Em mais uma corrida épica em Interlagos, o que mais me surpreendeu (positivamente) foi a maneira como Vettel brigou por esse título, assumindo riscos, tanto para segurar Hamilton em Austin, quanto por diversas vezes no GP do Brasil. E isso, em uma corrida em que apenas por três ou quatro voltas não esteve em posição de ser campeão, tamanha sua vantagem. Mostrou, com isso, uma necessidade de ganhar fazendo bonito, sem ficar com o regulamento debaixo do braço, que ainda não tínhamos visto em sua carreira.
Há quem chia quando ouve/lê que o piloto nunca venceu largando atrás de terceiro. Isso continua sendo um fato, mas o erro é achar que desmerece Vettel. Simplesmente diz que, pela forma como sua carreira aconteceu até agora, ele ainda não teve muitas chance de fazê-lo. Quando elas aparecerem, cada vez fica mais claro que ele vai aproveitar.
Estamos vendo o desenvolvimento daquela que tem tudo para ser uma das grandes carreiras da história da F-1. Se Vettel, hoje, não se mostra tão completo quanto Alonso, tem seis anos a menos que o espanhol e caminha para chegar e até superar seus feitos. E não estou falando em números.
A grande marca de Vettel é sua constante evolução. Diferentemente de Hamilton, cujo talento natural é inegável, mas que não consegue replicar constantemente a consistência de suas nove primeiras provas da carreira, o alemão a cada corrida mostra uma qualidade nova.
No primeiro campeonato, seu desafio era deixar de cometer erros em disputas por posição. No segundo, mostrou grande adaptação a um carro que exigia uma tocada diferente com o escapamento soprado. Agora, soube compreender junto da equipe por que não conseguia, como ele mesmo disse, “fazer seus truques” com o carro e recuperou o terreno perdido no início do ano.
Mesmo o campeonato mais maluco da história terminou coroando o melhor conjunto do ano. À Ferrari de Alonso, faltou fôlego na compreensão de como melhorar o carro, justamente o que sobrou na Red Bull. Mas não é a pilotagem mais impressionante e vistosa do espanhol ao longo do campeonato que tira qualquer mérito da conquista de Vettel. Da mesma forma que Hamilton e Raikkonen foram praticamente perfeitos e saíram de mãos abanando. Esse ano só mostra que o nível de competitividade da Fórmula 1 hoje é tão grande que não basta ser impecável na pista para levar o caneco.
14 Comments
Mais uma vez, excelente análise.
Jú eu fiz essa pergunta pro Ico mas gostaria de aproveitar a deixa e fazer aqui também:
A McLaren perde Hamilton, um campeão criado na equipe desde criança, e os rumores de que ele e Ron Dennis têm divergências sérias parecem fazer sentido.
A Ferrari ganha cada vez mais a antipatia dos torcedores e da imprensa, por causa do seu já conhecido ‘modus operandi’.
Você acha que esse domínio da RedBul já há três temporadas é explicado em parte pelo fato de que, o tipo de gerência que as duas primeiras praticam esteja talvez ultrapassado?
É uma pergunta interessante, estava pensando sobre isso hoje de manhã. Não colocaria McLaren e Ferrari no mesmo saco, são falhas diferentes… bom, se começar a falar, vai dar um post, então fica como um dos assuntos para esse “longo e tenebroso” inverno que teremos adiante!
Eu coloco Ferrari e McLaren no mesmo saco não pelos motivos pelos quais cada equipe deixou de vencer. Mas sim pelo tipo de filosofia que Ron Dennis e Montezemolo aplicam: “A equipe acima de todos os interesses”.
Tenho curiosidade em saber como funciona isso na RedBull, se eles trouxeram realmente alguma inovação na maneira de gerir uma equipe de F1, e se isso poderia significar uma mudança de paradigma na categoria daqui em diante.
A RedBull não constrói carros ao contrário das outras duas…
Mas vc tem razão, vamos falando ao longo desses meses. Abs
Muito bom!
Para mim, esse é o melhor blog brasileiro sobre F1. Sempre fico na espera das análises técnicas aqui presente.
Parabéns pelo trabalho Julianne e espero o grande trabalho em 2013.
Julianne,
Discordando um pouquinho de você mas sem retirar um nanograma do talento de Alonso, penso que a evolução do Vettel levou-o a um patamar em que hoje ele nada fica a dever ao espanhol. Mas deve evoluir para ficar ainda melhor. Os fatos estão aí para comprovar isso. A esta altura, já tenho pouquíssimas dúvidas de que ele no futuro terá números estatísticos melhores que Hamilton e Alonso. Seu padrão de excelência será lembrado e comparável pelos estudiosos àquele do conjunto Clark/Chapman, se continuar com Newey. Realmente, ele aproveita e interpreta de maneira dificilmente igualável toda a genialidade de Adrian Newey.
