F1 Carros separados por centésimos: por que não no grid todo? - Julianne Cerasoli Skip to content

Carros separados por centésimos: por que não no grid todo?

Quem acompanha os textos da sessão Nostalgia no blog já percebeu que não é de hoje que se reclama do nível de competitividade da Fórmula 1. O pessoal dos anos 70 sonhava em voltar aos 60, os dos 80 tinham saudades dos 70, e por aí vai. Mas isso não quer dizer que não haja o que melhorar. Sim, politicamente será sempre difícil tirar os privilégios de quem os têm, e todas as vezes que alguém tentou fazer isso, os grandes ameaçaram ir embora. E a F-1 está vivendo outro momento como este, com o Pacto da Concórdia ainda não finalizado para 2021.

Na pista, temos hoje uma situação muito interessante: há alguns anos, o que se costuma chamar de F1B se firmou como um campeonato extremamente imprevisível. Não faz muito tempo que a categoria tinha o pelotão da frente, o meio do pelotão e o fundão. Depois que Marussia, Caterham e HRT morreram na praia, e a Haas entrou com um modelo de negócio mais sustentável para uma equipe nova, formou-se um grupo homogêneo, em que as diferenças são ínfimas (excluindo a Williams, que está chegando) e no qual há, por conta disso, muita variação na relação de forças dependendo do circuito.

A transmissão oficial parece não ter se atentado a isso: grandes disputas estão acontecendo na tal F1B e acabamos não vendo, com as câmeras focando nos 0s03 que Leclerc tirou de Bottas na última volta, por exemplo. E isso fomenta a ideia de que a F1 não é competitiva.

Mas se há igualdade para sete das dez equipes do grid – com a McLaren tentando desgarrar-se desse grupo – por que ela não pode se espalhar para o restante?

A resposta óbvia é dinheiro. Enquanto o orçamento de Ferrari e Mercedes está na casa dos 400 milhões de dólares, dificilmente um time da F1B passa dos 200 – as exceções são McLaren e Renault, mas ainda assim eles não superam os 250 milhões. É por isso que a Liberty lutou tanto para implementar o teto orçamentário em 2021 – mas há quem duvide que, mesmo com o máximo estipulado em 175 milhões de dólares (excluindo pilotos, principais funcionários e marketing) seja algo totalmente controlável, especialmente para quem, justamente como Mercedes e Ferrari, fabrica os próprios motores.

Outro caminho tentado pela Liberty foi a padronização de peças cujo desenvolvimento é caro, mas não traz tanta diferença de performance. Mas os times barraram muitas dessas padronizações, segundo eles, para proteger o “DNA do esporte”. 

Um fator importante para a divisão entre F1A e F1B é a diferença nos motores. O regulamento prevê que as montadoras ofereçam o mesmo produto que usam para seus clientes, mas eles podem muito bem cobrar mais pelo upgrade. Além disso, se você é um cliente e está pagando caríssimo pelas unidades de potência, vai pensar duas vezes antes de usar toda a potência disponível e correr o risco de quebrar.

Mas o que o dinheiro compra na F-1 e torna as equipes ricas tão superiores? Primeiramente, profissionais mais gabaritados e numerosos, e que podem errar mais. Explico: com mais recursos, é possível experimentar mais na hora de projetar peças, já que o quadro de funcionários é muito mais robusto e o orçamento, maior. 

As ferramentas de simulação, fundamentais na última década, também tendem a ser melhores para quem pode investir mais, e isso economiza tempo de trabalho e dinheiro. E até as peças podem ser mais novas: lembro de Felipe Nasr contar como os cobertores de pneus e ferramentas de pit stop da Sauber eram os mesmos usados há 10 anos quando ele estava por lá – o time, inclusive, acabou de ganhar seu primeiro simulador! E ano passado a Racing Point se viu forçada a continuar usando muita coisa do carro de 2018 pelo “apagão” de recursos que teve no meio da temporada.

É também por todos esses motivos que dinheiro per se não resolve tudo. A própria Mercedes teve que abrir os cofres para começar a ganhar, e só conseguiu porque acertou a mão no motor em 2014 (ainda que os motivos para isso sejam um tanto sombrios). Também por motivos sombrios, a Honda acertou a mão na outra mudança de regulamento, em 2009, mas não ficou para ver o baile. Para ver a brecha que os outros não enxergam, é preciso bons engenheiros e boas ferramentas de simulação, ou seja, de muito investimento ao longo de anos.

É por isso que tenho lá minhas dúvidas sobre a eficiência teto orçamentário a médio prazo. É sem qualquer teto que as equipes projetarão os carros de 2021, e não é difícil imaginar quem tem mais chance de encontrar o caminho das pedras.

4 Comments

  1. Julianne, não tem como as 10 equipes serem tão competitivas em um nível de centésimos entre a primeira e a última colocada, isso é da natureza de qualquer competição ou setor da vida. Mas concordo que também não ha motivo para abismos tão grandes como vem ocorrendo nesta década( se ela já não acabou), aonde apenas duas equipes dominaram a mesma, Red Bull e Mercedes. Concordo com as equipes quanto a padronização, este é o grande DNA da F 1, imagina se lá nos anos 90, a suspensão ativa da Williams fosse padronizada!!! Ainda entendo que uma forma mais justa da distribuição do dinheiro é a melhor forma de se buscar uma melhor competividade, mas nunca a ponto das equipes serem tão equalitárias em todos os sentidos, o que podemos crer e esperar, é de repente uma equipe média dispontar em um campeonato devido a uma nova solução, mas todos sabemos que não irá durar toda a temporada, já que as grandes rapidamente irão copiar a solução inovadora, vide difusor duplo da Brawn (Honda) em 2009. Assim, é torcer para que à parir de 2022 esta competividade apareça, já que para 2021 não creio em grandes mudanças, mesmo com o novo regulamento técnico.

  2. Na minha opinião a F1 passa com a Mercedes o momento que a gestão do material humano é maior diferença, sendo que na era Shumacher eu via o dinheiro bem empregado em um piloto com uma determinacao e talento extremo.

  3. Não adianta tentar mudar, as equipes grandes e que possuem um mínimo de organização sempre irão dispor dos melhores resultados. O teto orçamentário é só a última piada da história da F1. Excluir dos 175 milhões os salários dos pilotos e dos chefes e o dinheiro gasto em marketing foi péssimo. E como vc mesma disse, desenvolver o carro esse ano para 2021 não terá teto, quem sair na frente terá muita vantagem com relação aos demais (2014 feelings), aí serão anos para que alguém consiga alcançar


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