F1 Onde estão as heroínas da Fórmula 1? - Julianne Cerasoli Skip to content

Blog Takeover: Onde estão as heroínas da Fórmula 1?

Um tema que se repetiu algumas vezes no Blog Takeover de 2023 foi a inclusão das mulheres nas discussões sobre F1. E foram textos de homens e mulheres, diga-se de passagem. A ideia central de todos é como garantir a elas a segurança, especialmente no mundo online, para se expressarem. E selecionei esse texto da Giovanna, que foi uma reportagem em áudio que ela fez na faculdade de jornalismo.

Por Giovanna Ragano

Não é de hoje que a Fórmula 1 é entendida como um esporte elitista criado para entreter o público masculino. A lembrança de ver o seu pai, avô, ou tio assistindo corrida nas manhãs de domingo está presente na vida de muitas garotas. Apesar disso, o público feminino amante do esporte tem aumentado cada vez mais nos últimos anos. 

A falta de representatividade feminina na Fórmula 1 ainda não é discutida com a força que merece. Porém, a quantidade de garotas se tornando fãs da categoria vem crescendo a cada ano. Só em 2022, a porcentagem de mulheres acompanhando o esporte aumentou 28%, o que representa uma média de 352 mil telespectadores femininos por corrida, de acordo com os números oficiais divulgados pela ESPN.

Hoje em dia não é difícil achar no TikTok ou Instagram meninas que entendam do assunto e comentem sobre ele, como é o caso da jornalista Amanda Oestreich, que tem uma conta no TikTok com mais de 20 mil seguidores chamada “F1 Amanda”. Na plataforma, ela consegue divertir e informar seu público com as últimas novidades do esporte.

Uma comunidade dentro da categoria

Amanda criou sua conta no TikTok porque não tinha amigos que acompanhavam automobilismo. Ela queria encontrar pessoas com as quais pudesse discutir o assunto: “Foi menos para criar conteúdo e mais para achar uma comunidade”, explica a jornalista.

Mas não é só nas redes sociais que as amantes da Fórmula 1 estão presentes. A escritora Nayany Hachler começou a se interessar pelo esporte lendo livros nacionais que tratam desse universo. Ela se encantou tanto que passou a acompanhar a categoria e até mesmo escrever seus próprios romances dentro do imaginário da Fórmula 1. Os livros, que levam os nomes de “Driven to you”, “Racing for you” e “Driving with you”, passaram a inspirar e a envolver pessoas que não conheciam o esporte ou não se interessavam tanto por ele.

Nayany relata que presenciou casos onde leitoras passaram a assistir corridas depois de terem seu primeiro contato com o automobilismo através de suas obras. “É muito legal ver uma nova fã que conheceu o esporte através da literatura”, afirma ela.

O aumento do interesse do público feminino não surgiu com um estalar de dedos. Desde que foi comprada pela Liberty Media em 2016, a Fórmula 1 começou a se preocupar mais com o engajamento de novas audiências. O resultado disso foi, por exemplo, a série documental com um toque de reality show “F1: Drive to survive”, da Netflix, que hoje já acumula cinco temporadas. Após a sua estreia, em 2019, notou-se um aumento de 55% dos espectadores da ESPN.

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O professor Luís Mauro Sá Martino, especialista em estudos da comunicação, acredita que essa estratégia cria uma visão muito mais humana e pessoal para os espectadores, que passam a se identificar com os pilotos que, até então, pareciam inalcançáveis.

“Essa estratégia mostra que a Fórmula 1 não é só aquela coisa fechada, como era há 15 anos onde, no domingo, os homens iam ver corrida de carro. A Fórmula 1 está virando algo muito diferente, ela está sendo tratada como um evento na qual os pilotos e as equipes têm causas sociais, apoiam questões mais amplas […] A igualdade de gênero, igualdade étnico-racial e até mesmo a preservação do meio ambiente são causas que a Fórmula 1 vem encampando”, afirma o professor.

Aspectos como esse alteraram completamente a imagem do esporte e atraíram um público que não vai apenas assistir carros na pista, mas também um espetáculo que engloba outras camadas.

