F1 Estratégia no GP do Bahrein e a vantagem dos pneus novos de Raikkonen e Di Resta - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia no GP do Bahrein e a vantagem dos pneus novos de Raikkonen e Di Resta

Tempo perdido atrás do companheiro pode ter custado a vitória a Kimi

“O grid está tão apertado que os pilotos podem fazer estratégias diferentes e acabar a quatro, cinco segundos um do outro.” O diagnóstico de Sebastian Vettel não poderia ser mais preciso. A luta pela vitória no GP do Bahrein, entre um piloto que largou na pole e outro em 11º, acabou sendo decidida em dois momentos: nos 3s que Raikkonen perdeu lutando com Massa no início da prova – tendo, inclusive, danos em sua asa dianteira – e na relutância da equipe em ordenar que Grosjean cedesse a posição ao finlandês, ao final de seu segundo stint.

O que permitiu ao finlandês que disputasse com o alemão foi sua estratégia de classificação. Os engenheiros calculam que cada jogo de pneus novos equivale a uma vantagem de 8s ao longo de um stint. A degradação é de 0s3 por volta e as três voltas dadas em classificação (sendo duas mais lentas) representam uma perda de performance de 0s7/volta em relação a um jogo novo.

Outra vantagem de se largar com pneus novos é poder estender o primeiro stint. Isso minimiza bastante a possibilidade de pegar o tráfego de quem fará uma parada a menos – Raikkonen, por exemplo, não teve de ultrapassar Kobayashi e Di Resta, pois eles pararam antes que o piloto da Lotus os alcançasse. É mais economia de tempo.

Raikkonen teve toda essa vantagem em relação a Vettel em três de seus quatro jogos de pneus. O finlandês guardou na classificação dois jogos de macios e dois de médios, fazendo a prova inteira com pneus novos. Para conquistar a pole, Vettel usou cinco de seus seis jogos, guardando apenas um médio, que seria crucial para a vitória.

No entanto, dado que aquele que guarda pneus muito provavelmente o fez em detrimento da classificação e está largando mais atrás, essa vantagem se materializar na corrida depende muito de como o piloto lida com o tráfego. E nesse quesito Raikkonen deu um show. É claro que sofrer a ultrapassagem de Massa nas primeiras voltas não estava nos planos, mais daí em diante o finlandês foi perfeito.

Ganhou quatro posições na largada, passou Alonso e Button na pista no primeiro stint; superou Hamilton devido aos péssimos pits do inglês; se livrou de Webber logo que voltou da primeira parada e foi à caça de Grosjean. Mas o tempo perdido atrás do companheiro, que estava com médios usados naquele momento, foi crucial na aproximação de Raikkonen em relação a Vettel. Ao menos três segundos foram para o lixo na briga interna, algo que fez com que o finlandês só chegasse no alemão nas 6 voltas finais de seu terceiro stint. E este seria o último no qual teria a vantagem do pneu novo, pois Vettel usou seu único jogo zerado na parte final, em decisão acertada da Red Bull.

Na verdade, a estratégia de Raikkonen teve dois outros pequenos erros: no Q2, o finlandês teria a clara possibilidade de ficar entre os 10 caso fizesse sua única tentativa no final da sessão, quando a pista melhorou consideravelmente – e Kimi ficou em 11º por 129 milésimos. E, quando lutava com Vettel, talvez parar uma volta antes do líder, na volta 38, quando estava a 1s do alemão, o colocaria na ponta. Provavelmente assombrada pela brusca queda de rendimento no final do GP da China, quando Raikkonen caiu de 2º para 14º em questão de três voltas, a Lotus decidiu não arriscar um stint longo demais no final. No final das contas, apesar da performance vigorosa de Kimi na pista, a atuação conservadora do pitwall foi decisiva.

Estratégia e sorte para Di Resta

Di Resta foi, pela primeira vez na carreira, o britânico mais bem posicionado em uma corrida

Uma das histórias mais intrigantes do final de semana foi a escalada de Di Resta, que não participou, junto de sua equipe, da segunda sessão de treinos livres, justamente a mais importante para determinar o ritmo de corrida e as estratégias, até o sexto lugar na corrida. E, de quebra, com a arriscada tática de duas paradas.

Antes da prova, havia quem previsse até quatro pits para a prova, mas as temperaturas bem mais baixas no domingo e a melhora da pista diminuíram o nível de desgaste, uma vez que a queda de performance vem ocorrendo não pelo gasto em si do pneu, mas pelo que a Pirelli chama de degradação termal.

