Certamente Vettel não ficou nada feliz quando, após largar mal desde a pole – mesmo com o Kers funcionando – viu seu companheiro sair do 18º lugar e aparecer no seu retrovisor na volta final, a 2s3 de roubar-lhe o segundo lugar. O líder do campeonato havia parado duas vezes e tinha os pneus acabados, enquanto o australiano fez três pitstops e vinha voando. Teria a Red Bull cometido um erro grosseiro com seu pupilo?
De acordo com Pedro de la Rosa, a estratégia de duas paradas funcionaria se o piloto se mantivesse abaixo de 1min43 no final do segundo stint. Ao contrário das Ferrari, Vettel conseguiu isso. Portanto, levando em consideração os dados do piloto de testes da McLaren, foi a degradação dos pneus duros que excederam a expectativa.
Vettel afirmou após a prova que foi justamente o ótimo stint com pneus duros da sexta-feira que mostramos por aqui que levou a equipe a acreditar que os compostos aguentariam as 26 voltas que fez na última parte da corrida. No entanto, a temperatura era mais alta o desgaste, maior que o esperado.
Além disso, o Kers, que parece ter sido fundamental na manobra de Hamilton, não estava ativo o tempo todo. Será que, ganhando os três décimos por volta que o equipamento proporciona, o alemão não acumularia a diferença necessária para ganhar?
Isso, lembrando que o alemão chegou a apenas 5s de Hamilton e só foi ultrapassado a 5 voltas do final. Mesmo com a estratégia mais lenta, a superioridade da Red Bull quase foi suficiente. Foi uma decisão marginal.
Talvez o erro fora no cuidado com o segundo jogo de pneus macios, que acabou de repente, antes até da Ferrari de Massa. Com isso, Vettel foi o primeiro dos ponteiros a parar pela última vez, o que o deixou exposto no final da prova.
A comparação direta com a corrida de Webber não cabe. Todos os pneus macios usados pelo australiano eram inteiramente novos, e isso tem feito uma diferença fundamental neste ano. Vide a luta entre Hamilton e Button no meio da corrida, quando o eventual vencedor da prova era muito mais rápido justamente por ter míseras três voltas a menos no pneu. E passou o companheiro até com certa facilidade.
A queda no Q1 foi fundamental para o resultado do piloto da Red Bull. A saída que Webber encontrou para subir do pódio desde o 18º lugar, fazendo 14 ultrapassagens ainda que tenha perdido o Kers pelo meio do caminho, foi livrar-se rapidamente dos pneus duros, que fariam menos diferença enquanto ele lutava com rivais mais lentos. De novo, uma estratégia que funcionou, claro, pelos pneus macios zerados, mas também porque o carro é bom.
Pode-se dizer que sua corrida começou na volta 10, quando parou pela primeira vez. Uma corrida de 46 voltas, sem os lentos compostos duros e largando em 20º. Virando até 3s5 mais rápido que os rivais do fundão, foi crescendo rapidamente. Quando parou pela segunda vez, na volta 25, era 11º
Nesse stint, no qual fez 15 voltas no pneu macio, mais que os rivais da ponta que paravam três vezes, já deu para perceber a diferença que os pneus novos fariam, não apenas no rendimento, mas na durabilidade, permitindo que ele fosse o último a fazer o terceiro pitstop, o que era fundamental para superar não apenas quem pararia duas vezes, mas todos que vinham a sua frente.
Com carro e pneu para se livrar do tráfego, Webber era sexto quando parou pela terceira vez, na volta 40. Para se ter uma ideia, a essa altura, os pneus de Vettel, Alonso e Massa já tinham 9, 8 e 7 voltas, respectivamente. Voltou em 7º, a 28s do líder Vettel, com 14 voltas para o final. Mesmo fazendo quatro ultrapassagens, tirou quase 26s diferença até a bandeirada.
