“Colocaria algum dinheiro em vitórias de Michael no decorrer do ano”. A frase é de alguém que sabe do que está falando, Paul Hembery, diretor esportivo da Pirelli. Alguém que aposta em Schumacher tendo como base os inúmeros dados que tem à disposição. Mônaco, sem punição e quebra, seria uma opção, e Canadá, prova sobre a qual trataremos mais a fundo amanhã, também. No entanto, depois de dois anos e seis GPs do retorno do mais vitorioso piloto de todos os tempos, provavelmente ninguém dirá que a empreitada foi um sucesso absoluto mesmo se previsão de Hembery se concretize.
A idade pode ter lhe tirado alguns décimos, ainda que apenas no campo dos reflexos, uma vez que os especialistas garantem que aquela perda física natural após os 40 não ocorre entre os praticantes regulares de exercícios. A Mercedes, também, não é como a Benetton de 94-95 ou a Ferrari a partir de 98-99; é um time em formação, assim como estes dois exemplos quando Schumi aterrissou. Mas o que parece fazer mais falta ao alemão é o conjunto de regras as quais domou com maestria.
O rei da era do reabastecimento e dos pneus que aguentavam uma volta de classificação atrás da outra não parece ter vez na categoria hoje. É como um músico que já não consegue empolgar a plateia com seus hits de 20 anos atrás. E não é uma ou outra vitória que vai mudar isso: o que impressionava em Schumacher era sua habilidade de andar sempre no limite sem transparecer que estava no limite.
E limite é uma palavra em desuso nessa nova F-1. A não ser, é claro, quando se fala em custos. Custos que a Ferrari não media para dar a seu líder quilômetros e mais quilômetros de testes; custos que a Bridgestone despejava para desenvolver um pneu que atendia aos anseios do capo tedesco de Maranello – e não digo isso com ar de demérito: é direito adquirido. Dizem que a primeira impressão é a que fica e acredito que minha geração sempre vai relacionar o nome Ferrari à bagunça da época de vacas magras que Schumacher e seu exército particular transformaram em mina de ouro.
Nada daquilo, contudo, faz sentido agora. E Schumacher parece uma velha estrela do rock aderindo aos sintetizadores ou duetos com rappers. Correr dosando os pneus simplesmente vai contra sua natureza, contra tudo o que fez dele Michael Schumacher, com seu ritmo alucinante capaz de fazer de qualquer um gênio da estratégia. Hoje, é preciso ficar no fio da navalha: se o ritmo for forte demais, o pneu se superaquece; caso contrário, não chega na temperatura e, nos dois cenários, se desgasta mais rapidamente.
Mas os grandes não se adaptam? Até que ponto as derrotas para Rosberg podem ser colocadas na conta da idade ou simplesmente significam que o alemão teve a sorte de correr a maior parte do tempo com um conjunto de regras que se adaptavam a seu estilo?
Ele não está sozinho neste barco. Massa é outro caso e Hamilton começa a engrenar após não compreender logo de cara as novas necessidades trazidas, primeiro pelas regras de 2009 que diminuíram a distância entre as equipes (ainda que só tenham sido mais sentidas agora, devido à exploração exagerada permitida nos difusores), depois pelo fim do reabastecimento e, por fim, pelos pneus Pirelli. Raikkonen seria outro forte candidato a sofrer, mas curiosamente sua principal dificuldade nestes 6 primeiros GPs é na classificação. Por outro lado, vimos o crescimento de Button, ainda que siga necessitando de um carro equilibradíssimo para andar bem, e do samurai pau para toda obra Alonso.
Às vezes penso o que seria de Gilles Villeneuve pilotando nesta primeira década dos anos 2000, sem ter de se preocupar com quebras, podendo ir para cima o tempo todo – e se frustrando com as poucas chances de ultrapassagem. Da mesma forma, como seria o desempenho de Alain Prost no atual campeonato? Um exercício de imaginação que, no caso de Schumacher, ganha ares de dura realidade.
20 Comments
Ju,em 2006 Michael Schumacher deu uma entrevista e nessa entrevista foi lhe perguntado uma pergunta em relação ao retorno:
SZ-MAGAZIN – Michael Jordan voltou duas vezes da aposentadoria.
SCHUMACHER – É possível. De qualquer forma eu não voltaria, caso tivesse que pensar nisso. Além disso não se pode comparar basquete e F-1. No nosso caso, o preparo físico não é a única coisa importante. A F-1 se modifica: a técnica, os motores, as regras, as pistas. Quando você cai fora, está fora.