A estratégia começou na classificação, quando Di Resta não saiu dos boxes no Q3. Com isso, ganhou a possibilidade de ter só pneus novos para a corrida – dois macios e um médio. A corrida não começou bem: ao contrário do que era de se esperar, mesmo com pneus novos Di Resta perdeu duas posições na largada. Teve de imprimir um ritmo mais forte a partir dali, o que o obrigou a antecipar sua parada em 5 voltas em relação ao que seria ideal. Esse foi um segundo agente complicador da tarde do piloto da Force India, pois antecipou todas suas paradas e fez com que seu último stint fosse longo demais, deixando-o exposto no final.

Mas o escocês lidou bem com o tráfego enquanto tentava poupar seus pneus, com os quais fez stints de 14, 19 e 24 voltas, sendo a dupla ultrapassagem sobre Maldonado e Perez seu ponto alto na prova. Mas é lógico que isso acabou lhe custando tempo, pois um piloto na tática de duas paradas, ainda que enfrente menos tráfego que aquele que opta por três, cruza com carros lentos justamente em suas primeiras voltas após a parada. Di Resta ficou por seis giros preso atrás de Maldonado e chegou a reclamar via rádio da agressividade dos movimentos de defesa do venezuelano.

O escocês teve sorte com o abandono de Button e a falta de velocidade de reta da Ferrari, pois Alonso veio 1s5/volta mais rápido nos últimos giros, mas não conseguiu se aproximar o suficiente para atacar e cruzou a linha de chegada a 0s2. Por outro lado, o tempo perdido com a Williams foi fundamental para a perda da posição com Rosberg, que tinha problemas no escapamento no final e diminuiu bastante o ritmo, superando Di Resta por apenas 2s.

De qualquer forma, Di Resta provou que é possível largar entre os 10 com pneus suficientes para não ter de recorrer a usados durante as corridas. Se ele fez isso com uma Force India, carro 0s8/volta mais lento que os ponteiros segundo cálculos da equipe, não é de se estranhar que algum grande, até pelo próprio exemplo de Kimi, faça o mesmo nas próximas provas.

3 Comments

  1. Ju, no começo do post, pensei até que ponto uma estratégia arriscada de menos paradas, pode ser atrelada ao bom carro. Partindo do pressuposto do fim de seu post, ao menos para galgar posições intermediárias, carros piores, ao menos com esses Pirelli, têm a possibilidade de almejar pontos, algo que com os indestrutíveis Bridgestone, ficava muito atrelado ao carro. Talvez poderíamos chamar esses novos Pirelli de Robin Hood, kkkk, pois distribuem pontos até mesmo para os mais fracos, rsrsrsrs. Acho interessante essa nova F1 mais cerebral.

  2. Ju, sobre os pneus durarem menos, temos que pensar que é até positivo, pois se pensarmos no profissionalismo que a F1 chegou, estávamos chegando a um quase perfeccionismo, onde praticamente não se via erros, onde o melhor carro colocava os Bridgestone e sumia na frente, além é claro do posto de gasolina, afundando o acelerador, e completando o tanque pra não ficar de pane seca. Muitas coisas tornaram a disputa à prova de erros, como os carros que praticamente não quebram, os câmbios automáticos, as pistas com área de escape sem brita, os simuladores de corridas que estipulam onde o piloto vai voltar, os distribuidores de freios, o controle de tração, os mapeadores de motor, enfim, a categoria estava ficando muito previsível! Esses pneus “menos” duráveis, renovaram a categoria, onde o imprevisível pode acontecer, e isso soa como ruim para os espectadores acostumados às corridas “perfeirtas” dos anos 2000. Muitos que acompanham a categoria hoje, nunca viram um piloto errar uma marcha, e perder 2, 3 segundos; motores quebravam com mais facilidade; suspensões não aguentavam tantas pancadas quanto hoje, enfim, um pouco de imprevisibilidade, torna a categoria mais humana!

  3. Julianne,

    É possível fazer alguma análise da corrida do Ricciardo? Ele se classificou muito bem em 6º, largou mal, danificou o bico e foi parar no fundão.

    Se a largada tivesse sido normal, ele teria pneus em boas condições para a corrida? Ou a boa classificação foi mais uma jogada para aparecer, gastando os pneus antes da hora?

    Abs.


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