F1 Bernie e a sucessão - Julianne Cerasoli Skip to content

Bernie e a sucessão

Nem a idade avançada parece arrefecer o incrível gosto de Bernie Ecclestone por tirar vantagem em seus negócios. O homem que, desde os anos 1970, parece sempre estar um passo adiante dos demais dirigentes da F-1, não dá sinais de que queira largar o osso, mesmo aos 82 anos – não acredito em prisão pelo caso Gribkowsky, sendo uma gorda multa mais adequada para um réu que não terá muito tempo de cumprir a pena; porém, ainda não se sabe qual a atitude que a empresa da qual é CEO, a CVC, agirá caso seja considerado culpado.

Se Ecclestone não demonstra vontade de estar de saída, é bem verdade que a recíproca é verdadeira. Para entender seu papel no circo, é preciso remontar a seu passado. O menino que, na época da Segunda Guerra Mundial, trocava o lanche dado na escola por mercadoria, foi um piloto frustrado, um empresário de piloto marcado por perdas trágicas, mas nunca escondeu que sentia prazer mesmo em fazer o melhor negócio possível para si. E encontrou na F-1 amadora de 40 anos atrás, cheia de apaixonados mais por carros do que por dinheiro, um palco fácil para desfilar seus dotes.

Achava que as equipes ganhavam pouco dos organizadores de provas e propôs cuidar disso em nome dos chefes de equipe, que não eram muito afeitos ao mundo dos negócios. Fez o mesmo com toda a questão logística, percebendo que seria possível economizar caso todos transportassem carros e equipamentos juntos. Fez o mesmo com os direitos televisivos. Fez o mesmo com a parte promocional. Não é exagero dizer que a F-1 partiu de uma brincadeira de entusiastas ao evento milionário, com números comparáveis a Jogos Olímpicos e Copas do Mundo de Futebol, muito devido a ele.

O que foi uma grande solução nos últimos 30 a 40 anos, hoje é um grande problema. Ecclestone é um centralizador, cuida pessoalmente dos negócios capitais da categoria, nunca apontou um sucessor. Por outro lado, as equipes demonstraram – como já haviam feito nos anos 1980 – que não conseguem sequer entrar em acordo entre si com o racha da FOTA ao final do ano passado, a saída de Red Bull, Ferrari e suas “crias”. E, entre seus chefes, ninguém desponta como um líder nato para ocupar esse papel.

Se o substituto de Ecclestone não parece vir do mundo da F-1, o mais provável é que a categoria fique nas mãos de alguém ligado ao mundo dos negócios com certa vivência em automobilismo, como o ex-piloto e atualmente CEO de uma empresa de marketing do setor Zak Brown, por exemplo. Ou, ligado ao marketing esportivo, como o CEO da Premier League Richard Scudamore. Assim, seria de se esperar o mesmo estilo empreendedor e pouco afeito a valores históricos que marca a era Ecclestone.

Mas que ninguém duvide que Bernie já tem tudo arquitetado, como quando dava lances propositalmente baixos para comprar lojas inteiras de carros usados na Londres do pós-guerra, impressionando o vendedor, que nunca havia somado o valor dos carros. Há muito tempo o mundo da F-1 já aprendeu que subestimar o baixinho é o pior dos negócios.

9 Comments

  1. Com todos os defeitos que Bernie tem, é impossível não valorizar o seu legado. O próprio Nelson Piquet disse que antes de Ecclestone, a segurança na F-1 inexistia e pilotos raramente enriqueciam.
    O Bernie transformou o esporte num circo, mas sua contribuição pra modernizar e impulsionar a categoria é gritante.
    Um dia ele vai ter que largar o osso e é saudável que isso aconteça, mas que seus sucessores saibam ao menos não retroceder nos avanços que o “Tio Bernie” trouxe a F-1.

  2. Ju, de toda história desse homem (perfeita ou não), pensei: teria a F-1 sobrevivido até hoje, se continuasse romântica e amadora? No mundo exigente e politicamente correto, os fãs idolatrariam uma categoria que matasse um piloto por temporada? Carros obsoletos? No geral, penso que os acertos foram maiores.

  3. Velhinho “tough” está aí! Lucidez, teu nome é Ecclestone!

  4. Com toda certeza Ju,subestimar o baixinho é o pior dos negócios,medir força com ele é um mal negocio o homem é um gênio.

  5. A “era Ecclestone” está chegando ao fim. Isso é inevitável.

    Vai ser interessante acompanhar esse período da F1.

  6. Meu coment fico preso Jú!

  7. Julianne, o que Bernie Ecclestone realizou é realmente impressionante, transformar a Formula 1 em um negócio altamente rentável atraindo grandes investidores que se aventuram com milhões. Aliás, parece que ele faz dinheiro de qualquer coisa. Lembra-se do episódio em que ele foi assaltado e agredido. Fazer um comercial sobre ocorrido para divulgar um relógio e com isso ganhar um bom dinheiro (imagino) foi algo “mind blowing”. No fim das contas foi assaltado e ficou no lucro. É um talento dos negócios.

    Mas voltando ao início do que ocorrerá com Ecclestone caso seja considerado culpado no caso de propina. Imagino que será difícil mante-lo a frente dos negócios e muito tem a ver com imagem que passaria ao público em geral. Vai ser interessante ver como tratarão o fato.

  8. Incrível esse Mr. Ecclestone, um genio da malandragem.


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