Button x Vettel x Alonso
“Hoje não teve corrida na pista, só na estratégia”. A definição de Mark Webber para o GP do Japão não poderia ser mais apropriada. Afinal, embora a troca de posições na frente tenha sido frenética, houve, como de costume em Suzuka, pouca ação na pista.
Com o ritmo surpreendentemente semelhante entre McLaren, Red Bull e Ferrari, as posições foram decididas pelo consumo de pneus. Na frente, o conjunto Alonso-Ferrari era o mais rápido ao final de todos os stints, o que provou ser mais importante do que a velocidade em si para pular de quinto a segundo, chegando a 1s do vencedor Button.
As Red Bull, por outro lado, tiveram de antecipar todas as paradas para tentar um undercut que não funcionou justamente devido ao menor consumo de pneus dos rivais: quando tentaram parar antes para usar o melhor ritmo dos pneus novos, Button e Alonso ainda tinham vida para extrair de seus jogos.
Nesta briga pelo pódio, Vettel foi o primeiro a parar após três voltas em que teve queda de rendimento, ou seja, a Red Bull não foi conservadora, mas sim reagiu a um desgaste. O resultado foi uma queda na diferença de 5s2 para 2s5 entre os dois após a parada, sendo 1s3 no pit lane e 2s na inlap (volta em que se entra nos boxes, o que denota uma queda significativa na performance de Vettel). Nesse ponto, Alonso, que havia conseguido uma imprescindível ultrapassagem sobre Massa (com todo jeito de ordem do box) pois seu ritmo era melhor que do brasileiro, se aproveitou do furo no pneu de Hamilton e pulou de quinto a terceiro em questão de uma volta. Com uma volta voadora antes do pit, ganhou 3s em relação a Vettel.
A tendência se repetiria ao final do segundo stint: Vettel parou uma volta antes de Button e duas antes de Alonso. Embora o alemão fosse mais rápido no início da vida dos pneus, na sétima volta o ritmo de Button e Alonso já era igual ao dele e ambos passavam a ganhar tempo a partir daí.
Novamente com uma inlap muito lenta e, desta vez, contando com uma outlap 2s mais lenta que Button, perdeu a primeira posição.
O Safety Car, logo em seguida, acrescentou Alonso, que vinha mantendo-se a 5s da liderança, na disputa. O espanhol, contudo, teria primeiro de se livrar do ataque de Webber, que havia escapado do tráfego de outra briga, a dos ‘companheiros gastadores de pneu’ dos ponteiros.
Após o Safety Car, Vettel já não tinha o mesmo rendimento de Button e começou a correr riscos em relação a Alonso. Mais lento que o espanhol, que mesmo sob a pressão de Webber conservou muito bem os pneus, talvez não tivesse escolha senão parar com 19 voltas para o final – arriscando ficar sem borracha nas últimas voltas – e voltar no meio do tráfego.
Enquanto Alonso mostrou que ainda tinha pneu e melhorou seu ritmo em 0s5 na frente, Vettel ficou duas voltas preso atrás de Di Resta e ainda perdeu 3s entre a inlap e a outlap em relação a Alonso. A soma desses fatores explica a perda do segundo posto. Dali em diante, como a configuração do carro de Alonso privilegiava a velocidade no terceiro setor, da DRS, mesmo sendo mais rápido não conseguia superá-lo.
Webber x Massa, x Hamilton
Atrás desta briga, Webber, Massa e Hamilton fizeram uma prova à parte. A corrida do inglês foi seriamente comprometida pelo que os ingleses chamam de slow puncture, ou seja, um pequeno furo de pneu que vai mexendo aos poucos com a pressão e os tempos de volta*. Os 6s perdidos entre o início de sua queda de rendimento e o pit stop o levaram de segundo a quarto.
Mas esse não seria o único problema de Hamilton na corrida. Ao contrário do companheiro, o inglês acabou com seus pneus rapidamente e, em seis voltas, estava rodando 1s mais lento que os rivais. Tendo de antecipar todas as paradas, acabou longe de Webber no final.
Seria uma oportunidade para Massa, que tinha um consumo bem menor de pneus. É possível dizer, no entanto, que a briga com o inglês custou a posição com Webber pois, enquanto o australiano antecipou a segunda parada para tentar o undercut, Massa permaneceu na pista com o ritmo claramente freado por Hamilton – mesmo antes do toque entre ambos, Massa já não tinha tempo para parar e voltar à frente de Webber.
Com o toque, Massa voltou bem atrás de Webber, diferença neutralizada pelo SC. O ritmo do brasileiro era bom após a relargada, o que sugere que o pedaço de asa quebrado pouco influiu. Nesse terceiro stint, Massa usou tanto os pneus quanto Hamilton – tanto, que fez 2 voltas a menos que Alonso – e não conseguiu abrir em relação ao inglês. Provavelmente em dificuldades com o pneu médio, o piloto da Ferrari fez uma outlap 3s mais lenta que os rivais e, no início da volta seguinte, foi ultrapassado por Hamilton.
O piloto da McLaren ainda faria outra ultrapassagem fundamental, sobre Nico Rosberg que, antes de fazer sua terceira parada, era lento e abria espaço para Schumacher, então líder, parar e voltar à frente. Assim, o heptacampeão voltou justamente entre Hamilton e Massa. O brasileiro, cujos pneus tinham 5 voltas a mais, não conseguiu passar e acabou em sétimo. Talvez a tentativa de undercut na volta 20 tivesse significado um quarto lugar – o que seria o melhor resultado no ano.
*Após analisar os dados, a McLaren chegou à conclusão de que Hamilton não teve um furo. A queda de rendimento foi causada por uma altíssima degradação.
4 Comments
Eu costumo assistir as corridas acompanhando os tempos do “Live timing” e quero parabenizar sua analise sintetica da corrida. Espetacular. Desta maneira é possivel compreener melhor o q realmente acontece numa corrida. Fazem apenas 2 semanas que acompanho o seu blog e estou impressionado com a “MULHER ESTATÍSTICA”. rs Minha sugestão: manter esta análise estatísta pós corrida em rotina pós corrida.
Abraço
Eric.
Obrigada, Eric. Bem-vindo ao blog! Já faz algum tempo que eu faço essas análises – é uma das partes que mais me fascinam na F-1. Dê uma olhada na tag ‘estatísticas’ para conferir dados das outras corridas.
Antes mesmo de ver sua resposta fui vasculhar pelo blog e olhei a temporada inteira.
Fantástico.
Parabéns.
Ju, vimos o quanto a RBR pode trabalhar com a sobra de pontos do início do campeonato, tendo em vista o quanto cresceram Ferrari e Mclaren. Ao que parece, a obrigatoriedade das trocas, torna as disputas menos diretas em pista.