F1 Estratégia do GP do Brasil: como Vettel “ganhou e perdeu” por duas vezes o campeonato - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP do Brasil: como Vettel “ganhou e perdeu” por duas vezes o campeonato

Conversando com outros jornalistas mesmo horas depois do GP do Brasil, a opinião era a mesma: preciso ver essa corrida de novo para entender tudo o que aconteceu. Imagino o desafio de traçar a melhor estratégia em um tipo de prova que é o terror de qualquer equipe: nem na chuva, nem no seco.

Mesmo assim, os postulantes ao título não decepcionaram, com Vettel sobrevivendo a uma bela pancada na região do escapamento, o rádio quebrado e quatro paradas para chegar em sexto e Alonso ganhando seis posições em relação à largada, só incapaz de acompanhar o ritmo da McLaren, ficando a uma posição de conquistar o título. Ambos, também, contaram com valiosas ajudas de seus escudeiros, importantes em momentos-chave da prova.

Quando as gotas, que apareceram timidamente antes da largada, se intensificaram, muitas equipes dividiram sua estratégia. Massa e Hulkenberg fizeram a boa aposta de seguir a decisão de Button de ficar na pista – é neste tipo de condição que o inglês se sobressai. Por algumas voltas, pareceu que o traçado estava realmente molhado demais, mas logo ficou claro que quem havia colocado os intermediários estava superaquecendo os pneus.

Também parecia haver uma diferença de carros. A Ferrari, ao contrário do que aconteceu no início do ano, aparentava ser particularmente difícil com pneus de seco e pista úmida. Alonso escapou por duas vezes e Massa, mais de 3s/volta mais lento, perdeu 8 posições em quatro voltas e teve de reverter sua estratégia.

Longe dos que erraram e colocaram os intermediários e os que não conseguiam gerar temperatura suficiente para se segurar na pista com os pneus de seco, Button e Hulkenberg se viram 45s à frente do rival mais próximo, Hamilton. Mas a vantagem foi dizimada pelo Safety Car em decorrência dos detritos na pista que furaram o pneu de Nico Rosberg.

Na volta 30, começou uma nova corrida, com todos com os pneus duros – a Ferrari era a única com médios, talvez esperando mais chuva, uma vez que não aguentariam até o final. Nesta “segunda prova”, Vettel “largou” em quinto, na cola de Alonso, após ultrapassar as nanicas, as Toro Rosso, Rosberg e Di Resta, vindo de 22º. A insistência em ficar na pista com os pneus para pista seca, fez com que Massa caísse para 11º.

Talvez pelos danos no carro, Vettel caiu para sétimo e perdeu 15s para Alonso. Duas voltas antes da chuva voltar a cair, fez uma troca equivocada para colocar pneus de seco. Com o alemão tendo de reverter a troca, Vettel e a Red Bull arriscaram perder o título e, talvez, estivessem em um circuito mais longo, teriam corrido sério risco, com mais carros entre o alemão e os pontos. Afinal, impressiona que o grid tenha se separado tanto em 24 voltas após o SC de forma que Vettel, mesmo perdendo cerca de 29s, tenha voltado em 11º. Dada a oportunidade de se recuperar de toda a lambança da equipe, que tinha dificuldades de comunicação, o piloto logo voltou a somar pontos suficientes para selar o título.

Após as mesmas 24 voltas, Alonso já estava a mais de 17s da ponta, mostrando que a Ferrari, na mesma condição em que havia sido imbatível até então na temporada – corrida da Malásia e treinos da Alemanha e Grã-Bretanha – ficara para trás.

Voltando à corrida de Massa, as sete voltas após a relargada foram espetaculares, com seis posições ganhas. Isso o colocou novamente logo atrás de Alonso. Ao colocar pneus de chuva uma volta antes do companheiro, voltou bem à frente, pois a inlap de Alonso foi bastante lenta pela chuva. Com Vettel em sétimo a nove voltas do final, a Ferrari ordenou a troca, justificável em uma prova na qual tudo poderia acontecer.

Por um lado, é uma pena que a chuva tenha sido um personagem tão central. Por outro, a última corrida do ano foi uma representação fiel daquela temporada que parecia um sonho distante em fevereiro: corridas animadas como as de 2011, e um campeonato de tirar o fôlego como em 2010. Vai ser difícil 2013 superar isso.

28 Comments

  1. Corrida maluca! Fechando o campeonato com chave de ouro.

    Ainda acho que Alonso “sentiu” a pressão de não poder errar, tanto em Austin quanto em Interlagos. Afinal o que justifica de uma hora para outra ele começar a tomar tempo do Massa em treinos, classificação e corrida?

