F1 Análise do GP da Espanha - Julianne Cerasoli Skip to content

Análise do GP da Espanha

O GP da Espanha seria o palco da primeira atualização mais significativa da Ferrari, que buscava se recuperar depois de perder duas seguidas para a Red Bull. Destas, a derrota de Miami é a que mostrou um déficit de desempenho traduzido em maior desgaste de pneus. Era a prova de que o programa de desenvolvimento do time de Adrian Newey, com um fluxo mais constante de peças, vinha funcionando. E a outra grande história do fim de semana era a primeira vez que a Mercedes mexia em seu assoalho, algo fundamental para diminuir o porpoinsing que tanto afetou o início de temporada dos octacampeões.

Mas o GP da Espanha acabou com uma dobradinha da Red Bull, a terceira vitória seguida de Max Verstappen (ou quarta se contarmos a sprint em Imola). De quebra, Charles Leclerc abandonou, Carlos Sainz ficou fora do pódio. E a Mercedes mais lenta da tarde, de George Russell, deu trabalho para a Red Bull.

E a Mercedes mais rápida da tarde de calor intenso do domingo? Lewis Hamilton se recuperou de 60s de desvantagem após um toque com Kevin Magnussen na primeira volta para um quinto lugar. Ah, e o segundo colocado, Sergio Perez, ainda saiu descontente com a maneira como a Red Bull lidou com uma corrida que ele acreditava que merecia ter ganho.

É muita coisa para explicar, então vamos por partes.

Como a Ferrari curou seu problema com os pneus no GP da Espanha

Charles Leclerc largou na pole, e mais uma vez nesta temporada não conseguimos saber quem tinha o carro mais rápido no sábado. Isso porque o DRS de Verstappen falhou na última tentativa da classificação. Sergio Perez errou o primeiro setor. E Carlos Sainz não estava conseguindo lidar bem com o acerto mais traseiro que a Ferrari escolheu.

Essa escolha veio de muito trabalho no simulador em Maranello depois que a simulação de corrida de sexta foi um desastre. A Ferrari desgastava tanto seus pneus que estava mais lenta até que a Mercedes. Mas um caminho diferente foi encontrado: ao invés de tentar otimizar o carro para o pneu médio, por que não apostar no macio, que no final das contas era o C3, e colocar mais carga na dianteira, protegendo mais os pneus dianteiros?

O GP da Espanha sempre tem esse dilema. Se você foca mais nas curvas longas e velozes, acaba desgastando muito os pneus dianteiros no setor 3. Se faz o contrário, são os traseiros que sofrem.

Feita a escolha pela carga maior nos dianteiros, quando Leclerc e Sainz fizeram uma simulação de corrida no sábado de manhã com o pneu macio, o rendimento era outro. Mais para Leclerc, que lida melhor com uma traseira solta. Para Sainz, o carro ficou ainda mais difícil de pilotar, mas era a solução mais rápida para o carro e lá foram eles para a classificação.

Quem fez escolha semelhante foi Hamilton, que foi em direção inversa a Russell no acerto e que, a exemplo de Leclerc, não se importa com uma traseira mais agitada. E o resultado disso seria visto na corrida.

Ferrari mostrou caminho com pneus macios

O mais interessante dessa simulação de corrida da Ferrari no terceiro treino livre é que ela acendeu o alerta em todas as equipes. Quem ainda não estava convencido de que o pneu macio poderia funcionar, mudou de ideia. E lá estavam todos os pilotos de pneus macios no grid de largada.

Leclerc pulou na frente e não deixou Verstappen ficar em sua zona de DRS nas oito voltas de corrida mano a mano que eles tiveram. A diferença era de 2s quando o holandês escapou na curva 4, sendo surpreendido por uma rajada de vento, assim como Sainz tinha sido pouco antes, no mesmo ponto.

