Engana-se quem pensa que os pilotos mais rápidos são necessariamente os melhores na Fórmula 1. Ainda mais na próxima temporada, em que uma extensa mudança de regulamento promete alterar a fórmula para se vencer corridas. Os pilotos, que no imaginário popular são vistos como destemidos em busca de velocidade, cada vez mais se assemelham a verdadeiros enxadristas.
Essa palavra, velocidade, vem sendo substituída por eficiência. Para vencer, é preciso superar as limitações, o que nem sempre significa desafiar os limites. E, como sempre na história do esporte, aquele que se adaptar mais rapidamente às novas regras do jogo, sai ganhando.
O sucesso na Fórmula 1 nunca foi apenas uma questão de velocidade pura, mas a ascensão dos pilotos mais táticos foi se tornando mais marcante à medida que as limitações aos carros foram aumentando. A tecnologia havia praticamente transformado o piloto em detalhe. Velocidades altas demais para manter a disputa em um nível seguro, a escalada dos custos e a escassez de ultrapassagem em meados dos anos 2000 devido à alta dependência aerodinâmica foram os outros fatores que provocaram essa nova forma de ver a competição.
De lá para cá, foram várias medidas: o fim do reabastecimento – exigindo que o piloto tenha feeling para começar a corrida com o tanque cheio e adaptar sua tocada ao longo da prova – a adoção de pneus com altíssimo desgaste e a presença de dispositivos, como Kers e DRS, que facilitam as ultrapassagens e também são usados de maneira estratégica. Tudo isso fez com que os pilotos tivessem que dosar suas jogadas para aplicar seus xeques-mate.
E tudo isso será ainda mais marcante a partir deste ano. A adoção do motor V6 significa que os pilotos terão de lidar com muito mais torque. E enfiar o pé no acelerador vai levar a um consumo exagerado de pneus, perda de tempo e excesso de consumo de combustível. Este, aliás, será um fator à parte, pois ele estará limitado a 100kg/h, bem menos que os 160kg/h que costumavam ser gastos até o ano passado. Isso significa que, em determinadas situações, será mais vantajoso tirar o pé do acelerador bem antes do que frear a 50m da curva. O Kers, por sua vez, terá função tática ainda maior, como dobro da potência de 2013 e podendo ser usado por 33s3 ao invés de 6s7 por volta.
Tudo isso torna aquela pecinha que fica entre o volante e o banco mais importante. E quem só gosta de acelerar pode ir se preparando para sofrer: a revolução de 2014 na Fórmula 1 marca o reinado de quem corre com a cabeça.
Nessa semana, vou analisar aqui no blog algumas das mudanças esperadas para este novo desafio que começa em duas semanas, no teste de Jerez.
21 Comments
Ou seja: talvez Massa não vá conseguir mais nada mesmo na F1, dado que ele não é um piloto cerebral…
Eu ia comentar exatamente isso. Foi-se o Massinha, que sempre foi piloto de ON/OFF com o acelerador, vide a temporada de 2008, quando ele chegou ao ápice do entendimento daqueles F1 de alta eficiência aerodinâmica e com controle de tração, bastava apertar o acelerador como um botão on/off e deixar o computador fazer o trabalho pesado.
Depois o garoto não se entendeu mais.
Ele mesmo dizia, em 2001, que era piloto decidido, não gosta de estratégia, prefere partir para cima.
E em 2009 ele afirmava que seria mais delicado pilotar porque agora o acelerador não é mais um botão de liga/desliga, tem que dosar.
Espero que todos estejam errados e ele evolua e aprenda rápido a pilotar estes novos F1, que na minha insignificante opinião, são uma merda mesmo.
Dane-se KERS, DRS e o escambau.
No último credencial, exatamente esse tema foi abordado. E a Ju bem lembrou que pilotos como Hamilton e Massa não têm característica de dosar o acelerador. Eles tendem a sofrer mais do que nunca. Isso corrobora declarações do próprio Hamilton que preferia a Fórmula-1 pré-2009, quando não havia qualquer tipo de preocupação com o desgaste do equipamento.
Já pilotos como Vettel, Alonso e Räikkönen tendem a se distanciar ainda mais dos outros em nível de performance.
Hamilton amadureceu bastante seu estilo de pilotagem e ano passado já foi possível ver ele gerenciando muito bem algumas corridas. Segurar o instinto é difícil para todos os pilotos, sem exceção. Mas existem aqueles que usam mais a cabeça e pensam no campeonato como um todo.
