Um pneu que dure no máximo 100km, com quatro nuances diferentes de performance x durabilidade, para ser usado por carros em constante evolução, sob condições completamente diferentes de traçados e temperatura. E, para desenvolver esse produto pra lá de exclusivo, uma máquina com dois anos de defasagem. Isso sem contar a distância tênue entre o sucesso e o marketing negativo para uma marca que está investindo milhões basicamente para correr um enorme risco.
Conversando com o diretor esportivo da Pirelli, Paul Hembery, em entrevista publicada em duas partes pelo TotalRace – na sexta e nesta segunda – fica claro que a vida de fabricante de pneus na F-1 não tem sido fácil. E muito disso tem a ver com a relutância das equipes em entrar em acordo para ceder um carro atual para que a Pirelli avalie os pneus.
O resultado foi um composto com comportamento complicado, que virou uma dor de cabeça para as próprias equipes. A Pirelli não enxergou em seu Renault-2010 a pequena janela de temperatura de pneus, não observou os problemas de aquecimento dos pneus dianteiros, que levam a traseira a escorregar e superaquecer, algo que faz o equilíbrio do carro mudar mesmo durante 15/20 voltas de um único stint. Será que poderia ser diferente?
Os carros de 2010 não tinham Kers, DRS ou o bico rebaixado e já utilizavam, ainda que não de forma tão forte quanto no ano seguinte, os gases do escapamento para melhoria do desempenho aerodinâmico. Diferenças como estas, somadas à especificidade do produto que a FIA encomendou para melhora do espetáculo, formam uma equação que dificilmente sairia às mil maravilhas.
É claro que, a todo momento que vão à pista, as equipes produzem dados para a Pirelli. O problema é que o mesmo não acontece com modelos novos. Nas ocasiões em que a empresa italiana levou compostos experimentais aos finais de semana, eles foram pouco usados, justamente porque os times estavam preocupados em testar seus próprios carros e determinar as estratégias para o restante do GP. E, ironicamente, precisam estudar bastante porque lidam com pneus com comportamento difícil!
A dificuldade em entrar em acordo para fornecer um carro de testes à Pirelli é apenas uma das brigas intermináveis nas quais falta de transparência entre as equipes sempre ganha, como vimos recentemente com a saída de Ferrari e Red Bull por discordâncias na política de fiscalização da restrição de gastos. Trata-se de mais um exemplo de que, se deixarem a F-1 nas mãos das equipes, elas a implodem. Nada que Bernie Ecclestone já não tenha percebido há quase 40 anos…
10 Comments
JU,ATÉ QUE PONTO ESSE CARRO OBSOLETO INTERFERE NO COMPORTAMENTO DOS CARROS ATUAIS ?
É nisso que dá proibir testes em autódromos fora do calendário da temporada…
Julianne nao entendo por que a Pirelli nao pode ter um carro mais atual, digo, entendo e nao entendo.
Por que as equipes nao se reuniem uma sexta feira fazem um sorteio e pronto o carro que sair sera o escolhido, ou que a Pirelii possa escolher entre os 4 melhores carros do campeonato sei la… isso eh ridiculo ….
Julianne,
A meu ver, com um só fornecedor de pneus, mesmo que tenha ocorrido de forma involuntária devido às circunstâncias que você expôs muito bem, esta situação talvez seja a melhor maneira de as coisas serem feitas sem favorecimentos a A, B ou C, deliberadamente ou não. Com a coisa assim simplificada e tosca, fica tudo imprevisível. E o fabricante fica isento de quaisquer tipos de insinuações por parte dos competidores, sejam eles pilotos ou equipes. Mesmo assim, já li por aí comentários de aficionados questionando a isenção do fabricante, hipótese que eu prefiro não endossar nem acreditar. Arrematando, fizeram involuntariamente a coisa certa por vias tortas, garantindo essa loteria de resultados que temos presenciado e o interesse pelo espetáculo.(embora artificial).
Hehe, concordo com vc Aucam, kkkkk, Pirelli tosca foi legal, kkkkk. A adaptação deve ser uma surpresa, pois escolhendo um carro de determinada equipe, pode favorecer a compreensão do fabricante do bólido, por mais que tenhamos defasagem de regulamento….no mais, o improviso faz parte da mente desses engenheiros fora-de-série.
Caro Wagner,
É isso aí. E melhor ainda foi terem pego um carro de uma equipe que nem compete mais. A imprevisibilidade passa a ser total para todas as equipes, afastando o risco que você apontou.
Abs.
Caro Wagner:
É isso aí. Além de um modelo “velho”, melhor ainda foi terem pego um carro de uma equipe que não compete mais. A imprevisibilidade passa a ser total e a mesma para todas as equipes, afastando o risco que você apontou.
Abs.
Na verdade, a equipe só não compete com o mesmo nome, mas é exatamente a equipe Lotus de hoje, até com a mesma administração e equipe de engenharia.
Ops, pisei na bola, há,há,há,há!!! Você marca em cima. . . Obrigado pela correção!
Ih, eu ainda estava pensando na Toyota. . . De certo modo, aquela Renault de antigamente não existe mais.