O monegasco parecia ter o controle da situação até ali. E mostraria que a solução do acerto fez a Ferrari cuidar bem dos pneus sob situações extremas, até ele ser o penúltimo a parar na volta 21. Nas poucas voltas que fez com o pneu médio, com o qual a Ferrari tinha sofrido muito na sexta, antes de quebrar, Leclerc foi mais rápido que Perez. Mas a comparação direta com Verstappen não existiu porque ele estava preso atrás de Russell.

Leclerc acabou ficando pelo caminho por uma perda de potência. Como Sainz foi parar em 11º após escapar da pista e trocou de pneus cedo, é difícil usar a corrida do espanhol para efeito de comparação.

Contudo, pelo que Leclerc mostrou, o fim de semana acabou sendo mais positivo em termos de desempenho para a Ferrari que Miami. Embora eles tenham pedido a liderança de ambos os campeonatos.

Como a Mercedes incomodou a Red Bull

Voltando à volta 9 da corrida: Verstappen escapou e voltou atrás de Perez, que já estava há algumas voltas tentando passar Russell, sem muito sucesso. A Red Bull logo ordenou a troca de posições e o holandês também ficou preso. E com o agravante de não ter seu DRS funcionando de maneira eficiente em todas as voltas.

Como era possível que um carro que estava a 1s da Red Bull em Miami ter se colocado naquela posição?

A Mercedes mexeu pela primeira vez no assoalho na Espanha, e a frequência do porpoising melhorou a ponto deles conseguirem acertar o carro de uma maneira mais próxima à qual ele foi projetado para andar. Como eles sabia, isso fez toda a diferença, porque eles acreditavam nos motivos que os levaram às escolhas ousadas que fizeram no projeto.

Com o carro mais próximo do solo, ele gera mais pressão aerodinâmica, arrasto na medida certa, os pneus sofrem menos, os pilotos têm mais confiança e o carro começa a responder melhor a mudanças de acerto. 

Mesmo com todos esses benefícios, não dá para tirar 1s do dia para a noite, e Russell estava naquela posição de segurar a Red Bull por uma combinação de fatores. A velocidade de reta da Mercedes melhorou bastante com a união entre a aerodinâmica estar funcionando como deveria e o novo motor; ele segurou Verstappen e Perez enquanto não havia diferença de pneus entre eles; estávamos em Barcelona, onde é preciso uma diferença de pelo menos 1s entre os carros para que haja a ultrapassagem (e parte dessa diferença é criada pelo DRS, que não funcionava direito no carro de Verstappen).

Precisamos falar do ritmo de Lewis Hamilton no GP da Espanha

O grande sinal para a Mercedes foi o ritmo de Hamilton. Depois de se tocar com Magnussen, ele se arrastou para o box com o pneu furado para os boxes e voltou à pista 60s atrás do líder. Até chegou a sugerir para a equipe abandonar a corrida e preservar o motor, “lembrando de experiências anteriores, em que foi difícil recuperar”. E ele chegou 54s atrás, depois de sofrer com um vazamento de água e ter tido de tirar o pé nas últimas voltas.

Então isso quer dizer que Hamilton era o mais rápido da pista no GP da Espanha? Comparando os tempos de volta quando os dois tiveram pista livre, Hamilton não tinha ritmo para superar Verstappen. E, sem o abandono, também ficaria atrás de Leclerc. Mas estaria na briga direta com Perez, uma posição impensável para a Mercedes há duas semanas.

Na verdade, a Mercedes ficaria em uma situação difícil sem o toque da primeira volta. Porque a diferença de ritmo entre Hamilton e Russell provavelmente obrigaria o time a pedir que o piloto que vem rendendo mais em 2022 até aqui deixasse o heptacampeão passar.

Os engenheiros da Mercedes acreditam que a melhora é real, e não tem a ver com o calor, até porque ele veio com rajadas de vento que foram prejudiciais em Miami. Além disso, eles têm os dados da pré-temporada para comparação. Então ir bem em Barcelona é sim um novo início para o campeonato deles, como o próprio Russell disse.