    • Muito fácil amigo.
      Gary Anderson respondeu isso ontem em seu Blog na BBC.
      A Ferrari perdeu a resistência em reta que tinha no começo do ano, e desde o GP da Coréia, houve a tendência de GPs com longas retas como na Índia, em Abu Dahbi, em Austin e em Interlagos, e como Felipe é um piloto mais agressivo do que o Alonso, ele começou a se sobressair em relação ao companheiro. E essa é uma característica entre os 2 pilotos. Felipe no ano passado também foi melhor a partir da Coréia, graças ao seu estilo de condução agressiva, quando comparado ao estilo “gestor” de Alonso.

      • Ou não… Também acho que boa parcela desse fim de ano pode ser colocada na conta de pressão. Houve muitas pistas com estilos que favorecem o agressivo Massa (Alonso não é tão gestor assim quanto se pensa, ele é mais agressivo ainda que Massa) e ainda assim o Massa era pior.

        A pressão foi sentida mas acho que a maior não é a de Alonso por ele mesmo. É a de Alonso por um carro que ele sabia de antemão que não tinha chances de título. O que pressionou Alonso era que ele sabia que jamais teria como competir com o Seb. Culpa claro do carro. Aí ele acabou perdendo o foco. Minha humilde opinião.

    • É muito simples caro Ricardo. Quando o Vettel ganhou e Alonso ficou a menos de 30 pontos após o Strike de Grosjean. O assunto ficou para homens, e o Alonso virou coco de Galinha. Só isso!

      • Mas e os erros de Vettel em Abu Dhabi e Interlagos, mesmo possuindo o “melhor” carro, foi pressão?

        • A RBR macarou nesse final de campeonato os erros da equipe e de Vettel, ao passo que mesmo sem errar nesse campeonato, Alonso não teve carro para tanto. Me lembro que em toda temporada, os erros de pilotagem de Alonso foram na classificação da Austrália, e as duas escorregadas no S do Senna na corrida em Interlagos, já Vettel com o melhor carro, quantos erros foram?

          • Ps: o RB-8

        • Acho que tanto o Alonso como o Vettel sentiram a pressão, só que o espanhol arriscou menos pois sabia que não tinha carro para se recuperar caso errasse na classificação ou corrida. Já com o Vettel foi diferente, ele errou em Interlagos por excesso de cuidado e foi tocado pelo Senna, só que tinha um carro bom o suficiente para se recuperar. Em Abu Dhabi foi um passeio, tal a superioridade do RB8 após as alterações do ‘parc-ferme’ e o erro foi da equipe com a história da falta de gasolina.

        • Erros do Vettel?!?!?! A equipe caga a corrida do pia e o erro foi dele?!?!?! Cê tá de brincadeira… Dirige na chuva com alguém te falando o tempo todo pra ir com calma pra ver oq vc faz (sem chance de responder pq o rádio estava quebrado).

          O piá voou quando precisou, depois de ir pra último apareceu em 6º atrás do Alonso… ANTES DO SAFETY CAR, antes que alguém diga “Ah, mas teve SC”… O piá brincou nessa prova.

  2. Vettel largou com excesso de cautela, trocou a ponta pelo o meio do grid, onde o risco é maior. No lance do acidente, freou tão cedo que Kimi Raikkonen já poderia tê-lo abalroado, mas optou por passar reto, evitando o choque.

    Depois da entrada do Safety Car, na relargada, novamente ele foi cuidadoso demais e terminou por prejudicar Mark Webber, que também optou por passar reto para não causar problemas pro companheiro. A passividade com que se deixou ultrapassar por Felipe Massa, sem opor qualquer resistência, demonstram claramente que esse excesso de cautela atrapalhou o alemão.

    Talvez a cautela não combine com o estilo de pilotagem de Vettel, além de ter sido a primeira vez que ele chegava à uma decisão com algo a perder. O fato é que, em Interlagos, Vettel só esteve bem quando se viu perdido, desesperado. A recuperação inicial, após o acidente na 1ª volta e, no trecho final do GP, após duas paradas de boxes, em sequência, foram ótimos momentos do campeão. De resto, foi uma das piores corridas dele, em 2012.

    • Talvez por isso ele mesmo tivesse que assumir as rédeas e andar como queria, com a equipe implorando para ele diminuir. O que ele ultrapassou e andou melhor na chuva foi uma barbaridade. Quando estava em igualdade foi quase sempre o melhor da pista. A equipe destruiu o campeonato dele algumas vezes. O menino sai com uma moral imensa na equipe.