Acompanhei a carreira do Schumacher e antes da aposentadoria ele tinha uma capacidade de adaptação incrível,estava em contante atualização nunca havia parado antes,quando retornou estava 3 anos obsoleto,é claro perdeu 3 anos de inovações e mudanças que acabam pesando e se torna uma desvantagem em relação a garotada nova que desde então acompanham as regras e nunca pararam,pois bem muitos podem se perguntar “a ele tinha 16 anos de carreira quando parou por que teria desvantagem ?”,a formula 1 é muito dinâmica e as regras desde 2006 foram uma das mais radicais dos últimos anos.
Acho que diz muito sobre ele o fato de ter retornado mesmo ciente de tudo isso.
Junto a isso algumas declarações recentes, sobre a participação de Alesi na Indy: “Cruzo os dedos para que ele não tenha nenhum acidente grave, porque o prazer é uma coisa, mas também há a necessidade de continuar saudável”
Há quem diga que o retorno mancha sua trajetória mas, para ele, é uma questão de autopreservação, principalmente depois do acidente de moto.
Será que o acidente de moto deixou sequelas ?
ótimo texto!
Julianne, parabens !!!
Sua lucidez eh impressionante e a maneira clara que vc se expressa eh algo fora do comum algo muito dificil de encontrar principalmente qdo o tema eh Automobilismo e a F1 no Brasil.
Eu não entendo,em 2010 os pneus eram extremamentes duravéis,Schumacher não conseguia aquecer os pneus e reclamava(mais ele não era super agressivo em sua pilotagem,como pode o próprio não consegue aquece-lós??????), em 2011 e 2012 os pneus são bastantes fragéis,Schumacher agora crítica os pneus dizendo que os pilotos não podem andar no limite pois os pneus acabam em 1s.É uma situação bem contraditoria,quando tinha pneus que duravam uma eternidade ele não consequia aquece-lós,agora são mais macios e ele superaquece eles.
Leandro, acho que nesse caso, o diferencial para Shumacher, além do tempo parado, idade e do KERS e asa móvel, ainda tinha o tanque cheio, pois se não me engano, Shumacher andou de tanque cheio apenas de 91 a 93.
Em 2010 os pneus eram mais resistentes porem tinham características de o carro sair mais de frente características que vai contra a pilotagem do Schumacher que gosta de um carro com a frente mais presa e a traseira mais solta,segundo Ross brawn os pneus de 2010 não funcionavam com a distribuição de peso mais para a frente pois os pneus perdiam a aderência.
Ju, quando vc fala em “limite em desuso”, vc acredita que terminando a obrigatoriedade da utilização dos dois compostos, poderíamos voltar a ter táticas extremas, tipo: uma parada x três paradas? Poderíamos ter assim uma disputa nos limites dos desempenhos? Muitos desmerecem essa nova F1, dizendo que preferiam os indestrutíveis Bridgestone, mas me parece pura especulação em dizer que as corridas são reféns apenas dos pneus, ora, se tudo está congelado, de motores à aerodinâmica, cabe aos pneus ser o fiel da balança, e nesse caso, a equipe que melhor se adaptar, levará o troféu. Posso estar sendo extremamente intolerante, mas acho que a F 1 deve se adaptar ao esportista em apenas dois casos: equidade esportiva e segurança, no mais, como mero mortal, Shumacher deve se adaptar á F1, e não o contrário. Nenhum esportista pode ser maior que o esporte em que compete. Ps: Ju, respondendo seu último parágrafo, imagino que Gilles seria ainda mais genial, pois tendo um carro muito frágil e inseguro andava aquilo tudo, imagina se teria medo de ultrapassar na Eau rouge, ou dividir a Parabólica com alguém??? Acredito que Prost seria ainda maior, afinal, mesmo não gostando de chuva, o francês no seco, era tão rápido quanto Senna, além de exímio acertador de carros. Com esses pneus, nadaria de braçada!
Concordo com essa questão de movimentação das estratégias mas, por outro lado, acho um desafio interessante em termos de engenharia e de acerto haver dois compostos obrigatórios. Do que não gosto é dessa história dos 10 primeiros largarem com o pneu da classificação. Isso só fazia um pouco de sentido quando existia mais diferença entre as equipes.
