F1 Copo meio cheio - Julianne Cerasoli Skip to content

Copo meio cheio

Nas entrevistas logo após o GP da Áustria, os jornalistas ingleses tentavam, em vão, arrancar alguma resposta positiva de Lewis Hamilton para a próxima etapa, que será na casa do tricampeão. Porém, ao ver o rival Sebastian Vettel abrir 20 pontos na liderança do campeonato e por acreditar que poderia ter superado Daniel Ricciardo na corrida e conquistado pelo menos um pódio, Hamilton apenas murmurava que sua fase atual não é das mais positivas.

De fato, foi apenas nas últimas duas corridas que Hamilton perdeu oito dos 20 pontos que tem de desvantagem e, em ambas, a Mercedes demonstrou um ritmo mais forte. Por motivos que figuram a seu controle, o piloto não conseguiu capitalizar – em Baku, por uma falha na colocação de seu descanso de capacete e, na Áustria, depois de uma punição por troca de câmbio.

E o cenário imediato não é dos melhores. A prova de Silverstone, já no próximo final de semana, talvez não seja o melhor palco para a recuperação, dependendo muito da temperatura no clima sempre incerto na Inglaterra, ainda que o verão britânico tenha sido mais quente e menos chuvoso que o normal até aqui. Uma pista com curvas mais velozes em teoria favorece a Mercedes, mas o asfalto abrasivo poderia jogar a favor da Ferrari. E, como a etapa seguinte é na Hungria, onde seria surpresa não ver Vettel na frente, lembrando do desempenho ferrarista em Mônaco, é compreensível que Hamilton entenda a importância destes pontos que foram desperdiçados. Porém, é cedo demais para jogar a toalha, ainda mais com Vettel já usando seu quarto turbocompressor com mais de metade da temporada pela frente.

O prejuízo só não foi maior porque Hamilton tem em Valtteri Bottas um companheiro forte, que conseguiu se manter à frente de Sebastian Vettel mesmo com pneus cheios de bolhas, depois de ter arriscado e dado sorte na largada, tentando adivinhar quando as luzes se apagariam e por muito pouco não se dando mal com isso. Foi curiosa a explicação do piloto após a prova, dizendo que esse tipo de largada funciona sempre melhor nos treinos do que nas corridas “porque na hora H seu cérebro faz você ser mais conservador”. E bem quando estava na pole position, a mente finlandesa não quis saber de ligar o modo econômico!

De certa forma era esperado que Bottas superasse Hamilton na Áustria, um dos poucos circuitos em que o inglês nunca se encontrou. Mas a troca de câmbio do inglês acabou provocando uma situação interessante: enquanto Hamilton tem 20 pontos de desvantagem para Vettel, apenas 15 separam os dois pilotos da Mercedes. E, como bem lembrou o tricampeão em Spielberg, o finlandês ainda teve um abandono no caminho.

Com este cenário, a situação pode ser vista de duas formas: por um lado, Bottas ajudou Hamilton ao impedir que Vettel conseguisse a pontuação máxima. Mas ao mesmo tempo, foi uma resposta do finlandês a todas as sugestões de que seu papel na corrida seria adotar um ritmo lento para permitir que o companheiro pelo menos se aproximasse da ponta.

Alheio às questões que vêm tirando pontos de Hamilton, Vettel pode ter tido o lapso de Baku, mas vem liderando muito em função de muita consistência. Consistência, aliás, que também vem sendo a marca do campeonato de Daniel Ricciardo, em seu quinto pódio seguido, enquanto o companheiro Max Verstappen abandonou cinco das últimas sete provas, com dois acidentes nos quais não teve culpa e três quebras.

Mais atrás, impressionou a performance da Haas por todo o final de semana, ainda que as coisas não tenham começado muito bem: o time testou um novo sistema de refrigeração nos treinos livres e, nos 40 minutos em que fiquei na beirada da curva 3, vi os dois escaparem pelo menos umas três vezes!

Enquanto a Force India não teve o ritmo que se esperava, a Williams sofreu um verdadeiro blackout, que não parece relacionado com o pacote de novidades que o time trouxe à Áustria. O problema era apenas com pneus novos e pouca gasolina, ou seja, em configuração de classificação, o que explica o rendimento bem diferente na corrida, mas é claro que é algo que preocupa.

29 Comments

  1. A Ferrari vem com motor novo na inglaterra? E se vettel trocar todas as peças dos 6 componentes da unidade ,tipo utilizar um novo ccomponentede cada , qual seria a punição macima q receberia? Largar do boxes?

    • Largar de Baku.

      • De ré!!

    • A única punição seriam 10 posições pela troca do turbo, pois nos demais elementos ele ainda não usou 4. Mas não necessariamente uma atualização de motor significa que todos os componentes serão trocados.

  2. Cara Julianne, essa melhora da equipe Haas não seria devido ao novo motor Ferrari que a própria instalou na Haas, pra verificar seu desempenho e confiabilidade antes de instalar na equipe de fábrica?