      Fiquei ao fim com pena do Alonso e o campeonato dele me remete o de Senna, em 1993. Ambos os casos pilotos espetaculares com carros miseravelmente razoaveis competindo contra foguetes e ainda assim brilhando e muito. Que temporada fez o espanhol. Mas ganha o conjunto. Valeu pq ele será sempre lembrado pelas corridas espetaculares mais que pelo título. Damon Hill e Hakkinnen que o digam. Gilles Villeneuve também. =D

      • Desculpe-me se entendi equivocadamente o que diz quís dizer, Américo, mas eu retiraria Hakkinen dessa citação. Sugiro-lhe digitar no Youtube hakkinen x schumacher spa 2000: há vários vídeos sobre essa antológica ultrapassagem que o finlandês fez no alemão, não deixe de vê-los. Como disse muito bem alguém por lá, “No DRS, no KERS, ONLY BALLS”. . . Hakkinen foi um formidável piloto, rapidíssimo e, na minha opinião, é subavaliado. Se você ampliar o contexto histórico, vai encontrar nomes mais significativos para o que deseja exemplificar. Penso ainda que houve campeões mais fracos que Damon Hill. Certas avaliações e comparações entre campeões são complicadas mesmo. E por achar também que existem nomes e façanhas que valem mais do que números, não resisto a acrescentar Peterson ao lado de Gilles Villeneuve. Moss também. Três nomes superlativos sem títulos.

        Mas respeito a sua opinião, é claro!

        Abraços.

        • Correção: o que VOCÊ quís dizer etc. etc.

        • Tá, uma ultrapassagem só. Quem vive de uma ultrapassagem só? E nessa ultrapassagem ele foi ajudado pelo Ricardo Zonta, e não atrapalhado, qualquer simulador vc pode fazer igual sem nenhuma dificuldade (o Schumi teria que ir pra um dos lados e ele com certeza o Mika escolheria o outro, estando a mais de 10km/h mais rápido, até o fim ele passaria de certeza, é só perceber a forma como ele se aproxima).

          Ainda assim não estou desdenhando o Hakkinen. Sugiro que vc procure no youtube tem ultrapassagens e manobras muito melhores que essa que, estéticamente até é bonita, mas é mto fácil do ponto de vista do cara que passa e indefensável do ponto de vista do Schumi. Tem vídeos muito bons de fãs dele com proezas muito melhores que esta. Um mesmo, não tenho como procurar o link agora, mas ele defende de 5 caras e ninguém passa ele, na época que a Mclaren era uma carroça. Um deles, Damon Hill, quase passa por fora da pista, de tão mais rápido que está, mas joga limpo e volta pra trás. Também concordo que ele foi bom… Mas os títulos lhe caíram no colo por estar no momento certo, devido óbvio a sua competência, claro. Foi um bom piloto.

          Peterson e Moss são dois gigantes que não venceram campeonatos, com certeza. Há mais alguns ainda que foram muito bons mas estiveram ao lado de gigantes… Nos anos 80 temos muitos que, coitados, estavam ao lado de Senna, Piquet, Mansell, Prost, Lauda, etc… Coitado deles, alguns ótimos mas não a ponto de ganhar, huashuashuas.

          • Muito boa a sua citação sobre a ultrapassagem de Hakkinen sobre Schumacher em SPA 2000. Todo mundo a canta em prosa e verso como uma das maiores de todos os tempos. Na minha opinião, Zonta, piloto de testes da McLaren na época (“emprestado” à BAR), deixou espaço para Mika de seu lado direito, o que é extremamente incomum. Normalmente um retardatário “encosta” à direita e tira o pé, como vemos sempre. Mas Zonta ficou no meio… Schumacher, como é tradicional, passou pela esquerda (não estavam na Inglaterra…) e Mika teve tempo de ver a opção do alemão e a via alternativa aberta por Zonta à direita. Simples assim…

          • Américo, respeito a sua opinião e vejo que ela é até convergente com a minha em muitos pontos. A ultrapassagem – antológica, repito – que eu citei foi para exemplificar o conceito que faço de Hakkinen, e divirjo do seu primeiro parágrafo, pois a qualidade de sua pilotagem não seria menor se ela não tivesse ocorrido. Zonta, a meu ver, foi um fator complicador, mas cada um tem seu ponto de vista, e isso é ótimo.

            Abraços.

          • Aucam, é o que eu disse… Eu acho o Hakkinnen um cara extremamente competente. O Senna falava que a pilotagem dele era muito boa, e olha que ele elogiou poucos.

