Button tem uma tendência de queda desde a Europa – em outras palavras, desde que começou a ficar constantemente devendo nas classificações, o que abre a possibilidade de tre havido alguma atualização no carro que não convém a seu estilo de pilotagem – e Vettel, desde Mônaco. O alemão mostra dificuldade em se recuperar das baixas ocasionadas pelos erros na Turquia, na Inglaterra e na Bélgica. Nas últimas duas corridas, foi o que mais se distanciou da liderança.
Alonso, depois de duas provas às voltas com comissários e o Safety Car, subiu desde a Alemanha. É interessante ver como a queda de Massa no “miolo” de temporada, quando a Ferrari ficou para trás no desenvolvimento do carro, foi bem mais acentuada. Em 5 provas, o brasileiro pulou de líder a 8º colocado na tabela.
Quem faz o campeonato “negativado”, emprestando um termo da linguagem das corridas de rua, ou seja, com a metade final mais forte que a inicial, é Hamilton. Teve problemas no início do ano, se viu forçado a fazer provas de recuperação até o Canadá, quando venceu e se estabeleceu como candidato ao título. Dali em diante, só perdeu a ponta da tabela 2 vezes em 7 corridas.
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Webber está em seu 2º momento de alta. A 1ª foi de Barcelona à Turquia. Tem mais variações de performance que Hamilton, mas conta a seu favor o fato de ter conseguido marcar pontos importantes em momentos em que a Red Bull não era o melhor carro – Spa e Monza.
Com altos e baixos muito acentuados, qualquer previsão para Abu Dhabi é arriscada. Diferentemente de outros anos, quando havia 2 forças, uma pista em que o carro não vai bem pode ser a distância entre ser 1º e 6º, ou seja, de 25 a 8 pontos!
Calculadora a postos
O atual líder, Webber, fez 13,3 pontos em média por prova. Continuando nesse ritmo, projetamos que quem quer ser campeão precisa de cerca de 255 pontos. Sendo assim. Vettel, atualmente o 5º, precisa de 92 nas últimas 5 corridas, pouco mais de 18 por etapa.
O alemão (163) está encostado em Button (165) e Alonso (166). É a turma que não pode terminar abaixo do 4ª lugar e precisa ao menos, de uma vitória para continuar sonhando com o título sem precisar gorar os adversários. Para se ter uma ideia da dificuldade da tarefa, o 1º colocado após as primeiras 5 etapas era justamente o inglês da McLaren, com apenas 70 pontos.
Isso não quer dizer que Hamilton e Webber podem se dar ao luxo de fazer marcação homem a homem. Ambos não podem perder mais de 4 pontos por prova para nenhum dos outros rivais. Sua necessidade de vitória não é tão grande, mas permanecer no pódio é importante pois, por exemplo, 2 quartos lugares do australiano em provas com vitória de Vettel coloca o alemão 2 pontos na frente do companheiro.
Outro dado interessante é a dinâmica da pontuação das últimas 4 provas, em que visitamos uma gama representativa de circuitos com características distintas. Nesse campeonato particular, a classificação seria:
1º Alonso: 68 (média de 17, perto do necessário para chegar nos 250)
2º Webber: 59 (média de 14,75, acima do que fez na temporada toda)
3º Massa: 57
4º Vettel: 42
5º Hamilton: 37
6º Button: 32
Apenas Webber e Massa completaram todas essas provas. Alonso bateu em uma, mas manteve uma média superior a 22 pontos por prova nas 3 em que se classificou (com 2 vitórias e um 2º lugar). Isso mostra que uma estratégia de tudo ou nada é premiada pela pontuação e salienta que, se Webber e Hamilton se comportarem como Button no final do campeonato passado, ficarão de mãos abanando. 24 pontos entre 5 pilotos ainda não é uma diferença que se pode administrar sem atacar.
Jogo de equipe
Dos 68 pontos de Alonso nas últimas corridas, 7 têm o dedo da equipe. Até Abu Dhabi, mais podem vir e os rivais têm que ter esse fator em conta. Mas como lutar contra isso com ambos os pilotos na disputa? Se nem os 24 pontos entre os pilotos da Red Bull são suficientes para determinar um favorito, o que dizer dos 17 que separam os ingleses da McLaren?