Lewis este ano pilotou magnificamente, mas sofreu muitas quebras de carro e pisadas de bola da McLaren, e também poderia ter sido o campeão. Espero que Hamilton consiga traduzir em mais títulos a sua genialidade, pois tem em doses superlativas as características que mais aprecio em um piloto: ímpeto e arrojo, dai a minha torcida ir para ele (e igualmente para o injustiçado Kobayashi). No fim das contas, só um piloto pode ser o campeão e, com muita justiça, Vettel mereceu o título, sem margem para contestações, na minha simples opinião. E creio que será tetra no próximo ano.
No mais, sua análise está brilhante como sempre. E ainda por cima, você é atenciosa e responde às perguntas de seus leitores, coisa que pouco se vê em outros blogs. Julianne, digamos assim que você está num padrão Vettel!!! Nem precisa responder a este comentário, estou dizendo apenas a verdade, nada mais que a verdade.
concordo em tudo com vc Aucam, torço por Hamilton por esse motivos tambem, entretanto em consistencia frieza inteligencia o Vettel está já afrente de Alonso embora a midia como um todo ache Alonso o mais completo, o que eu gostaria que fosse explicado se Alonso é o melhor porque massa foi melhor nessas ultimas corrida especialmente quando Alonso mais precisava mostar sua capacidade foi mais lento que Felipe….
Ju, que Vettel é um grande piloto, é inquestionável, mas também é fato que hj ele possui o melhor engenheiro, o mais criativo. Imagino que próximo de Newey, apenas o corpo técnico da Mclaren, que se não tivesse quebras variadas, poderia ter vencido com Hamilton, tamanha a supremacia em alguns momentos. Sem Hamilton, não acredito na Mclaren de Button…Vettel para mim, ainda tem que provar que pode ganhar com um carro ruim, algo que o RB-8 provou não ser. Fala-se de jogo de equipe da Ferrari, mas o que dizer das duas STR abrindo para Vettel, e da “vergonhosa” abertura de Shumacher para Vettel? Shumy jogou duro com Kimi e Koba, esportivamente não poderia ter cedido posição facilmente para Vettel, afinal são equipes diferentes, além de Webber que foi para fora da pista algumas vezes, enfim esses pequenos detalhes vão contra o discurso puritano dos taurinos, que se esqueceram do mapeamento de motor que “imitava” o controle de tração, enfim, visualizando a pilotagem pura, Vettel ainda tem que provar muito ainda sem ter o melhor carro, mesmo sendo acima da média. Ps: Ju, vc poderia fazer uma listagem dos abandonos na temporada, para termos uma melhor idéia do aproveitamento das equipes, mas no chutômetro, a RBR sobrou, no quesito velocidade, mesmo com muitas quebras, idem a Mclaren, ao passo que o segundo lugar da Ferrari, mesmo com toda durabilidade, mostra um carro mediano, que viveu das migalhas de RBR e Mclaren. Sobre o gerenciamento, a diferença que vejo da RBR de 2010 para 2012, é que realmente deixaram a briga acontecer no passado(o que possibilitou a Alonso quase ser campeão, afinal o RBR era de outro planeta), ao passo que de 2011 para cá, focaram em Vettel, colocando Webber “nada mal para um segundo piloto” no papel que lhe convém, pois podemos ver que grande parte dos problemas acontecem com o canguru australiano…Vettel é bom, mas o foguete da RBR facilita muito e encobre os erros da equipe e do piloto.
Excelente análise Julianne, como sempre.
Vettel campeão com justiça e cada vez restam menos dúvidas sobre seu talento. Vettel venceu 5 corridas na temporada mas curiosamente tenho comigo que as 3 melhores corridas que ele fez não foi nenhuma das que ganhou. Foram as corridas de SPA, Abu Dhabi e Interlagos, aonde o Tião alemão fez corridas fantásticas de recuperação com várias ultrapassagens. Parabéns 🙂
“No segundo, mostrou grande adaptação a um carro”
Não seria :
“No terceiro, …” ?
No segundo campeonato/título ninguem viu Vettel… De tão na frente ele estava…
Pelo jeito nem Julianne … 😉
Sim, me refiro ao segundo. Em que pese a vantagem de carro, nem Webber o viu devido a sua adaptação ao difusor soprado.
Se a Lotus tivesse outro piloto mais constante poderia ter brigado pela segunda posição no mundial de construtores.
De fato Vettel tem se adaptado aos carros que a RBR oferece. Se é muito superior, ganha com antecipação. Se não é tão superior assim, ganha e ponto. Vi alguns comentários sobre o RBR8 ser um foguete.
Bem, parece que os conceitos mudaram. No meu tempo foguete dava o vice campeonato ao Patrese na frente de Senna e Scumacher, ou o vice a Barrichello vendo os 3ºs(Montoya e Button) de luneta. Agora vejo Webber em 6º, atrás de Vettel, uma Ferrari, uma Lotus e das DUAS Mclarens. Foguete?! Sei.
O carro é bom, mas se Vettel não tira do carro tudo o que o carro tem(porque tirar mais é impossível pelas leis da física-essa é para os messianicos), não teria feito o campeão.