Interlagos é o típico circuito que dá dor de cabeça aos engenheiros. O miolo com curvas de média no segundo setor pede mais downforce, enquanto a subida do Café e a reta oposta suplicam menos asa para ajudar na velocidade final. O equilíbrio entre essas duas características se faz fundamental, ainda que o domínio da Red Bull nos últimos dois anos aponte para a maior importância da sequência de curvas. No entanto, mesmo o time de Vettel, vencedor de 2010, e Webber, primeiro em 2009, terá de escolher com cuidado seu caminho em tempos de DRS para não se expor demais na corrida.
Além do acerto aerodinâmico, o motor é outra preocupação. Afinal, São Paulo é uma das cidades mais altas em relação ao nível do mar que a F-1 visita – os 800m de altitude representam uma perda de 10% em pressão atmosférica. Isso significa que o ar paulistano tem menos oxigênio que o de Abu Dhabi ou Melbourne, por exemplo, o que afeta a performance do motor. O resultado é uma queda de potência que as equipes tentam minimizar com a cartografia. Somado a isso, alguns pilotos chegam a esse cenário com propulsores bastante usados, o que também acarreta perda de performance.
Por outro lado, o consumo é tão baixo quanto o efeito do peso do combustível no tempo de volta. Não que isso signifique uma corrida tranquila desse ponto de vista, uma vez que as equipes sempre trabalham no limite.
Outra característica de Interlagos é o fato da, pela volta ser muito curta e ter duas grandes retas – e, consequentemente, poucas curvas – classificação ser tradicionalmente apertada. Menos mal para quem acabar o sábado fora de posição, pois as ultrapassagens nunca foram um problema no traçado.
Isso, mesmo que o circuito não respeite a receita de Hermann Tilke de hairpin fechado + reta longuíssima + chicane. A pista brasileira mostra, assim como Spa e a própria Istambul de Tilke, que são as diferenças de altimetria, variações de graduação, uma chicane menos travada e retas após curvas de média/alta velocidade que fazem a diferença.
Em relação à estratégia, o novo pneu macio que a Pirelli levará a Interlagos, que promete maior durabilidade, deve fazer com que se adote duas paradas. Algumas equipes, principalmente do meio do pelotão, podem apostar em um Safety Car e tentar algo diferente, pois as chances de isso ocorrer com base nas provas passadas é de 71%.
Nº de voltas | 71 |
Ativação da DRS | Reta oposta |
Pé em baixo | 60% (médio a alto)_ |
Consumo de câmbio | Baixo |
Consumo de freios | Médio |
Consumo de motor | Médio |
Nível de downforce | Médio a alto |
Uso de combustível | 2kg por volta (baixo) |
Tempo total de perda no pit | 20s |
2010 | |
Pole position | Nico Hulkenberg, Williams – 1min14s470 |
Resultado da corrida | 1º Sebastian Vettel
2º Mark Webber 3º Fernando Alonso |
Retrospecto no GP do Brasil
A figurinha mais carimbada no pódio do GP do Brasil nos últimos anos é curiosamente um piloto que nunca venceu no país: Fernando Alonso tem seis pódios nos últimos oito anos, além de um quarto lugar em 2004 e um abandono em 2009.
Dentre os pilotos do atual grid, apenas Michael Schumacher (quatro vezes), Felipe Massa (duas), Mark Webber e Sebastian Vettel conquistaram um GP que teve oito vencedores diferentes nos últimos 10 anos. Resultado de algumas corridas imprevisíveis por conta da chuva e da possibilidade de ultrapassar.
Se há um piloto que quer entrar neste hall é Lewis Hamilton. Mesmo tendo carros competitivos, o inglês tem apenas um terceiro lugar como melhor resultado, após prova de recuperação em 2009. Seu companheiro, Button, também só tem um troféu vindo do Brasil em sua coleção. Tem uma boa oportunidade de melhorar nesta temporada, na qual fez mais pódios (11 a 9) do que no ano em que conquistou o título.
E há Rubens Barrichello. O veterano já passou por de tudo um pouco em Interlagos. Menos cair nas graças da torcida após uma vitória, apesar de ter feito a pole em três oportunidades. Teve impressionantes 11 abandonos e apenas um pódio, em 2004.
Piloto | 1º | 2º | 3º | 4º-6º | 7º-10º | 11º+ | DNF |
Sebastian Vettel | 1 | 2 | 1 | ||||
Mark Webber | 1 | 1 | 2 | 1 | 3 | ||
Lewis Hamilton | 1 | 2 | 1 | ||||
Jenson Button | 1 | 4 | 2 | 1 | 2 | ||
Fernando Alonso | 2 | 3 | 1 | 3 | |||
Felipe Massa | 2 | 1 | 1 | 2 | 1 | ||
Michael Schumacher | 4 | 2 | 4 | 3 | 2 | 1 | |
Nico Rosberg | 2 | 1 | 2 | ||||
Bruno Senna | 1 | ||||||
Vitaly Petrov | 1 | ||||||
Rubens Barrichello | 1 | 3 | 1 | 2 | 11 | ||
Adrian Sutil | 2 | 2 | |||||
Kamui Kobayashi | 2 | ||||||
Jaime Alguersuari | 2 | ||||||
Sebastien Buemi | 1 | 1 | |||||
Heikki Kovalainen | 1 | 2 | 1 | ||||
Jarno Trulli | 2 | 3 | 4 | 5 | |||
Vitantonio Liuzzi | 3 | 1 | |||||
Timo Glock | 1 | 3 | 1 |
4 Comments
Ju, fiquei um pouco confuso sobre um tema. Quando vc fala sobre a receita de sucesso em ultrapassagens, curva de média/alta e reta, além de Interlagos, essa não seria uma característica na reta principal da Catalunha também? Qual seria o diferencial?
O problema da pista de Barcelona sempre foi o longo raio das curvas, o que dificulta um carro perseguir o outro. Na última curva lá colocaram uma chicane para tentar resolver isso, e foi um mistério quando acabou não funcionando, o que talvez seja relacionado com o tipo de configuração usado nos carros.
Juliane, escrevo só para fazer uma pequena observação sobre o mapa da pista, que presumo oficial da FIA: o grid parece posicionado bem adiante de onde realmente fica.
pelo mapa a primeira fila estaria no a alto do pequeno aclive que leva à freada do S, acho que fica mesmo onde está marcada a linha de chegada, no mapa.
gosto muito das suas análises, aquela recente sobre o porquê das estratégias da Red Bull e o sucesso de suas vitórias (e eventuais derrotas) nos últimos dois anoss foi muito esclarecedor, como espectador fanático e sério te agradeço a riqueza das suas informações. parabéns, e continue assim.
Julianne, parabéns pelo trabalho. Uma visão de automobilismo que poucas pessoas tem, fantástico!