A lógica diz que, com seis etapas e 150 pontos ainda em jogo, os 29 que Fernando Alonso tem de vantagem para Sebastian Vettel podem escapar num piscar de olhos. Principalmente considerando que até mesmo o espanhol só espera ter uma chance de vencer em condições normais daqui até o final do campeonato, na Coreia.
Porém, a cada etapa que passa, a liderança do bicampeão dá a impressão de ser mais sólida. Alonso está na ponta há sete provas, mesmo sem vencer há quatro e só tendo carro para sonhar com pódios, mas segue com pelo menos uma vitória de vantagem porque as posições que dão mais pontos têm sido divididas. Button, Vettel e Hamilton – que, ou vence, ou abandona – ficaram com as pontuações máximas, mas Alonso continuou somando seus pontinhos e cultivando sua diferença.
Mas daria para controlar uma diferença dessas por seis etapas? Mesmo continuando com seus pódios, Alonso poderia perder a ponta caso Vettel engatasse três vitórias seguidas. E este não é um cenário improvável, tendo em vista que o alemão, nos dois anos em que disputou o título como “desafiante”, em 2009 e 2010, cresceu justamente nas etapas finais. E, se a tendência de ter sempre as McLaren fortes, a Red Bull não muito longe e algumas médias ou até mesmo a Lotus andando no bolo com a Ferrari prosseguir, continuar pontuando alto com tanta consistência como Alonso vem fazendo não será tarefa fácil.
Em relação a Hamilton, que teria de descontar entre 8 e 10 pontos por GP, provavelmente seria necessário um abandono do piloto da Ferrari. Já o caso de Kimi Raikkonen é o mais complicado: ainda que pontue constantemente, o finlandês chegou à frente do espanhol em dois dos últimos seis GPs e precisaria reverter fortemente esta tendência daqui em diante.
As lições dos últimos mundiais
Nos últimos anos, tivemos três campeonatos sendo decididos na última etapa. Traduzindo para a pontuação atual, em 2006 Alonso liderava, com seis etapas para o final, por 242 a 215 (27 de diferença) contra Michael Schumacher. Até o final do ano, abandonaria duas vezes – por uma roda mal fixada na Hungria e um quebra de motor em Monza – mas faria quatro pódios. Assim, mesmo que o alemão tivesse uma vantagem de equipamento na maioria das provas finais, era marcado tão de perto que não conseguia passá-lo. O campeonato chegou a estar empatado no Japão, penúltima etapa, mas chegara a hora do motor Ferrari não aguentar. E quem estava em segundo para aproveitar?
Números dos últimos campeonatos decididos na última etapa
(considerando o sistema atual de pontuação)
Ano | Classificação faltando 6 GPs | Classificação final |
2006 | ALO 242 x MSC 215 (27)* | ALO 321 x MSC 296 |
2007 | HAM 194, ALO 178, RAI 149 (45) | RAI 272, HAM 265, ALO 266** |
2008 | HAM 172 x MAS 158 (14) | HAM 243 x MAS 240 |
2010 | HAM 182, WEB 179, VET 151 BUT 143, ALO 141 (41) | VET 256, ALO 252, WEB 242 , HAM 240, BUT 214 |
*entre parênteses, a diferença entre o primeiro e o último entre os postulantes diretos ao título
**pela pontuação usada naquele ano, Hamilton superou Alonso pelos critérios de desempate.
Campeonatos como o de 2007 (e 2010) mostram como ter mais de um adversário pode dificultar manter a liderança na tabela. Com seis etapas para o final, Lewis Hamilton tinha o equivalente a 45 pontos de vantagem sobre o eventual campeão daquela temporada, Kimi Raikkonen, mas começava uma trajetória de queda, enquanto Fernando Alonso e Kimi passaram a lhe tirar pontos. A sequência do inglês, de nove pódios nas primeiras nove provas, se tornou três nas oito corridas finais, metade do que conquistou o espanhol. O problema de Alonso foi o abandono por acidente na antepenúltima prova, o que, somado à queda de rendimento de seu então companheiro de McLaren, abriu a oportunidade para Raikkonen, que fez pódios em todas as últimas sete etapas e venceu três das últimas quatro provas.