Uma dobradinha (quase) perfeita para a Red Bull

Voltando para a disputa da ponta, a Red Bull teve de antecipar a primeira parada de Verstappen para que ele tivesse a chance de fazer o undercut, mas a Mercedes cobriu bem, chamando Russell cedo também. Eles acabaram parando na mesma volta, 13, enquanto Perez conseguiu ir até a 18.

Até a metade da prova, a estratégia de Verstappen ainda estava em aberto: se ele estivesse em uma posição na corrida que permitisse conservar os pneus, daria para fazer duas paradas, mesma estratégia em que Perez estava.

Mas não seria um GP da Espanha “normal”, em que é tão difícil passar que é melhor conservar os pneus do que fazer uma parada a mais e forçar o ritmo. Aliás, já não tinha sido assim em 2021, quando Hamilton fez uma segunda parada e passou Verstappen no final. Como o pneu desgastado perdia muito rendimento, era melhor parar mais vezes e adotar um ritmo mais forte.

Mudando a estratégia de Verstappen e liberando Perez para tentar passar Russell, a Red Bull chamou o holandês na volta 28. Agora, ele poderia forçar mais o ritmo.

A Mercedes, sabendo que já tinha levado o undercut, optou por deixar Russell na pista para que ele tivesse pneus melhores no final. Até porque ele já tinha sido passado por Perez e agora poderia focar somente em seus pneus.

A degradação, no entanto, era tão grande que Verstappen era 2s5 mais rápido por volta que Russell com pneus novos. Quando a Mercedes parou o inglês, a Red Bull, finalmente, tinha uma dobradinha.

A bronca de Perez

Em teoria, ambos teriam que parar mais uma vez. Mas Max poderia adotar um ritmo muito mais veloz porque ele estava na tática de três paradas. Checo logo fez sua segunda parada, respondendo à Mercedes e mantendo a dobradinha. Verstappen faria sua terceira parada na volta 44, voltaria atrás de Perez, e a Red Bull ordenou a inversão.

Isso fez com que o mexicano saísse descontente do carro. Afinal, ele cedeu a posição a Verstappen duas vezes, mesmo estando à frente do companheiro por conta de um erro dele. A Red Bull ainda o chamaria uma terceira vez para os boxes, garantindo que eles também teriam o ponto da volta mais rápida. E que o mexicano não sofreria nas voltas finais, como todos os que fizeram duas paradas.

Do lado da equipe, dá para argumentar que Perez talvez não soubesse do problema de DRS e da vantagem de ritmo que Verstappen mostrou correndo de cara para o vento. Do lado de Perez, o ritmo mais lento também tinha a ver com a estratégia diferente pela maior parte da corrida.

Outros destaques do GP da Espanha

A terceira parada de Sainz, que ainda por cima tinha danos no difusor, o que fazia com que seus pneus se desgastassem mais rapidamente, abriu espaço para as paradas de Russell e Perez, fazendo com que eles estivessem mais confortáveis com os pneus no final da prova. Ao mesmo tempo, isso também deixou Valtteri Bottas mais exposto. A Alfa o parou cedo, na volta 34, não quis fazer uma terceira parada, e ele foi sexto.

Esteban Ocon foi bem, terminando em sétimo, enquanto seu companheiro Fernando Alonso conseguiu subir de último, devido a uma troca de motor, para nono. Lando Norris começou a corrida atrás de Daniel Ricciardo, e sofrendo com amidalite por todo o fim de semana. Passou o australiano na volta nove com uma ordem de equipe e terminou bem à frente, em outra tarde na qual Ricciardo não se encontrou com os pneus. E o último ponto ficou com Yuki Tsunoda, mais rápido que o companheiro Pierre Gasly na Espanha.

2 Comments

  1. Mercedes vai entrar na briga e vai ser legal ver o russel andando na frente e tendo que brigar com Hamilton, uma coisa é brigar ali no meio do pelotão, outra coisa é ter obrigação de ganhar e não poder errar.

  2. Que leitura. Esses detalhes e qualidade de análise eu só lia na imprensa estrangeira. Parabéns.


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