Mesmo sendo uma corrida caótica debaixo de chuva, o GP de Coréia foi mais uma prova de resistência que de estratégia. Pelo menos em relação às trocas de pneu, porque os verdadeiros estrategistas, no domingo, estavam sentados nos cockpits.
Isso porque a questão central foi o manejo das condições ruins do início da prova e da durabilidade dos pneus intermediários na parte final. Quem soube lidar melhor com isso se deu bem.
Logo que o Safety Car saiu de cena, apareceram as primeiras vítimas: Hamilton guardou a agressividade para o rádio e perdeu a posição para Rosberg, que logo depois foi acertado por Webber. O australiano abusou da zebra num terreno molhado e foi parar na lama. Estava pedido: já saíra no lucro na batida com Hamilton em Cingapura.
O momento era de cautela. E foi o que os demais postulantes ao título tiveram. À exceção de Button, que sofria bastante com o desgaste dos pneus de chuva extrema e andava em ritmo 1s pior que o companheiro. A exemplo do que fez na Austrália, optou pelos intermediários – naquela ocasião, trocou os inters pelos de seco antes de todo mundo e venceu a corrida. A McLaren observou o rendimento dos demais carros que haviam feito a troca: Di Grassi, as Sauber, Buemi, Petrov, Senna e Truli e viu o claro salto nos tempos a partir da volta 24. De uma hora para a outra, começaram a virar 3, 4s mais rápido: a pista já não estava encharcada.
O problema do inglês foi o timing da parada. Ele voltou atrás de um pelotão compacto que tinha, inclusive, rivais com o mesmo pneu que o seu. Pior, a troca não resolveu por completo sua dificuldade em segurar o carro. Com seus concorrentes diretos parando 3 a 4 voltas depois, sob regime de Safety Car, sua chance de passar alguém caiu por terra.
Esse momento também poderia ser decisivo para a corrida de Alonso. Sua perda total no pitstop foi 3.9s maior que Hamilton devido, à primeira vista, a uma falha da equipe. Mas o espanhol depois assumiu a culpa, dizendo que deixou o carro escorregar na entrada. No entanto, na relargada, Hamilton foi otimista demais com seus pneus intermediários recém trocados e escapou na 1ª freada, “devolvendo” a posição.
Começava aí a fase de 20 voltas com os intermediários, famosos pela pouca durabilidade. Nas voltas finais, deu para perceber quem fez a lição de casa direito. Os pilotos da Williams caíram bruscamente de rendimento – Hulkenberg até fez um pitstop extra –, jogando fora a chance de marcar 18 pontos e praticamente garantir a 6ª colocação no Mundial de Construtores e Sutil manchou bastante sua boa reputação no molhado com várias trapalhadas. Enquanto isso, Alonso manteve um ritmo impressionante. No final, Massa, com o mesmo carro, era de 3 a 4s por volta mais lento que o companheiro.
Caminhos diferentes
Desde o treino de sexta-feira ficou claro que havia duas maneiras de se andar rápido na Coréia. Red Bull e Ferrari apostaram num acerto com maior carga aerodinâmica, priorizando os setores 2 a 3, enquanto McLaren e Mercedes confiaram em sua força nas retas no 1º setor.
Na classificação, Alonso compensou a diferença de velocidade final – perdia 6km/h para as McLaren – com uma atuação perfeita nas freadas e, curiosamente, foi o melhor no setor das retas.
Na corrida, no entanto, não conseguiu o mesmo feito e era constantemente 0.5s mais lento que Hamilton na 1ª parte da pista. Caso estivesse na alça de mira do inglês, provavelmente seria ultrapassado. Mas a Ferrari compensava toda essa diferença no 3º setor e, pouco a pouco, Alonso foi abrindo na ponta. Só havia dois carros mais rápidos nas curvas, mas eles acabaram pelo caminho.
20 Comments
Bem, será que Alonso realmente errou, ou está tentando aliviar um pouco a barra da Ferrari, que tenta melhorar um pouca a sua reputação? Não sei não, hein…
Qnt ao Hulkenberg, me parece que ele disse ter sofrido um furo de pneu, o que o forçou a fazer o pit stop… Tbm não sei se foi isso o que aconteceu.
Comentários a parte, será que tinha que chovar tanto logo num GP nem terminado? Tava mais p/ rali! hehehe
Também achei que rolou um oportunismo dele em assumir o erro pra ganhar uma moral a mais na equipe. Ele é bom nisso.
Pelo que sei, o Nico apostou em trocar o pneu para voltar com um rendimento melhor, mas seu ritmo continuou praticamente o mesmo e acabou não valendo a pena. Estou preparando um post sobre a prova da Williams. O que está acontecendo com o ritmo de corrida deles?