Acho Alonso o mais cerebral da turma toda acompanhado de perto por Button. Sabem gerir uma corrida como poucos. Kimi também melhorou bastante seu estilo sendo mais pragmático. Vettel no quesito cérebro ainda tem boa margem para crescimento, mas já não é um novato e saberá usar toda a inteligência que adquiriu nestes anos ganhando títulos. Corre sem pressão alguma o alemãozinho.
Na verdade muita informação é o engenheiro que passa e continuará passando aos pilotos, quando acelerar, melhor hora para entrar no box, quando tirar o pé e tal. Mas algumas iniciativas agora poderão ser tomadas exclusivamente pelos pilotos e aí que os cerebrais vão fazer diferença. Repito, se a Ferrari tiver um carro decente, Alonso fará a diferença mais uma vez. Está no auge emocional e cerebral de um piloto.
Se a redbul fizer um carro decente o melhor do grid em todos os fundamentos será penta, Webber falou que esse novo regulamento caiu como uma luva para vettel devido sua inteligencia em gerir uma corrida, então ele só vai precisar de um carro bom o resto ele vai fazer com sua competencia de sempre
Caro Lúcio, podem dizer o que disserem, mas Vettel é, antes de tudo, um velocista. Com ele é pé embaixo, o resto vem a reboque. Meu palpite para 2014 é que será PENTA, o único que eu vejo como capaz de desafiá-lo, se a Mercedes lhe entregar um carro competitivo, é Hamilton.
Bem lembrado Aucam o Hamilton pode ser o grande concorrente do Vettel, vai ter pista que não vai ser preciso economizar combustível e a corrida vai ser pé embaixo o tempo todo, a única coisa que tenho dúvida é quanto a confiabilidade nas corridas iniciais.
Haverá corridas em que não será preciso se preocupar tanto com o combustível, mas isso não significa que serão corridas com pé embaixo. No texto de hoje cito outros fatores que afetam a pilotagem e não podemos esquecer que são apenas cinco motores/ano!
Discordo de vocês dois, se me permitirem. Acho que Hamilton e Vettel vão sofrer mais com a gestão de corridas do que Button e Alonso por exemplo. Massa também porque é um velocista. Talvez a gente se surpreenda com alguns pilotos como Perez, Hulk e Grosjean.
Fernando, fique à vontade para discordar. Tirante Hulk, concordo com o seu ponto de vista sobre Perez e Grosjean. O importante é ter velocidade e garra.
sem dúvida que há pilotos que vão sofrer e muito.
e para outros será uma lufada de ar fresco, a começar pelo button – que já em 2009 soube bem aproveitar a sua capacidade analítica para levar vantagem (ajudado claro pela equipa que tb melhor soube adaptar-se às novas regras) e ser campeão do mundo.
tb raikkonen terá chance de ouro, ele que tb em 2013 ainda no desconhecido que eram os pneus do início do ano soube bem adaptar-se e vencer a corrida inaugural.
e aqui a ferrari terá chance de ouro, saibam eles adaptar-se à tecnologia, e terá tb em alonso – outro matemático da F1 – e terá 2 extraordinários pilotos com uma extraordinária leitura de corrida.
Oi Julianne,
Tanto é verdade tudo isso que você escreveu que, Nigel Mansell, um dos grandes pilotos, mas que andava mais com o pé do que com a cabeça junto, demorou tanto tempo para conquistar um título.
O Mansell dos anos 80 e 90 seria um daqueles pilotos que iria sofrer bastante com esse novo regulamento.
Um abraço!
VIVA Tázio Nuvolari, Alberto Ascari, Dan Gurney, Clark, Rindt, Stewart, Lauda, Regazzoni, Gilles Villeneuve, René Arnoux, Jean Pierre Jarrier, Mansell, Nelsão Piquet, Stefan Bellof, Ayrton Senna, Mika Hakkinen, Keke Rosberg, José Carlos Pace, Kubica, Vettel, Lewis Hamilton, e, porque não – no Rallye, preciso dizer – gente como Ari Vatanen, Walter Rohrl, Juha Kankunnen, Colin McRae e Loeb, TODOS gênios comprometidos com a velocidade e com a subjugação das Leis da Física com as suas máquinas, e não com a subjugação de regulamentos, vixe! Aí nesse time não tem cozinheiro de galos em banho-maria. Abaixo os abomináveis cerebrais que só entregam ramerrame, tédio e sonolência, ABAIXO A FÓRMULA 1 TRAVESTIDA DE ENDURANCE, com perda de sua essência fundamental, A EXTREMA VELOCIDADE. Xadrez é xadrez, automobilismo é automobilismo, as emoções podem até ser as mesmas para os amantes de cada modalidade, mas são de natureza diferente. Fórmula 1 tem que ser 100 metros rasos, este é o seu DNA – e não Maratona. Nada de poupanças, ultrapassagens no box, DRS, exércitos de estrategistas mandando diminuir etc. etc. etc. Fica aqui o meu insignificante protesto, mesmo sabendo plenamente que não adianta P#*&@ nenhuma. Culinária de galos em banho-maria não é comigo. Por que ainda assisto a F 1? Por que é o mais viciante de todos os vícios. Impossível largar dele desde que me iniciei, no já remoto ano de 1957. Paixão por carros e corridas é coisa muito séria.
