Há sete anos, Michael Schumacher não apenas ganhou seu sétimo campeonato mundial, como também estabeleceu o teto de onde um piloto pode chegar na F-1. Recordes para qualquer lado que se olhe, de títulos a vitórias (91), poles (68), pódios (154), voltas mais rápidas (76), entre outros, que servem para quantificar o que é sucesso na categoria desde então. Assim como Senna nunca escondeu que queria chegar nos cinco títulos do então maior vencedor da história, Fangio, hoje qualquer jovem talento já é logo projetado como o novo Schumi.
Foi assim com Alonso, após os dominantes 2005 e 2006. A conta era simples: pilotando como gente grande aos 25 e ainda por cima de contrato selado com a gigante McLaren, quantos títulos o espanhol poderia colocar no bolso em 10 anos ou mais?
O ano de 2007 veio, o casamento Alonso e McLaren não vingou e uma nova estrela surgiu: agora era Lewis Hamilton o “menino” da vez. Aos 22 anos, estreara com nove pódios nas primeiras nove provas e se colocara como favorito ao título em seu ano de estreia, conquista que escapou de maneira dramática por erros nas duas provas finais.
‘Tudo bem, é coisa de novato’, era o sentimento geral. Com mais ou menos 15 anos de carreira pela frente e cadeira cativa na ‘sua’ McLaren, teria de ganhar ‘apenas’ metade para se juntar às glórias de Schumi. Questão de tempo.
Os anos se passaram e os erros se acumularam – até mesmo no ano do solitário título, no qual sofreu tantas punições quanto em 2011 – assim como as performances espetaculares – e é impressionante como a vitória sensacional de Silverstone em 2008, colocando 1min no segundo colocado na chuva, parece uma memória de outra era – e lá se vão três temporadas sem o troféu máximo.
O senso geral é de que Hamilton agora é a sombra de si mesmo, perdido, abalado pelo crescimento – quem diria! – do companheiro Button. Com a imprensa, a jovialidade e o estilo brincalhão daquele que era carinhosamente chamado de Robinho – quem diria! – por Felipe Massa se transformou em uma fala em tom baixo, respostas monossilábicas. No paddock, a companhia do pai, a madrastra e o irmão se tornou em uma solitária caminhada fechada nos óculos escuros que às vezes o acompanham até em entrevistas.
Difícil não voltar ao próprio Alonso de 2007, acuado, quase soturno com a imprensa, cometendo erros que não lhe eram característicos nas pistas – sendo o GP do Canadá o maior exemplo. O tempo fez dos meninos que certamente quebrariam as marcas de Schumi homens cheios de poréns.
Aí surge um tal Sebastian Vettel. Outro prodígio desde sempre, outra questão de tempo. Impecável no trato com a imprensa, preciso na pista, é bem verdade que demorou um pouco mais para o alemão se tornar o candidato da vez a novo Schumi. Afinal, os erros de 2010 e o que parecia uma derrota até aquela 13ª volta do último GP do ano a bordo indiscutivelmente do melhor carro e dividindo pontos com – quem diria! – Mark Webber deixaram uma pulga atrás da orelha de muita gente.
Pulga que Vettel tirou, nove vezes, em 2011. Dominou Webber como há muito tempo não se via um piloto anular um companheiro tão mais experiente (foi superado apenas três vezes em classificação e apenas uma em corrida) e alcançou marcas dignas de… um Schumacher em seus grandes dias de Ferrari.
Ainda que indubitavelmente o RB7 seja um monstro ainda melhor em classificação que seu antecessor, maximizou suas oportunidades de vencer mesmo que os rivais fossem mais competitivos aos domingos – limpou os erros e diminuiu as dúvidas a respeito de seu racecraft com ultrapassagens como sobre Alonso em Monza.
Em outras palavras, se tornou o novo Schumi. Afinal, são dois títulos no bolso aos 24 anos, pilotando como nunca em uma equipe bem estruturada e financiada, que não dá sinais de que terá seu domínio anulado de uma hora para outra.
Porém, um domínio como Schumacher e Ferrari conseguiram é difícil de ser replicado e deveria ser tratado como a exceção, não a regra. São tantas as variáveis necessárias para se fazer um carro vencedor quanto para maximizar os resultados corrida após corrida – e isso vale para a equipe e o piloto. Exemplos recentes mostram que é inútil prever o que o futuro guarda. Por que não deixar Sebastian escrever sua própria história?
6 Comments
Ótimo texto Julianne. Parabéns.
Concordo totalmente quando você diz que os feitos de Schumacher/Ferrari deveriam ser vistos como exceção.
Essa história de “novo Schummi”, “novo Senna” etc… é a maior armadilha em que um jovem talento pode se meter.
Bastou assistir ao filme de Senna pra que Lewis Hamilton, na sua megalomania burra, achasse que era uma espécie de “encarnação” do ídolo morto. O resultado é esse que vemos.
Vamos esperar que Vettel tenha melhor orientação e continue mandando brasa nas pistas.
Mais um excelente texto de uma das melhores coberturas de F1 do ano!!! PARABENS Julianne!!!
Olá Julianne!
Você vai fazer alguma análise sobre o ritmo de corrida de Button, Alonso e Vettel?
Vettel correu com o regulamento debaixo do braço? Pois eu não esperava ver a Ferrari na frente da RBR.
Abs.
Pelo menos o post de estratégia sai, Ricardo!
Também esperava um passeio da Red Bull e vou escrever sobre isso com mais calma depois da Coreia.
Não acho que o Vettel correu com o regulamento debaixo do braço, mas é fato que a Red Bull consumiu mais pneus que os rivais e também adotou uma estratégia mais cautelosa. Todas as vezes que Vettel entrou no box foi uma reação quase imediata de perder tempo em setores para Button.
Já o fato dele não ter passado Alonso para mim se deve à configuração do carro do espanhol, um dos mais rápidos no speed trap e o mais rápido no terceiro setor, o da DRS.
Muito bom o texto.
A frase final é a melhor e é exatamente o que eu penso!!
um abraço.
Excelente texto, Julianne!
Comparar pilotos de épocas diferentes é difícil de evitar, tudo bem, mas realmente essa insistência das pessoas em tentar antever as conquistas dos pilotos-revelação é um pouco cansativa.