Na hora deu um certo desgosto, mas depois foi engraçado. Ainda mais depois de ver todas as falas do Hamilton antes da relargada (no site da McLaren tem, pra quem nunca viu), colocando pressão para que a corrida iniciasse logo. E o que aconteceu? Perdeu posição para Rosberg na freiada da reta que dava teórica vantagem ao MP4-25…
Mas a diferença de rendimento de Alonso e Hamilton no final da prova, devido ao desgaste dos pneus do segundo, foi impressionante. Impressionante também foi a rapidez com que Alonso chegou perto de Vettel pouco antes do motor deste estourar.
Mas você destacou bem Julianne, os estrategistas estavam sentados no cockpit dos carros.
Naquela hora do rádio, era cada um cuidando do seu, né? Foi engraçado também o medão do Webber de começar a corrida…
O rendimento do Alonso dá a impressão que ele e o Vettel teriam uma baita briga no final. Essa eu queria ter visto!
Será que ainda teremos disputas na pista entre os candidatos ao título? Tá difícil de acontecer, não?
Esperemos por Interlagos pq em Abu Dabhi será um carrossel interminável, sem possibilidade de chuva ou SC…
Abs
‘Abu Dhabi’…
na verdade, é difícil acontecer ultrapassagens entre os primeiros colocados, apenas nas largadas. Quem ultrapassou na pista, depois da 1ª volta, para ganhar? Lembro do Button no Rosberg na China e do Hamilton no Webber no Canadá.
Hamilton já passou 3 vezes pelo 1º lugar. Webber e Alonso no Canadá e Button na Turquia. E Button passou Hamilton na Turquia e essa da China sobre Rosberg que você falou. Fora os dois ninguém mais passou pelo 1º posto.
Eu estava na expectativa pro fim da reta da Coréia, pra ver se a batalha que era pra ter acontecido por mais tempo na Austrália poderia ser efetivada, mas a chuva não permitiu que Lewis fosse pra cima de Fernando…
No cliptheapex tem um sumário das ultrapassagens etapa a etapa e no Ultrapassagem eu faço um apanhado e algumas análises de duas em duas etapas. Essa semana sai a atualização com os dados do Japão e da Coréia.
Realmente os estrategistas estavam nos cockspits. Ju, estou doida para seu post sobre as transmissões. O Lobato deve ter ido a loucura. Haja paciência (rs). O Galvão parecia que estava narrando um velório no final da corrida.
ops… para ler seu post e não para seu post
Tô assistindo a BBC agora, mas ainda não vi o da La Sexta. Lobato deve estar sem voz até agora. Tenho que preparar meus ouvidos!
Galvão anda meio caidinho mesmo, mas já começou a prometer que em 2011 vai ser tudo diferente pro Massa…
Allan, essa briga eu também tô esperando! Lembra de Silverstone, ano passado, os dois em carros horríveis, fora da zona de pontos, lutando como se fosse pelo campeonato? Foi sensacional.
Esse tipo de coisa não tem preço! Simplesmente pilotos querendo a essência do automobilismo: chegar à frente.
Aliás, vcs tem ou sabem onde achar as estatísticas de ultrapassagem deste campeonato? piloto que mais ultrapassou, etc?
Abs
Esse http://www.cliptheapex.com que o Allan mencionou é uma verdadeira bíblia. Devo fazer um post sobre isso mais tarde, mas essa é a temporada com mais ultrapassagens em muito tempo.
E, um dado que me surpreendeu bastante: sabe quem é o piloto que mais ultrapassou nesse ano? Fernando Alonso, com 38 (até a Coréia). E eles não contam posições ganhas por acidentes ou quebras, é só ultrapassagem de pista mesmo.
Fiz uma análise retirando as ultrapassagens sobre as equipes da chamada “segunda divisão” e aí o resultado é um pouco diferente. Se quiser dar uma conferida: http://ultrapassagem.wordpress.com/2010/10/04/ultrapassagens/
Pra mim o erro do Webber não foi em abusar da zebra, mas errar na curva anterior. Se prestar atenção ele erra a tomada da curva e a contorna de forma muito aberta, o que faz com q vá para cima da zebra no outro lado e rode.
Sim, Fábio. Ele errou a tangência, o carro saiu de frente e ele achou que ia dar pra segurar, continuou acelerando mesmo depois de ter perdido o carro. Sorte dele que o motor do Vettel quebrou. Era o que a Red Bull precisava pra fazer dele 2º piloto.
E bem-vindo!
Longe de mim, longe MESMO, vir aqui defender a narração defunta do Galvão, mas ele fez uma cirurgia na próstata nesta semana. Além do adiantado da hora, isso talvez explique melhor a falta de ânimo dele nesse final de semana…
Vai ver ele estava se poupando para arrasar no GP do Brasil…