Julianne, indo nessa direcao, vc nao acha que seria mais legal ainda se cada equipe pudesse escolher o composto de pneu que lhe fosse favoravel e nao termos esta arbitrariedade de ter que utilizar dois compostos obrigatoriamente ?
Esse lance de poupar pneus no Q3 e a obrigatoriedade de lagar com os pneus de classificacao eh algo que teria ser revisto na minha opinao tambem.
Se você me perguntasse isso ano passado, provavelmente diria que sim, pois os dois últimos compostos da escala estavam tornando a disputa injusta: só dois carros geravam pressão aerodinâmica o suficiente para fazê-los funcionar. Mas hoje, com tudo tão próximo, vemos que os compostos não influem tanto. Acho que esse é um equilíbrio melhor do que liberar, pensando na justiça da competição (todos têm que se virar para tirar o melhor de uma situação que é a mesma para todos) e para o público em geral, por ser uma fórmula mais simples.
Muito obrigado pela resposta.
Ju,a pirelli cogitou disponibilizar pneus de classificação,eles já teriam tudo pronto,basta apenas as equipes concordarem.
qual a sua opinião em relação a isso ?
Também cogitou-se obrigar quem não faz tempo no Q3 a largar com o pneu do Q2 ou proibir que não marquem tempo. É um assunto bastante complexo e prometo um post sobre isso quando tiver mais tempo, ok?
ok
Pois é: duas considerações , a primeira é que o schumacher tinha o melhor carro disparado qdo comparado nos seus anos de gênio , agora nao tem mais, voltou ao normal, e segundo agora pneu, clima, combustível, posição do retrovisor, cor do carro , regulagem de válvulas, tudo é motivo para desculpas ao piloto meia boca!!!! Quem é bom , é bom de qualquer maneira, com qualquer carro, com qualquer combustível ou regulagem!!!
Acho que hoje em dia se esqueceram disso!!!
Campeonato mundial de pilotos quer dizer, o mais rápido, agora é pressão do pneu, cor do pneu, minuto em que entra na pista, se usa uma duas ou três voltas um pneu, etc, etc, etc, : Pelo amor de Deus, isso nao tem nada a ver com ser um piloto rápido! Esta é a essência do automobilismo de competição ! Quem é mais rápido ganha, quem for mais lento, perde!! Todas as malandragens ou espertezas ou tecnicidades nao fazem com que um esperto desses seja mais piloto do que um outro. Eliminem todas as limitações para se saber quem realmente é mais rápido dirigindo um carro de corrida, esta é a maneira simples e direta de se saber quem é rápido e quem nao é! Vamos exigir o fim dessas invenções ridículas que foram inventadas unicamente visando audiência!!!!
Não, é exatamente o contrário, quem é lento, não frita os pneus, por isso ganha, quem é rapido perde, essa é a F1 de hoje, nenhum piloto anda no limite, nem mesmo em classificação pra não destruir os pneus pra corrida, o schumacher só sabe andar no limite.
Mudar de equipe, disputar título e ser campeão com carro PRONTO é fácil. DURO é montar um time com vontade partindo lá de trás até o sucesso, Schumacher pela terceira vez esta conseguindo fazer isso. Uma sequência de provas sem azar seria ótimo para Schumacher porque esse ano ele esta muito melhor que 2010/11.
O velho alemão pilotou sob vários regulamentos e carros diferentes entre 91 e 06, nunca teve problemas…só que ele era novo. Hoje aos 43 anos Schumacher esta indo contra a lei da natureza, mas é válido sua volta pela coragem, outros campeões não tiveram essa ousadia de continuar na F1 depois dos 40 anos. Claro que a idade e o tempo parado de 3 anos pesaram, mas é bom ver Schumacher de volta, ele sempre dá um jeitinho de aparecer, vimos isso várias vezes desde que voltou, com um carro decente desde 2010 estaria vencendo com certeza.