Em 2008, tivemos algumas reviravoltas nas provas finais na disputa entre Massa e Hamilton. Com seis etapas para o final, o inglês liderava com o que representaria nos pontos de hoje 172 a 158, ou seja, 14 de vantagem. Perderia uma vitória para o rival por punição na Bélgica, teria uma péssima classificação na Itália, onde Massa também desperdiçaria a chance de marcar mais pontos e chegaria apenas em sexto, e sairia no lucro com o erro da Ferrari em Cingapura para atacar as provas finais em uma situação mais confortável: 17 pontos de folga. Massa ainda perderia grande chance no Japão, quando só tirou o equivalente a 6 pontos em um dia em que o inglês aprontou e, mesmo com o jogo de equipe da China, um segundo e um primeiro lugares não foram suficientes nas provas finais. Perdeu o campeonato por 4 pontos na “moeda” atual.
Mas o campeonato mais parecido com o de 2012 é de dois anos atrás – e com os mesmos personagens, nas mesmas equipes, ainda que em papéis um pouco diferentes. Com seis provas para o final, Hamilton, que terminou aquela temporada em quarto, era o líder, com 182 pontos, contra 179 de Webber (terceiro no final), 151 de Vettel (campeão), 143 de Button (quinto) e 141 de Alonso (segundo).
Hamilton perderia contato após dois abandonos por batidas em Monza e Cingapura e a queda do desempenho da McLaren. Webber, naquele momento, já vinha perdendo constantemente para Vettel desde o GP da Grã-Bretanha, mas acabou liderando por 3 GPs, até o abandono, também por acidente, na Coreia, mesma prova da qual Vettel sairia líder caso não tivesse um motor quebrado. Foi a chance de Alonso liderar, após três vitórias em quatro GPs. O espanhol, no entanto, acabou perdendo a ponta para o alemão, que venceu as duas provas finais, na última prova.
Ou seja, ainda que Hamilton tivesse uma liderança ainda mais folgada que a de Alonso hoje sobre aqueles que lutariam diretamente pelo título, o espanhol fez 53 e Vettel 47 pontos a mais que o inglês, em grande parte porque os dois venceram três provas cada nas últimas seis etapas.
Os dois ponteiros desta temporada, portanto, sabem bem como vantagens podem evaporar do dia para a noite. Não há dúvidas de que a receita das provas finais de 2010, de vencer a todo custo, é exatamente o que alemão tentará – e não precisa ganhar todas, mas pelo menos duas ou três para não precisar de um abandono do rival. Enquanto isso, resta a Alonso, se realmente confirmar-se a tendência de que ganhar é pedir demais para a Ferrari no momento, torcer para Button, Webber ou mesmo Raikkonen dividirem os pontos máximos. A disputa está aberta. Façam suas apostas.
3 Comments
Ju, de todas variantes, algo que me incomoda bastante, é o fato do piloto vir com história de “marcar concorrente”, sei lá, acho muito mais rentável terminar o mais á frente possível quando não se tem o melhor carro, e atacar quando não se tem nada à perder…Penso que se a Ferrari não tivesse insistido nessa tática de “marcação unitária”, quando se tem diversos concorrentes, Alonso poderia ter permanecido mais tempo na pista, afinal os pneus estavam em bom estado, segurando o título de 2010, mas escolhas são feitas, e…
Ju, só uma correção.
“**pela pontuação usada naquele ano, Hamilton superou Alonso por um ponto”.
Na verdade Kimi foi campeão por um ponto de diferença para Hamilton e Alonso, empatados em número de pontos. Hamilton foi o vice pelos critérios de desempate – maior número de segundos lugares.
Corrigido, obrigado!