltou apenas 10s atrás do líder – e, com os pneus novos, rodando 2s mais rápido. Quando o então primeiro colocado Alonso fez sua parada, o alemão já estava colado no espanhol. Foi nesse período que ganhou a prova, pois isso possibilitou que parasse durante o Safety Car sem perder posições.
Naquele momento, a tática, tanto da Ferrari, quanto da McLaren – com Hamilton, pois Button vinha de pneus médios, com outra estratégia – era tentar parar uma vez a menos que a Red Bull. Isso veio abaixo quando Vettel ganhou um pit stop de graça durante o Safety Car.
Mas por que Alonso não parou junto de Vettel? O espanhol havia feito seu pit stop cinco voltas antes da corrida ser interrompida e, ainda mais devido ao maior cuidado com os pneus que a Ferrari demonstra, ainda teria muitas voltas pela frente com bom rendimento. Acreditando que o alemão ainda pararia duas vezes (pois havia feito dois pit stops em 15 voltas) e temendo ficarem presos atrás de Webber, tomaram a decisão que provavelmente tirou o pódio de Alonso. Parando sob o Safety Car, o espanhol poderia alongar seu segundo stint e passar menos tempos com os pneus médios no final. É fato que o problema da Ferrari era mais de rendimento do que qualquer outro fator.
Já a corrida de Massa foi comprometida quando Nico Rosberg o ultrapassou na relargada. Nas 14 voltas que ficou atrás do piloto da Mercedes – enquanto Jenson Button passou ambos com facilidade – o brasileiro perdeu 23s para os líderes. O pneu furado só piorou as coisas.
A explicação de Massa é que o acerto do carro com pneu macio não era bom, pois não permitia que saísse colado em Rosberg na chicane e na La Source e, consequentemente, impedia o ataque na freada da Les Combes.
As recuperações de Button e Schumacher
Schumacher pode ter largado em 24º e Button em 13º, mas os dois estavam praticamente juntos (12º e 14º) após a primeira volta. A largada do alemão é ainda mais impressionante pelo fato de estar usando pneus médios, que em teoria demorariam mais para aquecer.
Ambos adotaram a mesma estratégia: fizeram 4 (Button) e 5 (Schumacher) voltas no médio para tirar o composto mais lento do caminho. Depois, fizeram três stints com pneus macios e se aproveitaram da diferença de velocidade para os carros que terminavam a corrida nos médios para superar os adversários.
Mas é lógico que muito da diferença de 20s que tinham em relação aos líderes na volta 11 foi tirada pelo Safety Car, que ainda por cima lhes deu a chance de fazer um pit stop praticamente de graça. Curiosamente, esta parada colocou Button atrás de Schumacher, em 10º e 7º, respectivamente.
Foi então que as ultrapassagens do inglês roubaram a cena. O piloto foi o que mais carros superou durante a prova (11) e, duas voltas após a relargada, já estava colado no alemão, tendo feito uma sensacional ultrapassagem dupla em Petrov e Perez. Os dois andaram juntos por cinco voltas, até que Button se desgarrou e superou o piloto da Mercedes e Sutil em uma volta.
No giro seguinte, a vítima foi Massa e, logo depois, Rosberg. Já era quarto. Enquanto isso, Schumacher continuava freado por Sutil, o qual passaria três voltas após sua terceira parada. A próxima vítima seria Rosberg, uma vez que Massa estava fora de combate por ter parado uma vez a mais. Superado o companheiro, que estava com pneus médios, restou a Schumi comemorar o quinto lugar.
Já Button forçaria até a antepenúltima volta, quando superou Alonso, também com médios, por um lugar no pódio. Um misto de boa estratégia, sorte com o Safety Car e perícia na pista.
5 Comments
brilhante como sempre!
Realmente, arrasou!
Excelente análise!
Após a parada durante o safety car, Vettel voltou atrás do Alonso, mas o ultrapassou logo depois da relargada por fora na freada da Les Combes!
cqd – como queríamos demonstrar…
muito boa a análise!
A Red Bull arriscou demais tentando dar uma de malandra para a Pirelli trocar os pneus e arriscou colocar pneus descalibrados no começo da corrida. Uma loucura!