7 Comments
O que é mais engraçado nessa história, é saber até que ponto, essas estrátegias diferenciadas para Webber, são circunstanciais, ou pertinentes a tentativa de evitar o confronto direto dos dois melhores carros do grid. Algo mt importante tbm, é o fato da pista chinesa ser mt larga, além de ter ótimos pontos de ultrapassagem. A diferença de Hamilton para Vettel, e a desvantagem de Webber para ambos, desanima. Espero que os outros evoluam. Intrigante tbm, é o fato de ser notório o quanto esses pneus se deterioram em disputa, tudo bem que em alguns casos, Webber deve ter passado de passagem, mas impressiona o quanto esse carro cuida dos pneus. Outro fato que me intriga, Ju, é o quanto a falta do KERS pode ser benéfica para a durabilidade desses pneus. A RBR disse que terá um novo equipamento para a Turquia, e caso seja usado plenamente, poderemos verificar o quanto esse equipamento influi no desgaste/performance dos Pirelli.
Wagner,
Acredito que ainda vai levar um tempo para a RBR conseguir deixar o Kers 100% ajustado, pois a McLaren, Ferrari, Renault e mesmo a Sauber, já tem pelo menos 1 ano de vantagem no desenvolvimento iniciado em 2009. A RBR está pagando agora, o preço por ter optado por não utilizá-lo no passado.
Um dos itens mais importantes do Kers é a MGU ou unidade moto-geradora, ou seja é um equipamento que tem dupla função, funciona como motor nas acelerações e como gerador de eletricidade nas frenagens. E é preciso desenvolver um ajuste fino neste equipamento, que a própria Williams anunciou que estava tendo dificuldades no começo do ano para equilibrar o desgaste dos pneus traseiros.
Sobre os pneus traseiros acaba ocorrendo dois esforços simultâneos durante a frenagem: da MGU e dos próprios freios e se não houver um equilíbrio perfeito irá aumentar o desgaste. Sem esquecer que existe a regulagem manual da distribuição dos freios para os eixos dianteiros e traseiros, ou seja, não é tão fácil como parece.
Por um lado, isso é bom, pois dá alguma chance para a concorrência.
A estratégia do Webber foi arriscada no começo e a do Vettel mais coinservadora, mas o desempenho do australiano é a prova definitiva de que os pneus tem a chave para definir a corrida, pois a estratégia do australiano permitiu um final de corrida fantástico, com várias ultrapassagens. A diferença foi pela Pirelli.
Após a péssima largada de Vettel, onde foi ultrapassado pelas duas McLarens, a RBR percebeu que não tinha um ritmo suficientemente superior para recuperar as posições numa disputa direta, devido à inferioridade de potência do motor Renault em relação ao Mercedes, à falta de um Kers eficiente e devido ao tipo de pista com longas retas que favorece mais a velocidade final que também era superior nas McLarens e mesmo na Mercedes de Rosberg.
Se mantivessem a mesma estratégia de 3 paradas com Vettel, inevitavelmente a disputa teria que ser resolvida na pista onde seria mais difícil. Então tentaram dar o pulo do gato, economizando um pit-stop. E tiveram um sucesso parcial pois recuperaram a posição perdida para Button. Só não foi perfeito, porque houve um maior desgaste de pneus devido ao aumento da temperatura da pista e por Hamilton ter economizado os pneus macios na classificação.
Vettel não podia usar a estratégia de Webber de 3 paradas, pois não tinha jogos de pneus novos como o australiano.
Se Vettel tivesse conquistado a vitória, seria considerado um gênio imbatível, mas como o sucesso foi parcial, a RBR foi criticada “por lhe tirar a chance de vitória”.
Acredito que Vettel venceria parando três vezes. É difícil avaliar, mas ele correu com o plano de 2 paradas na cabeça, economizado pneu. E vale lembrar que ele ultrapassou ambas as McLaren após o primeiro stint – Hamilton na pista e Button nos boxes.
Se a RBR já partiu com a ideia de uma tática conservadora para Vettel e ficou controlando o ritmo durante a prova, então se deram muito mal e justifica ainda mais a cara de decepção de Christian Horner e Adrian Newey no final da prova.
Teremos muitas surpresas este ano… Imagine qualquer ocorrência anormal como entrada do safety car ou chuva e a estratégia já vai para o espaço.
Mas aí é que está a diferença da RBR, Ricardo. Mesmo possuindo pneus mais gastos que Hamilton, e sendo ultrapassado faltando cinco voltas, Vettel perdeu apenas 1 seg por volta. Imagina se Vettel tivesse pneus nas mesmas condições da Mclaren, e olha que fica a dúvida da falta do KERS.