F1 Os impactos da mudança da Pirelli - Julianne Cerasoli Skip to content

Os impactos da mudança da Pirelli

A decisão veio em release de imprensa assim que foi dada a bandeirada, e bem no dia em que a Ferrari ensaiava uma mudança no paradigma do campeonato, deixando de lado os deltas de tempo de volta e apostando na maior velocidade para vencer. Como se quatro pit stops fosse um número maldito que não pode ser repetido. E mesmo que, considerando o coquetel de Barcelona (abrasividade do asfalto, muitas curvas de raio longo e média/alta velocidade e temperatura razoavelmente alta) junto da evolução dos carros, não se tornasse o padrão.

A única justificativa plausível para as mudanças anunciadas pela Pirelli, visando aliar o ganho de performance de 2013 com o tipo de construção de 2012, seria evitar os pneus dechapados das últimas duas provas. Até o vencedor em Barcelona, Alonso, sofreu uma queda de pressão (slow puncture) e poderia ter ficado pelo caminho. Um pneu furar por superaquecimento causado por detritos realmente não pode ocorrer na F-1 e, nesse sentido, as alterações são bem-vindas.

Contudo, se do ponto de vista de segurança parece positivo, do esportivo e econômico, é questionável. O retorno à estrutura do pneu do ano passado significa uma mudança em sua forma, especialmente na flexão das laterais, o que altera sua influência aerodinâmica e a maneira como os carros trabalham para gerar temperatura. Basicamente, observa-se que os carros mecanicamente melhores são mais efetivos com o pneu deste ano, enquanto os aerodinamicamente mais eficientes acabam desgastando-os em demasia. Esse equilíbrio deve ser alterado com o retorno ao tipo de construção anterior.

As equipes trabalharão com modelos sedidos pela Pirelli de escala de túnel de vento (60%) e terão de fazer alterações nas suspensões (vão rever tudo, desde a geometria até amortecedores e molas), dutos de freio, asas dianteiras, endplates e assoalho.

Em 2011, apenas Red Bull e McLaren conseguiam fazer o pneu duro chegar a sua zona de temperatura. Um claro exemplo disso foi o GP da Espanha, vencido por Sebastian Vettel com (adivinhe!) quatro paradas. Naquela prova, Fernando Alonso foi o Nico Rosberg da vez: estava a 11s do líder até colocar os pneus duros, na volta 29. Na 63, tinha levado uma volta.

Manter aqueles pneus, mesmo que 10 equipes não conseguissem usá-los, foi justo do ponto de vista esportivo? Claro, os engenheiros haviam recebido a mesma informação para desenvolver seus projetos. Era positivo para o espetáculo? Nem tanto e, por isso, os pneus foram modificados – para a temporada seguinte.

Mas a grande questão de mudar as regras no meio do jogo é econômica. As pesquisas para alterar principalmente o fluxo aerodinâmico da parte dianteira do carro vão sobrecarregar as equipes justamente em um período delicado, em que estariam aumentando o orçamento destinado a 2014. Isso certamente vai prejudicar a Force India e pode ter seu reflexo na Lotus, cujo fluxo de caixa menor que Ferrari e Red Bull vai exigir escolhas difíceis.

E não há garantias de que esse é o fim da corrida com deltas de tempo ou de que gerará mais brigas ferrenhas por posição. Note que os pneus não serão os do ano passado, até porque o regulamento agora determina que eles sejam mais pesados, e a promessa é da melhoria da performance final, observada neste ano, continuar. A Pirelli tem menos de um mês para aparecer com esses protótipos e, as equipes, para se adaptar. Sem testes.

Geralmente às quartas-feiras pós-GP, publico a análise estratégica da prova. Em termos gerais, o post de domingo resume o que aconteceu, mas quem tiver dúvidas pontuais pode postar nos comentários.

9 Comments

  1. Julianne,

    Estou copiando exatamente o que escrevi no blog do ICO, e lendo seu texto..chego a conclusão que mudar tudo agora é muito mais caro do que fazer um pneu “Super Duro”

    Texto no blog do ICO:

    “Não seria o caso de se manter esses pneus e criar um “super duro”? Porque pelo que vi, temos essa lacuna nos circuitos de grande abrasividade…eu só acho que a “mão” estará errada se os macios e supermacios em mônaco se desgastarem muito..ai posso afirmar que erraram…

    Eu sei que é uma contenção de custos e tudo mais..mas já suspeito que 4 pneus não cobrem todo o intervalo de desgastes de pista para se ter entre uma e três paradas…

    Acho que está assim:

    Mônaco,Canadá………………………………………………Sepang,Barcelona
    ————S.Macio———Macio———–Médio———-Duro————

    Para mim, as extremidades não estão bem cobertas…ou seja, o supermacio pode estar “duro” demais para mônaco e os duros estão macios demais para Barcelona…talvez uma configuração assim ajude:

    Mônaco,Canadá………………………………………………Sepang,Barcelona
    ———-S.Macio——–Macio———–Médio———-Duro———S. Duro

    Nesse caso, a área coberta fica bem maior e eles ganham mais a possibilidade de estratégias…

    O que acha?

