F1 Drops da Fórmula E e os papos na mureta - Julianne Cerasoli Skip to content

Drops da Fórmula E e os papos na mureta

Há quem pense que quem trabalha com Fórmula 1 tem pelo menos dois meses de férias em dezembro e janeiro, antes dos lançamentos dos carros começarem, mas isso está bem longe da realidade, especialmente de quem é freelancer. É o momento de fechar com os clientes para a temporada seguinte, comprar as viagens (o que exige horas e horas de pesquisas) e adiantar todos os textos possíveis – é quando faço grande parte do conteúdo do blog, por exemplo. Mas com o crescimento do interesse da F-E no Brasil e uma etapa a apenas 3h de voo (low-cost ainda por cima) de casa, não poderia deixar passar a chance de cobrir pela primeira vez uma prova da categoria, no Marrocos.

 

É impossível para quem está tão acostumada a outra realidade não comparar tudo com a F-1. Tinha entrevistas com Nelsinho e Felipe na quinta-feira, mas só poderia pegar a credencial na sexta. Na F-1 isso significaria que eu teria de remarcá-las, mas resolvi tentar entrar na cara e na coragem e… pronto! Minha alegria, contudo, não durou muito: logo o assessor da Jaguar disse que a entrevista com Nelsinho atrasaria em 2h, e o da Venturi informou que Felipe (que perdera a avó) não iria à pista. Vi que a F-E teria a facilidade de acesso impensável na F-1, mas a eficiência com os horários não seria a mesma.

 

Foi assim mesmo por toda a etapa. As credenciais chegaram com meia hora de atraso, e nenhuma entrevista aconteceu exatamente no horário combinado. Mas certamente o conteúdo compensa: os assessores simplesmente me largavam com os pilotos por 20, 30 minutos, sentados na mureta dos pits, no que foram mais papos do que entrevistas.

 

Foi a primeira vez que falei com Nelsinho, um personagem e tanto, que sempre dá boas entrevistas devido a sua particular sinceridade. Perguntei sobre seu estilo de vida, por exemplo, sobre sua fama de sempre estar curtindo, e ele: “Sei que tem cara que fica na balada até 6h da manhã, vai na academia 8h para postar foto e dizer que estava treinando, mas volta para a cama. Eu não preciso disso.”

 

Tive que abordar também a relação com o recém-chegado Massa. “Quem é meu amigo, é meu amigo. Para quem não é eu cago.” Não que do outro lado a situação seja muito diferente. “Conheço Nelsinho há muito tempo, nas corridas de kart sempre estavam todos pilotos juntos e ele do outro lado. E quando eu cheguei ele deu uma declaração que eu não entendi falando que eu estava vindo só por política.”

 

Jogando pimenta na fogueira, Alejandro Agag, chefão da F-E, disse que “finalmente tinha chegado um brasileiro simpático” na categoria, referindo-se a Massa. Repeti isso a Felipe, que pensou por um segundo, e disse. “Ah, mas o Lucas é gente boa.” Deu para sentir, né?

Demais essa legenda

Ressaltei essas declarações porque elas dificilmente aconteceriam na F-1, pela minha experiência, mas certamente não foram os pontos altos das entrevistas, que foram das mudanças que a F-E geraram na vida de cada um à situação política brasileira. E, pelo menos esse é um assunto em que os três concordam, acreditando que a eleição de Bolsonaro pelo menos dá margem a mudanças que eles sentem como necessárias no país.

 

O mais politizado é Di Grassi, que demonstrou interesse em entrar para a vida pública depois de parar de correr. Mas o afiliado ao Partido Novo fez questão de deixar claro: “Não sou um bolsominion e tem muita coisa que estão fazendo que acho besteira.”

 

Estar na F-E me deu a chance também de entender melhor os conceitos por trás da categoria. O foco não é ganhar os fãs de automobilismo, e sim criar um espetáculo que possa ser também uma bela desculpa para curtir algum destino turístico durante um fim de semana – preferentemente, com a família. Sim, é um esporte para quem não quer barulho, não adianta espernear. E a ideia é que não seja o foco central de uma viagem ou um fim de semana diferente, mas a cereja no bolo. E, nesse contexto, o evento de um dia, e no sábado, faz todo o sentido.

 

Tudo está em um desenvolvimento embrionário ainda. As possibilidades são tantas que ouvi de Di Grassi que o motor poderia ser dividido em quatro, nos eixos do carro ao invés da traseira, por exemplo, e de Agag que ele está em contato com uma empresa que faz carros voadores. É isso mesmo. E, andando no paddock, com os convidados experimentando os simuladores, com o barulho elétrico ao fundo, a impressão já é estar mesmo andando no meio do futuro.

 

Não sei se a ideia de corrida para quem não é fã de corrida cola. E, no final das contas, na pista, mesmo sendo “um detalhe”, a corrida foi boa, e com os dramas tão comuns ao automobilismo: piloto se jogando do nada por dentro na primeira curva e companheiros de equipe jogando uma vitória fácil fora.

 

Para quem acompanhou a cobertura no twitter, ficou o mistério: qual será o anúncio relacionado ao Brasil que vai acontecer em 31 de janeiro? Adianto que á uma ideia bem maluca e tenho lá minhas dúvidas se vai dar certo. Mas isso a gente discute no fim do mês.

5 Comments

  1. Essa legenda sobre o Toto Wolff foi de matar mesmo!
    Não vi a corrida porque voltei ontem de viagem, mas eu amei o novo layout do seu diário.
    Tenha um bom Ano Novo, e até a próxima.

  2. Oi, Ju, muito bom ter a sua visão da F-E, categoria que estou acompanhando mais atentamente desde o ano passado, e que noto crescimento acentuado. Parabéns pelo texto!

  3. Não querem o fã da F1 mas toda oportunidade tentam tirar uma casquinha para aparecer. Quem precisa fcar o tempo inteiro tentando dizer que está bem não está tão bem assim.

  4. Tens que ir mais vezes às corridas da Formula E. Ainda por cima, é onde estão os brasileiros todos…

    Considerações à parte, acho que quando quase todas as equipas representam de forma oficial ou em parceria, construtoras de automóveis – a Porsche vêm na próxima temporada e fala-se da Ford num futuro próximo – de uma certa maneira, concretizou-se o sonho do Bernie Ecclestone. Só que não foi na Formula 1.

    Isto é o futuro, quer queiram, quer não. A ideia dos carros lentos, de carregamento lento, acabou. E com o Agag a ter o exclusivo até 2039, é provável que nessa altura, ou há uma fusão entre a Formula 1 e a Formula E, ou a primeira estará uma decadência irreversível que basicamente será absorvida ao melhor preço.

  5. Muito legal a melhor repórter de automobilismo do Brasil (com exageros nos elogios por favor) ter começado a acompanhar a F-E. Já faz um tempo que venho acompanhando uma corrida ou outra via Youtube (o que é uma lição para a F1), pois eles postam a corrida quase inteira na plataforma.
    E aproveitando o tópico para fazer uma pergunta:
    Algum amiguinho conhece algum site que passe as corridas da F-E e da F1 na íntegra? Precisarei de um bom site para começar a acompanhar.
    Grande abraço a todos do Blog!


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