  3. Ju será que o Kimi renova mesmo como estava especulado a imprensa italiana? Eu até gosto do Kimi mas sua performance é muito instável para uma equipe que quer ganhar o Mundial de construtores. Será que podemos ver um piloto como Hulk ou Perez na Ferrari ano que vem? Verstapen e Alonso já foram descartados pelo presidente. Uma ótima noite a todos os amigos do blog.

    • Daniela, acho que o Raikkonen (infelizmente) não vai entregar mais do que estamos vendo por agora. Há três anos ouvimos um conjunto de explicações — muitas extremamente razoáveis, de fato — sobre o porquê de o Raikkonen não ter bons desempenhos ao longo da temporada. E provavelmente vamos continuar escutando, sem que ele de fato resolva seus problemas.

      Hoje, o Marchionne cobrou (http://mobile.reuters.com/article/idUSKBN19U0GH) e disse que o Kimi — que tem quase metade dos pontos do Vettel — precisa fazer mais pra valer a renovação.

      Acho que ele já está em fim de carreira, num desempenho que me lembra o Massa nos últimos anos dele de Ferrari, dificilmente fica muito mais na equipe. Gostaria de ver pilotos jovens, como o Sainz, Werhlein, Vandoorne, Le Clerc tendo chances no lugar de “dinossauros” que não têm muito mais lenha pra queimar.

      • Tem o Giovinazzi né piloto reserva da Ferrari. Será que tema alguma chance?

        • Leclerc estaria à frente de Giovinazzi na linha de sucessão, mas não acredito que para a vaga da Ferrari.

      • Ele parece bom piloto, pelo que apresentou na Sauber. Mas nas categorias de base não pareceu um futuro campeão. Acho que merece uma boa chance, de toda forma.

        Sobre o substituto, imagino que há uma boa lista de candidatos:

        – Sainz, sem muito futuro na Rede Bull e já mostrando sinais de que pretende chutar as latinhas;

        – Grosjean, que foi pra Haas de olho na Ferrari;

        – Leclerc, piloto da academia e que vem destruindo a concorrência na F2;

        – Giovinazzi, italiano e piloto da casa;

        – Verstappen/Ricciardo, que aparecem volta e meia como candidatos, apesar de (eu acho) improvável;

        – Alonso, que é o Alonso e dificilmente continua na McLaren, mas teve seus problemas em Maranello;

        O mais provável, na minha opinião, é uma silly season aposentando o Raikkonen pela n-ésima vez, com vários nomes ventilados, até que a decisão saia. Aguardemos

      • Tião não gosta de concorrência ele não vai permitir que a ferrari contrate alguém caoaz de desafia-lo , por isso as chances de kimi são altas, nunca gostei do Kimi um campeão mundial que foi batido por Massa não merece respeito.
        Se eu fosse escolher a decepção deste ano eu escolheria Verstapen ele esta muito abaixo do esperado perdendo até para perez.

  4. Outra pergunta cara Julianne, a próxima etapa não seria favorável a Ferrari, porque eu estou dizendo isso, pois eu já li desde a pré-temporada por diversos especialistas que a Ferrari é um carro que é muito bom em curvas de alta, melhor do que a Mercedes, um exemplo disso foram os tempos que a Ferrari fez nos primeiros e segundos setores de Barcelona que se assemelham bastante ao circuito de Silverstone, fico no aguardo de sua opinião quanto a isso.

    • Os carros vão evoluindo, André, e nas curvas de alta de Spielberg, as duas últimas especialmente, a Mercedes foi melhor.

      • Ju, queria colocar esse ponto pra sua análise. Pelas últimas corridas, deu a impressão que a Mercedes melhorou bem e a Ferrari só irá ganhar se algo acontecer com os dois carros da Mercedes. Parece que é questão de tempo (e de sorte), o Hamilton zerar a diferença de pontos.
        Abs.

    • Andre, boa noite.
      Lembre-se do resultado final da corrida da Cataluña.

      • Sim, me lembro do resultado final, mas nessa corrida teve a interferência do VSC, junto com a bobeada na Ferrari nos pits, e com uma volta de entrada e saída dos pits do Hamilton excelentes que fizeram os dois ficarem próximos na pista com pneus diferentes com desempenho bem gritantes um do outro (digo a performance dos pneus), por isso o Hamilton venceu essa corrida, a própria Julianne em um de seus posts seguinte a essa prova, comentou que a Ferrari deveria ter vencido esse corrida.

  5. Olha, as últimas corridas me deram a impressão que a Mercedes já colocou ordem na casa novamente. Não têm mais aquele abismo entre ela e as demais, mas está a frente.

  6. Ju, acredita que a Mercedes considera Bottas um postulante ao titulo?

  7. Pergunta sobre o não-talvez-false start de Bottas.

    O carro do Bottas moveu-se antes das luzes se apagarem?