Mesmo que esse senso de comunidade seja importante para que mais mulheres se sintam confiantes o suficiente para mergulhar no automobilismo, ainda existe muito preconceito dentro e fora da pista. A estudante Carolina Bertazzi acompanha a Fórmula 1 desde muito jovem por influência de seu pai, que assistia às corridas todo domingo de manhã. Hoje em dia, ela está mais por dentro do assunto do que seu próprio pai, mas ainda assim sofre diversas situações incômodas por ser uma mulher que entende do tema.

“Desde pequena a gente aprende que existem coisas para homens e coisas para mulheres. Então quando uma mulher curte e fala sobre aquela coisa que um homem conhece desde que ele era pequeno, ele se sente ameaçado a perder o posto, né? Por isso, a gente sempre tem que se impor e falar [sobre o assunto], porque se não a gente nunca será tratada com respeito”, ela relata.

O problema também está dentro das pistas

Dentro das corridas de Fórmula 1, o cenário não é muito diferente. Faz mais de 70 anos desde que a Fórmula 1 foi criada e apenas 5 mulheres foram inscritas para disputar algum GP na categoria. Para Amanda, essa é uma situação complicada e com resoluções complexas:

“Quando você pega uma categoria menor, como a Fórmula 3 ou 4, você precisa tirar o dinheiro do seu bolso, as categorias de base envolvem muito financiamento e as mulheres não recebem esse financiamento do mesmo jeito que os homens. Então a gente acaba tendo menos apoio e com isso temos menos treinamento, menos exposição. Desse jeito, a gente acaba ficando uns mil passos atrás”.

Mudanças são necessárias

Mesmo que ainda seja muito difícil, a expectativa é de mudança. Em 2022, a presença de mulheres nas arquibancadas dos GPs aumentou de forma expressiva, com um salto de quase 21% (2021) para 36,4%, segundo a assessoria de imprensa do evento em Interlagos. As mulheres estão marcando cada vez mais presença na Fórmula 1 e, juntas, têm se apoiado para se proteger dessa discriminação e do assédio que sofrem quando estão no circuito.

Nayany reconhece a importância dessa comunidade feminina: “Os projetos sociais que incentivam as meninas a frequentarem as corridas e falar sobre o assunto, e também a própria literatura mostram que é possível gostar do esporte e ser mulher”.

Já o professor Luís Mauro destaca a necessidade de mais mulheres em destaque na categoria: “Eu acho que nenhum esporte hoje em dia pode se dar o luxo de falar ‘Nós somos um esporte apenas para homem’, isso não existe mais. E a Fórmula 1 é atrativa, ela tem muito potencial porque é um esporte que tem história, rivalidades e disputas intensas. Dentro desse mundo, já existem muitos heróis e faltam heroínas”.

As heroínas da Fórmula 1

Pode não parecer, mas a Fórmula 1 já possui heroínas para chamar de sua. Entre elas, podemos destacar: Susie Wolff, ex-piloto e diretora administrativa da F1 Academy – categoria que pretende desenvolver pilotos do sexo feminino para levá-las até a principal categoria do automobilismo -; Hannah Schmitz, engenheira e chefe de estratégia da Red Bull Racing. Ela é um dos grandes nomes que explicam o recente sucesso da equipe; ou até mesmo Bianca Bustamante, que agora faz parte do Programa de Desenvolvimento de Pilotos da McLaren.

Mas se prestarmos atenção, também temos heroínas muito mais próximas de nós. As criadoras de conteúdo automobilístico nas redes sociais e autoras de livros que se passam dentro da Fórmula 1 também têm um papel importantíssimo em mostrar para as outras garotas que é possível fazer parte desse mundo.

“Eu estou orgulhosa com o que eu faço [nas redes] porque eu sinto que estou ajudando essas meninas que estão entrando agora, do mesmo jeito que eu entrei em 2020”, afirma Amanda.

Tudo isso inspira Nayany a seguir seu caminho dentro da literatura: “Eu escrevo e vou continuar escrevendo sobre esportes porque eu acho que é importante, necessário e é divertido. É legal ler algo de um esporte que não está tão dentro da sua realidade, e sinto que de certa forma meus livros ajudam a espalhar a Fórmula 1 para outros públicos”.

Essa reportagem foi escrita pela Giovanna originalmente para ser publicada em áudio, com produção de Ana Carolina Lamussi, Ana Beatriz Morrone, Estela Braga, Marcela Abreu e Milena Casaca. E narração de Clara Spechotto.

1 Comment

  1. Excellente!!
    Gostei muito !


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