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Blog Takeover: O Brasil descobre a Fórmula 1

Não podia escolher outro texto para inaugurar o Blog Takeover de 2023. Abri um sorriso quando vi o email de ninguém menos que Castilho de Andrade, um dos pioneiros do jornalismo de F1 no Brasil, querendo participar. E que deleite ler o relato dos primeiros passos de um daqueles que começou tudo isso aqui.

Por Castilho de Andrade

Costeletas grossas e compridas, óculos escuros retangulares e uma pasta tipo 007. Émerson Fittipaldi desembarcou em Congonhas alguns dias depois de sua primeira vitória na Fórmula 1, em outubro de 1970, pilotando uma Lotus Ford. Lá estava a família Fittipaldi – o ‘Barão’ Wilson e dona Joze, pais do piloto – alguns amigos e um grupo de jornalistas. Falou um pouco sobre a corrida, elogiou a equipe de Colin Chapman e fez uma previsão otimista sobre o futuro da categoria no Brasil. ‘É um esporte empolgante, sensacional. Uma hora ela vai chegar aqui. Vou me esforçar para isso’.

Fiz algumas perguntas protocolares. Não entendia nada do assunto. Estava trabalhando no Jornal da Tarde há pouco mais de um ano, cobrindo principalmente os ‘esportes olímpicos’ – vôlei, basquete, atletismo, natação. No final da entrevista, Émerson me olhou com um sorriso e constatou: ‘Você é novo no automobilismo, certo? Não gostaria de ir até em casa? Lá a gente conversa mais’. 

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Emerson Fittipaldi e Colin Chapman

Émerson tinha um apreço especial pelo jornal. No início de sua carreira na Europa, correndo nas categorias de base, ele costumava ligar no domingo à tarde para a redação, passando os resultados das provas que disputava. Algumas vezes, dona Joze se deslocava até o prédio onde funcionava o jornal, na esquina da Martins Fontes com a Major Quedinho, no centro da cidade, para trocar algumas palavras com o filho. 

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Já em casa, na zona oeste de São Paulo, tomando uma xícara de café fresco que Maria Helena, sua mulher, tinha acabado de fazer, Émerson começou a falar de Fórmula 1, da equipe Lotus, da admiração que sentia por Colin Chapman, de Jackie Stewart, da Ferrari, de Jochen Rindt, da paixão dos ingleses e italianos pelas corridas e da importância de se organizar uma prova em Interlagos.

A Argentina já estava se articulando e receberia a Fórmula 1 em 1972, no autódromo de Buenos Aires. O ‘Brasil poderia aproveitar e já reivindicar uma data. Sei que há gente interessada nisso. Mas é preciso que a categoria tenha mais divulgação aqui para conseguirmos convencer as equipes’.

Sim, as equipes tinham de ser convencidas. Não havia a FOM ou uma entidade que representasse as escuderias. Os contatos eram feitos entre os promotores e as equipes.

Pouco mais de um ano depois, em março de 1972, recebo uma visita na redação do mesmo Jornal da Tarde, em uma terça-feira à noite. Estava escrevendo os textos de apresentação da corrida extraoficial de 1972 que homologaria Interlagos para receber uma prova do calendário a partir do ano seguinte. Da portaria anunciam que ‘Émerson e mais algumas pessoas estão pedindo para subir’.

Minutos depois aparecem Émerson Fittipaldi, Ronnie Peterson, Maria Helena e Barbro Edvardson, mulher de Ronnie. Conversam alguns minutos sobre a corrida, concedem autógrafos. Émerson tira do bolso um maço de ingressos e joga na mesa. “Distribui pra todo mundo. Temos que lotar o autódromo. Do contrário, não vamos ter corrida no ano que vem’.  No primeiro GP de F1 disputado no Brasil, 30 de março de 1972, uma quinta-feira de calor sufocante, Interlagos estava lotado. A Fórmula 1 estava chegando para ficar.

2 Comments

  1. Muito obrigada pelo texto..consegui sentir o cheiro do café da Maria Helena e o calor do autódromo de Interlagos com os roncos dos motores… Obrigada por esse pedaço da história!


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