O mais inacreditável da performance na classificação transformada em vitória no GP da Espanha não era ver o piloto Pastor Maldonado em primeiro, nem o carro Williams em primeiro. Mas, sim, saber que tal façanha fora obtida no Circuito da Catalunha. Mais que tirar o time de Grove da fila, aquele 13 de maio quebrou um paradigma da F-1.
Cresci ouvindo que o melhor carro da temporada sempre vencia o GP da Espanha. Cresci vendo provas chatas em Barcelona e escutando as explicações de que as curvas longas de alta velocidade privilegiavam os carros que geravam mais pressão aerodinâmica e que, pelo fato da maioria dos testes serem realizados no traçado catalão, o nível de conhecimento era tanto que todos conseguiam tirar o máximo de rendimento de seu carro.
Assim, ano após ano, vi grids sendo formados com duplas de pilotos lado a lado, como se em Barcelona só importasse o carro: e eles ficariam alinhados, da primeira à última fila, respeitando seu nível de competitividade.
E, assim, nos últimos 10 anos, por sete vezes o piloto que viria a ser campeão do mundo naquele ano venceu o GP da Espanha. Apenas em 2005, a equipe do campeão do mundo não venceu por lá – e ninguém duvida que a frágil McLaren de Raikkonen era melhor que a Renault de Alonso. Barcelona mostra a realidade de relação de forças e isso parecia uma verdade irrefutável.
Até que vem 2012 e abala as estruturas. Dois finais de semana depois, Fernando Alonso diz que espera ver “em circuitos normais” o real potencial da Ferrari, pois Barcelona e Mônaco são “atípicos”. Vale, bicampeón, se o Circuito da Catalunha não pode nos dizer a verdade sobre o campeonato, então quem pode?
A explicação veio na entrevista de ontem, em Montreal. Interessantíssima:
“Barcelona é muito de aerodinâmica e curvas rápidas. Quem vai bem lá com certeza andará bem em outros circuitos. Agora, com a nova F-1 e os traçados mais recentes, como Bahrein, Abu Dhabi, Coreia e Índia, há vários com retas longas e curvas lentas. Por isso, Barcelona não é mais o único ponto de referência. Serve para pistas como Spa, Silverstone e talvez Nurburgring, aqueles mais tradicionais.”
Bahrein, Abu Dhabi, Coreia e Índia. Em outras palavras, os Tilkódromos. São projetados de maneira diferente dos clássicos justamente porque a evolução dos carros fez com que as disputas já não fossem como antes. Assim, chegou-se à conclusão que freadas fortes, hairpins, retas estupidamente longas e mais freadas fortes ajudariam a aumentar as ultrapassagens.
No papel, fazia sentido, mas, curiosamente, a pista com mais fluidez entre as filhas de Hermann Tilke, de Istambul, sempre foi a melhor para se ultrapassar. As demais passam uma ideia de frustração, criam um espetáculo amarrado, repetitivo. Nem um murozinho perto têm para criar aquela tensão que cansaremos de ver neste final de semana em Montreal.
Mas se Alonso tem razão e as exigências dos carros aumentaram e se diversificaram em função desse novo tipo de pista que inunda cada vez mais o calendário, menos mal. A dose de 2012 pode ser muito forte para alguns, mas não há nada como uma sacudida nas velhas verdades absolutas.
2 Comments
Sensacional! É isso mesmo.
Ju, me parece que nessa altura do campeonato, as grandes começam a se distanciar. Tendo em vista o congelamento de motores e câmbios, além do rigor para com a aerodinâmica, foram fatores para tornar a F1 atual muito igual, quase à prova de erros, dificultando as ultrapassagens, mas os Pirelli, mesmo em pistas de difícil ultrapassagem, têm criado desníveis de performance, ajudando à disputa.