    E outra coisa…você consegue uma classificação dos circuitos em relação a abrasividade? Pode se baseada pela escolha dos pneus do ano passado…

    Obrigado!

    • Sim, até aqui parece que, tornando toda a “família” mais macia por dois anos seguidos, criou-se esse buraco para determinados circuitos. Eles até tentaram corrigir, “endurecendo” o composto duro para a Espanha. Porém, por fazerem essa mudança que vai dar tanta dor de cabeça, para mim é um sinal de que o problema são os pneus dechapados, e não apenas o desgaste em si.

      É difícil fazer uma escala porque depende de uma combinação de fatores, não é apenas o asfalto. Na nossa sessão de circuitos há algumas informações úteis.

  2. Acho muito estranho, mas tenho certeza que seria pior ver um líder ter seu pneu dechapado por falta de consistência do pneu. Vamos ver no que dá… Mas só pela chance de atrapalhar equipes com orçamento pequeno e bons projetos como Force India e Lotus já fiquei meio “ressabiado” com a idéia.

  3. Se eu entendi algo sobre pneus e toda a questão de aquecimento e desgaste nesses anos todos, a volta do tipo de construção usada em 2012 não é a melhor das notícias para Felipe Massa.

    • Pensei a mesma coisa.

  4. Julianne, certamente você se lembrará da temporada 2005. Naquele ano mudaram o regulamento e o pneu tinha que durar a corrida inteira. Pra muitos foi uma tentativa de acabar com o domínio de Schumacher na Ferrari e de fato a Michelin fez um pneu mais veloz que a Bridgestone, que a Ferrari usava.
    Tudo vinha bem até chegar em Indianápolis. Ali a Michelin viu que seus pneus não eram seguros na curva oval do circuito. Se a Michelin tinha feito besteira não vendo isso antes, teve o bom senso de mandar todos os 14 carros que usavam seus pneus recolher após a volta de apresentação. Mas o estrago veio de qualquer jeito, e com apenas 6 carros aquele provavelmente foi o mais melancólico GP da história da F-1. Paciência, melhor assim do que um acidente grave com os pilotos.
    Voltando a 2013, ainda acho que o medo do que poderia acontecer na Eau Rouge em Spa e na curva parabólica em Monza deve ter interferido na decisão da Pirelli em modificar os compostos. Essas curvas de alta tem muita força G e um pneu que se esfarela é realmente arriscado. A Michelin se queimou muito admitindo que fez um pneu que punha pilotos em risco num circuito. A Pirelli certamente nem quer que isso venha a ser cogitado. Se tem comentaristas comentando isso no Brasil, é certo que na Europa e na FIA isso também deve ter sido muito pensado.
    Independentemente do que acontecer neste campeonato, quando a segurança fica ameaçada, é de bom senso que se corrija o problema. Amamos este esporte, somos torcedores e tiramos sarro mas aqui a parada é séria. A FIA tem que parar de “brincar” com os pneus. Se quiserem dar mais disputa no campeonato ou evitar uma supremacia, devem usar outras formas que não mais coloquem em risco seus protagonistas.

  5. Na realidade, esse erro de cálculo da Pirelli deve fazer a categoria repensar os testes de inverno em um lugar mais quente, afinal esse desgaste com toda tecnoligia disponível hj,deveria ser previsível…Um erro que envolva segurança é inquestionável, mas ao mesmo tempo penso o quanto uma mudança com o campeonato rolando é injusto com uma equipe como a Lotus, que soube moldar seu carro conforme as exigênias, ao passo que uma equipe multimilionária como as Mercedses…

  6. Me lembro que em 2011 RBR e Mclaren eram as equipes que melhor aqueciam os Pirelli por melhor utilizarem o difusor soprado, daí veio a FIA no GP da Inglaterra dando uma canetada “limitando” o difusor soprado e foi sensivel a perda de rendimento das duas equipes e a melhora de Ferrari e Lotus, enfim, mudanças de regulamento no meio da temporada sempre são injustas, para uns ou para outros.

  7. Belo texto, como poucos que se lê por ai…. parabéns.


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