Deve ser difícil estar na pele dos técnicos da Pirelli. O GP da Hungria nunca foi dos mais animados, pois trata-se de uma pista estreita e com poucas retas, o que dificulta que os pilotos coloquem o carro de lado. Essa tendência à chatice não pôde ser mudada nem com a DRS, uma vez que a reta principal do circuito não é longa o suficiente para que o artefato tenha efeito. O que poderia ajudar, portanto, eram os pneus, mas a escolha do composto nem sempre é fácil.
Conversando com o diretor esportivo da Pirelli, Paul Hembery, em Hungaroring, foi possível pinçar ao menos um pouco da complexidade do trabalho que a empresa italiana faz. O inglês explicou, por exemplo, que não levou os pneus supermacios e macios para Budapeste, como é de praxe, temendo alguma surpresa climática do verão europeu. Isso porque, embora os compostos mais macios fossem os mais adequados para uma pista sem curvas de alta e em que o desgastante não é muito alto, caso a temperatura fosse mais baixa – como em um final de semana chuvoso – ninguém conseguiria andar com o supermacio.
Sim, a Pirelli optou pela saída mais conservadora e acabou sendo criticada de qualquer jeito. Afinal, muito da procissão que vimos hoje teve a ver com a pouca diferença em termos de degradação entre o macio e o médio. Como o composto mais duro era excessivamente bom, a queda de rendimento de Lewis Hamilton no final – assim como de Fernando Alonso na luta com Button ou Bruno Senna na briga com Webber – não acabou a ponto de ser necessário um comprometimento: ou faz um pequeno stint para voar no final, como tentou Vettel, ou tenta se aguentar na pista. No final das contas, parar cinco voltas depois pouca diferença fez para Raikkonen, que em momento algum esteve perto o bastante para colocar de lado.
É esse tipo de limite que a Pirelli busca. Hembery afirmou que a intenção é fazer um pneu que dure 100km (como as provas têm 300km, isso representaria GPs com duas paradas). Um pequeno erro de cálculo já abre a janela para uma parada apenas, o que quer dizer que o pneu está durando demais. Isso, os fornecedores têm de desenvolver usando um Renault com dois anos de defasagem, simplesmente porque as equipes não entram em acordo para que decidir quem cederia o carro para os testes.
É comum vermos críticas entre os espectadores da F-1 de que uma corrida foi chata, ou julgando atuações dos pilotos apenas pelo resultado. Tudo é preto no branco: “fulano é braço, ciclano é gênio”. É claro que dá para ver o esporte só para se entreter, sentar no sofá e dizer: “gostei de ver isso, não gostei daquilo”. Ninguém é obrigado a virar expert. Mas se aventurar nas complexidades é a graça deste esporte quando a ação na pista deixa a desejar.
2 Comments
Concordo, um dos maiores atrativos da F1 é a sua complexidade somada as belas manobras e disputas entre os pilotos nas pistas em que isto é possível.
Gostaria de ter visto pelo menos uma ultrapassagem igual à do Rubens em Schumacher em 2010, bom…. sem tanta violéncia é claro 😛
Ju, uma dúvida fora do tema: na perseguição de Raikkonen à Hamilton, percebi que a luz de chuva da Mclaren permanecia piscando, como se estive com corrida em chuva, nesse caso é permitido? Seria um problema eletrônico na Mclaren? O acionamento do mecanismo é manual ou automático? Pensei que poderia acontecer a qualquer momento uma pane eletrônica no carro do inglês…