            Mas F1 é isso. Cada um vai pensar uma coisa diferente. Essa é a magia da brincadeira. E principalmente das discussões. E isso é muito bom. o/

            Eu não creio que o Zonta facilitou, como citado pelo Salvador Costa, pq os dois vieram muito mais rápido que o Zonta e o Zonta nem deve ter visto eles chegarem. Mas também não acredito ser complicador.

            E como disse, tem uns vídeos, não dessa ultrapassagem, mas de conjuntos de coisas feitas pelo Hakkinnen que, segundo minha opinião, confirmam muito mais que o cara pilotou muito. Mas foi muito ajudado pelo carro que teve em mãos. É o que ocorre normalmente para fazer um campeão: competência extrema com um carro competitivo.

            Grande abraço e obrigado pela oportunidade de trocar ideia.

      • Eu não entendo pq insistem em falar que o coitado do grande piloto Alonso tinha uma mexerreca de carro; Acho que foi em India que Fry se encheu o saco e disse “que o que faltava era piloto na classificação”, quase terminando em tumulto no paddock.
        Não acho Alonsonso tão grande nem a Ferrari tão ruin. Mas sim que esta muito sobrevaluado pelos dois campeonatos que ganhou quando teve a oportunidade do foguete sosinho. Quando teve a oportunidade de foguete em igualde de condições que Hamilton, levou porrada.
        Revise os conceitos Americo, Alonso com sua Ferrari não só ficou por baixo de RBRs y McLarens na classificação, ficou muitas vezes por baixo da Carroça de Maldonado, e nem por isso vamos considerar o Maldoso um piloto espectacular. Será que o Pat Fry não terá dado na ferida?

  3. Hey Ju, você vai fazer aquela mescla das transmissões espanholas, brasileira e inglesa deste GP? Tô ansioso pra ver como foram as reações dos espanhóis, essa dança da chuva foi tão desejada que eles devem estar doidos até agora do porque o Vettel teve o sucesso de pilotagem que eles sonharam para o Alonso em Interlagos.

    • E trazer a de Austin também, se der… Pode demorar pra terminar, agente espera roendo as unhas, mas espera… Como diria minha sobrinha de 4 aninhos: Pufavô!

    • Vou sim. Talvez demore um pouco mais, mais vai sair!

      • Ansioso!

    • Pois é, eu faria a mesma pergunta. Aliás, tenho muita curiosidade de saber como os espanhóis trataram o caso da quebra do lacre do câmbio do Felipe em Austin. E de saber também como o Lobato foi do êxtase com a batida de Vettel na largada à depressão com a recuperação e título do alemão.

  4. Julianne, uma correção: Pelo que aconteceu esta semana dá pra dizer que Vettel perdeu e ganhou TRES vezes o campeonato :D. Fico pensando na Ferrari, perdeu na pista, no tribunal e ainda foi chamada de piada por Ecclestone. Podiam ter saido sem essa mas teriam que ser bons perdedores pra isso.
    Abraços. 😉

  5. Vettel é grande piloto, mas contar com um carro campeão de construtores por 3 anos seguidos, ajuda muito! Espero que ele prove sua capacidade quando não contar com os trabalhos de Newey, daí veremos o quilate do garoto, pois como bem disse o Aucam, “não é necessário vencer campeonatos para se ver os bons…” Aos que não reconhecem a capacidade de Alonso, e misturam divagações psicológicas com pilotagem, tenho uma conclusão: ou torcem por Massa ou Nelsinho Piquet, fato, pois o que esse espanhol já fez em pista, não é pra qualquer piloto mediano…
    https://www.youtube.com/watch?v=e9tsdFbA8UM
    https://www.youtube.com/watch?v=JXPmzWnpHgU
    Vitórias com um carro inferior, e sem DRS!

    • Ps: e sem ajuda de companheiro de equipe.

    • Bom, sei lá… Não discuto a capacidade do Alonso. O Cara é realmente um piloto grandioso. Mas acho que ainda falta algo. Talvez aquele culhão que os gigantes ganham em momento de decisão. Vemos isso em muitas ocasiões. Pilotos que assumem o risco e fazem acontecer na marra… Senna, Schumacher, Piquet, assumiram riscos demasiados pra ganhar um campeonato. O Schumi em desvantagem correu feito um desesperado pra tentar vencer o Hakkinnen. Não funcionou, mas tem que ter culhão pra assumir o risco e tentar assim.

      Não falta só pro Alonso isso. Falta pro Vettel e pro Hamilton também.


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