Ninguém melhor que a torcida britânica para valorizar o grande espetáculo que a Fórmula 1 vem proporcionando nesta temporada. Sete vencedores diferentes em oito corridas, provas indefinidas até as voltas finais e um alto nível de pilotagem vêm marcando o ano e atraíram um público recorde ao GP da Grã-Bretanha, neste final de semana. O berço do automobilismo e de sua categoria mais importante abraçou de forma maciça este momento especial e acabou antecipadamente com os ingressos.
Mas os organizadores pouco fizeram para retribuir esse reconhecimento. Já na sexta-feira, quando são disputados apenas os treinos livres e, na maioria das etapas as arquibancadas ficam às moscas, 80.000 pessoas pelo menos tentaram prestigiar o evento. Alguns ficaram apenas na tentativa mesmo, pois enormes engarrafamentos frustraram a empolgação britânica com sua corrida. Ao chegar ao circuito, tiveram de torcer para que seus carros não ficassem atolados na lama que se formou com a chuva que promete cair por todo o final de semana no interior da Inglaterra.
Após toda essa maratona para chegar ao circuito, a frustração dos fãs britânicos não acabou: por força do regulamento, cada piloto tem direito a três jogos de pneus para chuva e quatro para condições intermediárias. Para efeito de comparação, são onze os jogos de pneus disponíveis para pista seca – e ainda assim muita gente deixa de andar para economizá-los. Como a previsão é de que classificação e corrida ocorram debaixo de chuva, os pilotos pouco andaram.
Ficou tão óbvio que o regulamento tem de ser modificado quanto que a torcida que decide ir ao circuito que sediou a primeira corrida de F-1 da história, em 1950, merece ser mais bem tratada. Silverstone passou recentemente por uma extensa reforma, que incluiu mudanças no traçado e uma nova área de paddock e boxes, visando atender aos novos padrões da categoria.
A infraestrutura das estradas também recebeu investimentos, claramente ineficientes. Localizado na zona rural da Inglaterra e com estrutura hoteleira insuficiente, o circuito nunca primou pela comodidade oferecida a seus visitantes. Para se ter uma ideia, a melhor forma de acompanhar a corrida é se alojando com antecedência nos acampamentos comercializados pela organização.
São esperadas mais de 120.000 pessoas na corrida de domingo. A chuva não deve faltar, assim como o espetáculo, calcado nos pneus economizados nos treinos livres, mas tomara que a torcida que melhor sabe desfrutar desse momento especial da F-1 chegue a tempo.
Coluna publicada no jornal Correio Popular
2 Comments
Julianne sem pachecadas imgina se isso acontece no Brasil ?
Pergunta : o sentimento de indignacao eh mutuo, digo todos ahí tem a mesma leitura dos fatos ?
Sera que a FIA fara algo a respeito ?
Sim, esse é bem o clima e a resposta dos organizadores foi, na minha opinião, corajosa: não ficaram culpando o clima, assumiram o erro e o prejuízo, pedindo para grande parte do público ficar em casa e garantindo o dinheiro de volta porque não havia condições dos estacionamentos acomodarem todos, o que levou ao trânsito ao excessivo nas estradas (esse, sim, um problema grave na Inglaterra). Dizem que resolveram tudo e que as pessoas podem vir amanhã normalmente. Veremos.
No Brasil isso não acontece porque quem quer ver a corrida de um lugar decente e está em setores como A e G tem que chegar muito antes. Em eventos nos quais a numeração dos assentos é respeitada (o que acredito que seja o mínimo de bom senso) o risco de um congestionamento é maior porque não há necessidade de chegar antes. E aqui fala alguém que já passou algumas madrugadas na rua em Interlagos. Difícil dizer se eu prefiro isso ou atolar na lama… o certo é que o público não merece esse tipo de tratamento.