    Pelo que entendi, o carro de Bottas começou a se mover 0.201 sec após as luzes se apagarem. E o argumento pelo false-start era que o “tempo de reação” era humanamente impossível. Então o cérebro de Bottas havia iniciado a largada antes das luzes se apagarem. Esse argumento é furado! Ou o carro moveu-se antes das luzes se apagarem ou não!

    Mas se o carro começou a se mover *antes* das luzes se apagarem, mas não passou da linha branca, o sensor, da posição de largada, então ele queimou a largada. Afinal, os carros têm que estar parados p/ a largada. Qualquer movimento, mesmo que mínimo, é irregular.

    O que diz a regra?

  8. Ju, vi seu artigo no UOL e lá você escreveu que analisou os dados e que o tempo de reação foi de 0.201, porém nos vídeos que estão circulando pela internet em super slow motion mostra claramente que a roda começa a girar antes das luzes se apagarem. Como fica a confiabilidade desses dados se as imagens mostram o carro se movendo antes das luzes se apagarem? Grande abraço

    • A roda girar e o pneu tocar o sensor são duas coisas diferentes. Ajustes de embreagem (soltar milimetricamente a borboleta) são suficientes para mover o carro. E ele não teve uma reação desumana, mas fez o que muitos fazem: tentou adivinhar quando as luzes vermelhas se apagariam. E se deu muito bem.
      É uma não-polêmica.

      • Obrigado Ju! Porém na minha visão o carro não se moveu por causa de ajustes de embreagem, ele efetivamente largou antes das luzes se apagarem, mas dentro dos limites de tolerância – que ninguém sabe qual é e aqui que entra a subjetividade nas decisões dos comissários, que gera toda a polêmica.

        Acho que os maiores problemas, em qualquer área que seja, é a falta de transparência, porque gera insegurança e abre margem para questionamentos.

        Na minha visão seria muito mais honesto a FIA admitir que ele largou antes, dentro da margem “x” que é aceitável, assim todos sabem qual é a margem e também porque ele não foi punido.

        Muito obrigado mais uma vez.

        Grande abraço

        • Entendo sua colocação, mas é basicamente o que a FIA fez. Agora o público sabe que existe uma tolerância de 0s2 para algum movimento ser efetivamente considerado uma largada.

    • São duas coisas diferentes: o tempo de reação do piloto ao apagar das luzes é uma coisa; o fato de o carro se mover com sinal vermelho, ainda que minimamente, outra. Ano passado, na Rússia, Alonso teve um tempo de reação ainda menor, que pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/watch?v=DZqe_bJuyxA

      O problema maior, na minha opinião, é algo levantado pelo Bruno Ferreira, do Projeto Motor: a direção de prova disse que o sensor possui uma margem de tolerância, por isso Bottas não foi punido mesmo movimentando o pneu. Mas quando foi perguntado que “margem de tolerância seria essa”, eles disseram que “não poderiam informar”. Isso dá ensejo a acreditar que eles podem simplesmente ter optado por não punir Bottas, pois podem sempre argumentar que ele estava na “margem de tolerância”, embora ninguém saiba exatamente qual é ela.

      • Muito bem explicado, Billy.
        Existe uma margem extra-oficial é de 0s2. Isso porque os transponders usados não são 100% precisos e a FIA reconhece isso.

      • Perfeito Billy, mas no caso do Alonso o carro começa a andar apenas depois que as luzes se apagam, mas no caso do Bottas ele começou a andar antes delas se apagarem.

  9. Sobre a largada do Bottas:
    Perfeita, incrivelmente perfeita, merecia uma placa na pista da Áustria tal qual aquela primeira volta de Ayrton Senna em Donington Park (desculpe se escrevi errado).
    Julianne,
    Nos últimos anos tenho criado a mesma opinião que você sobre Hamilton, o fato dele não controlar tão bem os acontecimentos fora do carro. Podemos dizer que essa queda de rendimento do inglês se deve a esse fator? Ou é apenas impressão minha?
    Não consegui ver a corrida por completo, pergunta aos amigos do blog, o desempenho do Stroll foi consistente igual a Baku?
    Abraços pros meninos e beijos pras meninas!

  10. Julianne, vc não acha que a Ferrari bobeou com Kimi não chamando ele para a troca de pneus antes de Hamilton ou pelo menos tentando evitar o undercut e parando jâ na volta seguinte ? Jâ que os pneus estavam desgastando pouco, ele poderia colocar os supersofts e segurar Hamilton para ajudar Vettel. Vc acha que os estrategistas da Ferrari foram pegos de surpresa com a parada antecipda do Hamilton ?

    • Kimi foi usado para que Hamilton não chegasse em Vettel, por isso não faria sentido parar antes. E na volta seguinte o Hamilton já estava na frente.

      Além disso, seu posicionamento na pista, a menos de 20s do líder, travou a estratégia de Bottas.


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