Meu Deus! Fui retificar a ordem dos nomes e vejo que apaguei sem querer o nome do mais impressionante de todos, RONNIE PETERSON! Esse não apenas subjugava, ia além, desmoralizava as Leis da Física!
Hoje a dispersão tá braba! Faltou mencionar outro extraordinário velocista: Chris Amon.
ou o grande markku alen e o seu mítico “carro que anda de lado não anda prá frente”
Sim, caro CPA, “carro que anda de lado não anda pra frente”, mas pode virar tempos mais rápidos nessa condição, conforme CANSOU de provar o inesquecível Ronnie Peterson, para mim o piloto mais espetacular e impressionante piloto que vi correr na F 2 e F 1 e o melhor de sua geração. Gosto de assistir de demonstração de habilidade natural; particularmente como fervoroso aficionado não dou essa importância exagerada a títulos e estatísticas, mas vitórias vão bem, de preferência épicas, como a de Beltoise em Mônaco em 72. E não sou saudosista não, essa geração atual de pilotos – em especial Vettel, Hamilton e Alonso – nada fica a dever aos ases do passado, embora comparações diretas não possam ser feitas, evidentemente; as circunstâncias de momento variam, cada ás em sua época. Gosto de gente como Rohrl, que dizia que era preciso ganhar sempre com a máxima diferença possível.
Já que você também aprecia o rallye, dá uma espiada lá no vídeo sensacional do Kubica que o Ico postou, se é que você já não o viu.
já vi o video sim. nem o farol do lado direito aos tombos o incomoda.
relativamente ao ronnie peterson, não sou dessa geração por iss n o vi correr.. 🙁
realtivamente a Rohrl e o ganhar com maior diferença possível, vai do estilo de cada um. e o dele era óptimo. mas tb temos o tricampeão de F1 Jackie Stewart que dizia que as corridas devem ser ganhas no maior tempo possível.
comparar gerações de grandes pilotos de F1 não é fácil. cada época com as suas especifidades.
Ronnie Peterson era um dos pilotos que conseguiam ser mais rápidos que o material de que dispunham, o que diferenciava o sueco era a sua extraordinária capacidade inata de controlo do carro.
Naquela segunda feira de Setembro perdemos um grande Piloto, e um Homem bom.
Ronnie Peterson por Nigel Roebuck:
http://www.motorsportmagazine.com/ask_nigel/peterson-a-match-for-anyone/
Olas.
Bom artigo, como de costume, mas eu humildemente creio que nao havera tanto peso ao piloto quanto ha 30 anos. Com tanto engenheiro por tras dos motores e muita eletronica ainda eu nao consigo ver a F-1 de volta aos anos 70/80.
MAS ainda assim he otimo saber que havera menos grip aerodinamico e uma importancia maior do piloto.
Como ja escreveram ad nauseum aqui, tambem acredito que gente que nao aparecia tanto vai entrar mais em evidencia. Da turma que tem sheer speed no sangue (Hamilton, Lewis) eu espero menos. Nao conseguem dosar o impeto, em que pese os milhoes de horas em simulador.
Em tempo: Alguem acha que o Schumi se daria bem com a nova F-1? Lembram como era a F-1 no tempo dele? Volta de classificacao, troca pneu, volta de classificacao, troca pneu, ganha corrida. Sera que ele toparia tirar o pe antes do limite da freada?
Esperei mais de 10 anos para voltar a ver uma F-1 decente.
SDS
Acho que isto aqui responde à sua pergunta: http://www.totalrace.com.br/blog/juliannecerasoli/2012/10/04/um-pouco-de-perspectiva-sobre-o-mito/
Há outro artigo interessante da Ju falando sobre o mesmo tema: http://www.totalrace.com.br/blog/juliannecerasoli/2013/04/08/velocidade-pura-ou-estrategia-pura/#comments