Isso torna a distribuição interna de benefícios complicada, ainda mais na equipe dos energéticos, em que o piloto “errado” está na frente, e andando melhor – nas últimas 5 provas, Webber chegou na frente de Vettel em 4 e abriu 36 pontos, enquanto na McLaren, Hamilton não cruza a linha de chegada atrás de Button há 10 corridas.
A situação da Red Bull tem paralelos com a McLaren em 2007. Com o melhor carro pela maior parte da temporada, a cria da casa fazia um ano de estreia espetacular e terminou a 1ª metade do campeonato 14 pontos à frente do companheiro bicampeão do mundo – assim como Webber, até a 6ª etapa, foi dominado por Vettel. A igualdade de tratamento das primeiras provas foi se transformando num esforço de tornar Hamilton o 1º estreante campeão do mundo, fazer do conto de fadas uma realidade.
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O problema é que Alonso endureceu o jogo na 2ª parte do ano, se adaptou, finalmente, aos pneus Bridgestone e, nas 6 provas seguintes à metade do ano, chegou à frente do companheiro em 5 e diminuiu a diferença para 2 pontos no final da temporada europeia. Raikkonen, o rival mais próximo, estava 13 pontos dos pilotos da McLaren.
Assim como a Red Bull, Ron Dennis tinha num dilema: apoiar o piloto no melhor momento ou apostar em sua cria? Escolheu a mentalidade: “estamos correndo contra Fernando”, esqueceu-se de Kimi e perdeu um dos campeonatos mais ganhos da história por um mísero ponto.
A queda de Vettel veio mais cedo que a de Hamilton naquela ocasião – o inglês fez só 3 pontos nas 2 provas finais – e dá a chance da Red Bull pensar duas vezes antes de continuar protegendo o alemão. Mas será que eles estão dispostos a ganhar seu 1º campeonato com o escudeiro? E a McLaren, aposta novamente em Hamilton em detrimento de um piloto não tão rápido, mas que raramente erra e arrisca repetir a história?
5 Comments
Excelente texto. Deve ser mais ou menos essa a linha de raciocínio das próprias equipes. Então, dá para ter uma ótima idéia do que cada piloto está pensando agora.
Concordo totalmente com sua análise sobre 2007.
Sobre a red bull nesse ano, acho que eles deveriam priorizar o Webber, que está com a cabeça mais tranquila.
Na McLaren, a equipe não acredita que Button pode tirar pontos do Hamilton em condições normais, mas se a situação ficar crítica, eles vão dar um jeito de a cria da casa ficar na frente.
O mais lógico é acontecer isso mesmo que você disse. Mas a cada vez que eles dão uma mãozinha para o Vettel, como na estratégia de Monza, fico imaginando se não há um pressão comercial muito forte que pode fazer com que eles percam o título.
Somente Alonso tem um piloto que pode ajuda-lo a algo. McLaren e Red Bull estão com seus dois pilotos brigando ainda, mas acredito que em 1 ou 2 corridas tudo se caminhará para somente 1 piloto de cada equipe. Essas contas também são interessantes, mas além de contas, os pilotos tem que contar com a sorte de não acontecer nada com eles, além de terem que torcer fervorosamene contra os outros. Mas o texto está otimo.
Fiz as contas levando em consideração as médias de pontuação até agora, mas é lógico que são só especulações. Temos algumas provas complicadas, que podem ter SC – Cingapura – ou chuva – Japão e Brasil – além do completo desconhecido da Coreia.
Se eu fosse chefe de equipe decidiria o 1º piloto se alguém, a partir de agora, abrisse 1 vitória de distância. Mas obviamente não sei quais os interesses que Red Bull e McLaren têm. Sabemos que onde tem muito dinheiro, as coisas não são tão preto no branco assim…
é interessante como a quantidade de postulantes ao título, dificulta a “marcação” do adversário. inclusive, criando uma dor de kbça a mais, algo que se tornaria fundamental em abu dhabi.