Mais uma vez, o emborrachamento da pista e a evolução dos carros causou uma surpresa em relação à diferença entre os compostos. Sem o abismo de 1 a 2s prometido, foram as estratégias mais conservadoras que prevaleceram em uma, não coincidentemente, corrida previsível.
Assim, o melhor foi se aproveitar da durabilidade dos pneus macios e colocar os duros apenas quando necessário. Nem foi preciso fazer uma prova de sobrevivência para minimizar o tempo no composto mais duro, pois seu rendimento não deixou a desejar em relação ao macio.
Isso explica porque as estratégias mais ousadas, das duas Renault – cada uma na sua – e da Force India de Paul Di Resta não surtiram efeito. Todos os que apostaram que seria necessário ‘inventar moda’ para evitar o duro ficaram fora dos pontos. A não ser o ‘highlander’ dos pneus, Sergio Perez, e sua Sauber à prova de desgaste: em outra corrida inteligente, o mexicano saiu de 17º para marcar um ponto após um pit stop na primeira volta e a corrida inteira em dois jogos de macios.
A tática de Perez, Di Resta e Petrov foi largar com os duros, parar logo nas primeiras três voltas e fazer a corrida toda com os macios. No caso de Senna, a opção foi a contrária – colocar o composto mais lento com quatro voltas para o final.
O problema foi que o bom rendimento do pneu duro se equilibrou com o fato desses quatro pilotos terem de fazer os macios aguentarem por mais tempo e a vantagem de performance que pensavam ter no final da prova, quando os outros estariam com os duros, não se materializou – assim como a esperança de um Safety Car. Com isso, o fato deles terem que encarar tráfego logo de cara ao parar cedo acabou pesando contra.
No caso de Senna, a tática foi até mais inteligente por evitar o tráfego a maior parte da prova e é difícil saber o quanto a falta do Kers desde a volta 11 foi determinante para o brasileiro não conseguir abrir a vantagem necessária para deixar de perder tantas posições no pit stop final. Faltaram cerca de 13s para Bruno pontuar e o Kers daria cerca de 0s3 ou 0s4/volta.
Webber e Hamilton: lentos e comedores de pneu
Em uma corrida marcada pela durabilidade dos pneus e a falta de disputas na pista, ficou claro como Hamilton e Webber vêm castigando seus Pirelli. Olhando os tempos de volta, a impressão é de que os demais só pararam para responder ao rendimento de ambos com borracha nova e não arriscar a posição. Os tempos de volta de todos estavam estabilizados, indicando que a queda de tempo pelo menor nível de combustível ainda se equilibrava com o desgaste.
Mas não para Hamilton e Webber, que além disso eram lentos em relação aos companheiros – na casa de 0s3 para o australiano e incomuns 0s5 para o inglês.
Já discutimos aqui por que é prejudicial sempre ser o primeiro a parar, principalmente quando isso é consequência de queda de rendimento: quer dizer que o piloto já vinha perdendo tempo e que vai perder ainda mais no último stint, pois aquele que gastou menos borracha terá ‘economizado’ duas voltas aqui, duas ali, e terá uma última parte da corrida mais forte.
Com a batida com Massa – que só aconteceu após um erro do brasileiro, pois nem a parada melhorou o ritmo de Hamilton – o piloto da McLaren teve de mudar sua estratégia para três paradas e, provavelmente com o carro danificado, passou a perder ainda mais em relação ao companheiro.
Mas Webber continuou firme em uma corrida que, como ele mesmo salientou após a prova, resume seu ano: atrás de Vettel o tempo todo, perda de posição na largada, pouca velocidade de reta para ultrapassar, ritmo ruim e desgaste acelerado de pneus. É assim que não se consegue uma vitória sequer no ano com um RB7 nas mãos.
Após perder a posição para Button no primeiro giro, o australiano fez apenas 21 voltas com o segundo jogo de macios – Vettel, no mesmo carro, fez 28 mesmo adotando ritmo mais rápido (no segundo stint, a diferença entre os dois simplesmente dobrou, de 8 para16s) – e abriu espaço para Alonso, que já vinha diminuindo a diferença, fazer mais duas voltas voadoras e tirar os 1s5 restantes para roubar a terceira posição. Surpreendentemente, a Ferrari manteve um bom ritmo com os duros – a última experiência, na Espanha, havia sido mais que desastrosa, com Alonso saindo da liderança para levar uma volta após colocar o composto duro – e o espanhol igualou o número de pódios do piloto da Red Bull no ano.
À moda Schumacher
Um piloto que vem aproveitando-se muito bem de tudo o que discutimos a respeito dos pneus guardados no Q3 é Michael Schumacher. Suas estratégias são baseadas no ganho de performance + vida útil de jogos de pneus inutilizados na classificação.
Assim, o alemão fez 32 voltas com um Pirelli novinho em folha no meio da corrida e superou Nico Rosberg, que usava um pneu já desgastado da classificação. É dessa maneira que o heptacampeão anula a melhor performance em classificação do companheiro, além de se fazer valer de excelentes largadas – na Índia, pulou de 11º para oitavo, logo atrás de Nico. Seu trabalho, então, é segui-lo de perto e usar as voltas extras do pneu ‘zerado’ para superá-lo.
5 Comments
Ótima analise. rápida e precisa.
Adoro este Blog!
Olá, Julianne!
Talvez essa corrida, foi uma das que teve o menor número de ultrapassagens no ano inteiro, apesar do desenho do circuito indicar o contrário antes da corrida.
Isso por causa do conservadorismo de todo mundo. A Pirelli escolheu pneus excessivamente duráveis. As equipes fizeram setups conservadores dos carros. Estratégias de corrida conservadoras. E por final, os pilotos não forçaram ultrapassagens com receio de sair do trilho e perder mais tempo.
Só ano que vem pra ter uma ideia melhor da pista.
Abs.
Sim, foram só 25 ultrapassagens, só duas paradas, gente fazendo a corrida praticamente só com pneu mole, trocas de posição na frente só na primeira volta e no box: resumindo, uma corrida com a cara de 2010, o que leva à conclusão de que, mesmo com Kers e DRS, o que realmente faz a diferença neste ano é a Pirelli.
Ju, dois fatos me chamaram atenção. Primeiro, como vc qualifica a condução/carro de Perez, que consegue fazer stints tão longos?; Segundo: vc acha que apenas a pilotagem de Webber, é capaz de explicar o abismo entre Vettel/Webber, ou uma teoria da conspiração e aceitável?
Parece se tratar de um piloto bastante sensível que, usando um carro projetado para economizar pneus – é o mesmo trem traseiro da Ferrari – consegue abrir as possibilidades de estratégia. Sobre o Webber, acho que vai gostar do post de hoje.