Os pneus em 2012 estão sendo extremamente complicado para todos(a volta dos testes resolveria isso, chega ser ridículo um mundial sem poder treinar), basta ver o número de vitórias e poles entre os 5 primeiros na tabela, uma MIXARIA para cada um. Raramente alguém consegue ir bem na classificação e corrida, quando se classifica bem no Grid, na prova fica devendo, ou acontece justamente o contrário! Quem começar a descobrir os “segredos” da borracha pode começar a se recuperar vindo lá de trás, ou se distânciar se estiver na frente na tabela. Nesse ano “louco” tudo é possível, acabei de ver o GP da AUS 93, sem reabastecimento e os carros de ponta fizeram 2 trocas de pneus, não é tão diferente da maioria das corridas de hoje. Com três trocas, aí sim os pilotos podem reclamar, e muitos chegaram a fazer 3 trocas esse ano, por isso tanta reclamação. Schumacher é importante na Mercedes porque ao lado de R.Brawn faz o trabalho mais DURO dentro da F1, “transformam” equipes, coisa raríssima na F1. Basta lembrar o fantástico trabalho que fizeram na Benetton e Ferrari, só que essas coisas levam tempo e investimento. Como Schumacher esta com 43 anos fica cada vez mais complicado brigar de igual pra igual com pilotos 17 anos mais novos. Quem esta lucrando na Mercedes é Rosberg, mas Schummy não se preocupa com isso, até dá força ao companheiro elogiando sempre que possível. Nico já se mostrou a favor de Schumacher no time pra 2013, ele sabe que Schumacher é importante no trabalho da equipe.
As boas classificações e os bons posicionamentos até abandonar mostram que Schumacher ao volante esta em nível melhor em 2012(em 4 corridas que abandonou Schummy estava na zona de pontuação e com chance até de pódios, no minimo era para estar com 45 pontos ou mais), o problema é que o alemão esta com um baita azar em 2012. R.Brawn puxou a responsabilidade pra ele, Schumacher preferiu dizer que é só uma fase ruim, sem culpados.
R.Brawn foi procurar aquele que ele conhece muito bem, que sabe trabalhar sério porque tem atitude e moral para exigir mais investimento de uma fábrica como a Mercedes. De bobo esse R.Brawn não tem nada:
“Chamo o Schumacher que não cria confusão pra ajudar a forma um time com vontade de vencer, ao seu lado coloco um piloto jovem com vontade de ser campeão, o resto o tempo faz. Se Schumacher depois dos 40 conseguir ir bem ao volante, ótimo! Se não, ele já fez sua parte, ajudou a melhorar o time até chegar as poles, vitórias e pódios, quem sabe um título! Schumacher vale o investimento!!!”
O velho alemão esta conseguindo formar uma equipe de ponta na Mercedes(isso, aos 43 anos com uma chuva de críticas), mas veja se o velho tedesco esta preocupado com o que falam sobre ele. Nessa “segunda carreira” na F1 sequer dispara contra a equipe ou o companheiro, o alemão assumi a responsabilidade sem jogar a culpa no mundo, ninguém pode dizer que Schumacher é mal perdedor na Mercedes. Se fosse o Rubinho no lugar do velho alemão já tinha disparado contra equipe, como ocorreu na Ferrari e Brawn-GP em 09.
Schumacher desde 2010 só fala em evolução e superação, e esta conseguindo pagar a dívida de gratidão que a Mercedes deu em início de carreira bem antes da F1. Querendo ou não, tudo que acontece de bom na Mercedes também se deve ao trabalho de Schumacher(só lembram dele na hora da parte ruim, pra que valorizar…). Schumacher e R.Brawn são os “pilares” da equipe, Rosberg também leva crédito, é alemão divide atenção da equipe, mas ainda esta aprendendo a lideram com mão de ferro. Pra Schumacher esta tudo em casa, não vão pensando que ele esta desesperado por Nico entrar na briga do título, isso só vai motivar Schumacher a renovar para 2013.
Agora parem e pensem, quanto da pole e vitória do Nico tem o “dedo” do trabalho SÉRIO de Schumacher na equipe? O investimento de sálario em cima do velho tedesco é mixaria perto da ambição da Mercedes.
Não me lembro de Schumacher sentar em um carro e chamar o mesmo de porcaria. O alemão ao invés de reclamar, prefere procurar e resolver as causas dos problemas(não só do carro, mas de todos os setores da equipe). Schumacher sempre fez dois trabalhos na F1, além de pilotar monta um time com vontade.
Nessa volta, Schumacher tem mais motivos pra ter orgulho que vergonha, além de deixar seu legado esta fazendo o que gosta, é prestigiado na equipe e aos 43 anos é pago com um ótimo salário. Se tem um cara que não pode reclamar da vida, esse é o alemão! Ross Brawn poderia ter chamado outro piloto em 2010, mas chamou Schumacher, em pouco mais de dois anos a equipe encontrou o rumo a vitória.
Schumacher é uma lenda viva, se fosse brasileiro Galvão ia carregar caminhões de mer…por ele, junto com ele uma nação com milhões…