F1 Estratégia do GP de Mônaco e o que poderia ter mudado a prova - Julianne Cerasoli Skip to content

Estratégia do GP de Mônaco e o que poderia ter mudado a prova

A tática de Gasly mostra o que poderia ter sido o final do GP de Mônaco

“Suponho que o ritmo foi lento porque os outros estavam economizando pneus, enquanto meu ritmo era lento porque eu estava com menos potência e cuidando dos freios”. Essa explicação de Daniel Ricciardo não apenas dá um belo panorama do GP de Mônaco, como também enfatiza o tamanho da vantagem da Red Bull em ritmo de corrida e de classificação no Principado. Parte disso tem a ver com o circuito, mas o australiano também afirmou acreditar que ninguém se entendeu melhor com os pneus hipermacios do que eles. E o composto vai aparecer de novo na próxima etapa, em Montreal.

Em Mônaco, a diferença foi gigantesca: ficar sem o MGU-K, como aconteceu com Ricciardo, não apenas significa ter 160cv a menos de potência, como também compromete os freios, que ficam sem a ajuda do torque do sistema. Para combater uma possível – e quase real – falha total de freios, Ricciardo jogou o equilíbrio de freios em 6 a 7%, segundo ele mesmo, para os dianteiros (os pilotos não costumam mexer em mais de 2% ao longo de uma corrida), correu com 1ª a sexta marchas e mudou sua pilotagem. E ainda assim a equipe calcula que seu déficit tenha sido de 2s por volta.

Nem assim foi suficiente para que Vettel atacasse. O alemão explicou ter optado por preservar os pneus e chegar em segundo do que atacar e arriscar sofrer no final da prova.

Mônaco nunca é uma prova em que os pneus são um problema, pelas curvas não colocarem muita energia neles e pelo asfalto liso. Mas a Pirelli tentou mudar isso neste ano, fabricando um composto de altíssima aderência e degradação, o hipermacio. O objetivo era que os pilotos precisassem de dois pit stops para completar a prova.

Porém, como Mônaco é Mônaco e a posição de pista é fundamental, a opção foi por adotar um ritmo bem mais lento e só parar uma vez. Isso, mesmo com um carro muito mais lento liderando o pelotão. Prova da lentidão é a diferença para o “melhor do resto”, Esteban Ocon: 23s. Em Barcelona, aquele que ocupou essa posição, Kevin Magnussen, ficou a mais de 80s do vencedor.

Outro dado interessante: mesmo antes dos problemas no MGU-K começarem, Ricciardo já estava bem mais lento do que poderia, andando na casa de 1min17, 7s acima da pole. Três deles vêm do peso do combustível e 2s do modo de motor mais conservador para a corrida. Então ele já andava 2s mais lento do que poderia só para levar os hipermacios até perto da volta 20. Não é a toa que os pilotos reclamaram que não houve corrida em Mônaco!

Mesmo naquele momento, não havia o que os rivais pudessem fazer, por conta do graining, especialmente nas Mercedes. O carro mais longo e que já vem, desde o início da temporada, sofrendo com os compostos mais macios – lembrando que o time chegou a tentar fugir dos hipermacios na classificação – e o quadro foi até pior em Mônaco devido às características da pista.

Mas e com Ricciardo com problemas, seria possível mudar a estratégia e a cara da corrida? Em teoria, qualquer um dos quatro primeiros parasse com, digamos, 20 voltas para o fim e colocasse os hipermacios “pagaria” sua parada em quatro voltas, sendo naturalmente 5s por volta mais rápido. Mas seria o suficiente para passar quem não tivesse parado? É essa a aposta que os estrategistas não quiseram fazer em uma pista como Mônaco.

Por outro lado, a sorte de Ricciardo é que seu problema começou depois das paradas. Caso Vettel não tivesse feito o pitstop e, com isso, estivesse na ponta, ganharia a corrida. É o que indica a boa tática da Toro Rosso, que manteve Pierre Gasly na pista por 37 voltas com o hipermacio, fazendo com que ele tivesse pista livre em momentos-chave para passar Sainz e Perez com o overcut e estar em posição de herdar a posição de Alonso quando o espanhol teve uma quebra, terminando em uma ótima sétima posição.

Os compostos serão os mesmos para a próxima etapa, no Canadá, mas o cenário muda totalmente por ser uma pista em que dá para ultrapassar. E também pela indicação da  Mercedes, que ao selecionar apenas cinco hipermacios, mostrou que vai fugir deles na corrida.

14 Comments

  1. Ju, eu não entendi porque o Bottas não arriscou fazer uma segunda parada. Ele voltaria só atrás do Ocon, não? O Ocon abriu para o Hamilton (e até então eu nem sabia que tinha ordem da Mercedes) e provavelmente não tentaria se manter a frente do Bottas, penso eu.

    • Porque aí o Bottas ter que partir pra cima do Hamilton? E a Mercedes iria arriscar ficar sem os 2 carros?

  2. Já que a posição de pista é essencial em Monaco, eles poderiam adotar uma regra diferente para a pista, ao invés de ter a parada obrigatória, poderiam usar um pneu que durasse a prova e sem a obrigação de parar.
    Ninguém quer parar mesmo para manter a posição de pista, então, talvez assim haja realmente corrida em Monaco. Com um pneu que dure a corrida toda e sem obrigação de parar.
    Sua analise também mostra como é incrível a criatividade das equipes em burlar qualquer coisa que seja, regras, estratégias, etc…
    Sobre o problema de MGU-K do Ricciardo, descobri algo interessante, em 2014 (se eu não estiver errando o ano) Hamilton e Rosberg tiveram o mesmo problema que o da RedBull em Monaco, mas somente Nico Rosberg conseguiu lidar com a situação e terminar a corrida, Lewis Hamilton ficou pelo meio do caminho. Grande vitória do Ricciardo em uma orova em que a única emoção foi a briga dele para manter o carro na pista.
    Grande abraço a todos!

    • Em 2005 não tinha troca, os pneus da Renault acabaram e Alonso penou para segurar as Williams, inclusive cortando a gincana frequentemente, Fisichella fez o mesmo lá atrás e conseguiu atrasar os outros o suficiente para Alonso salvar o quarto lugar.

  3. Não consigo perdoar a passividade de Vettel, como os fanáticos italianos estão lidando com isso, F3 Euro, 2015, nona prova, Dennis teve problemas, provavelmente perdeu machas, em Pau, muito mais estreita que Mônaco, todo mundo foi para cima com tudo, numa pista que basta o piloto colocar o carro no meio da pista ou por dentro para não ser ultrapassado, resultado, acabou lá atrás com direito a uma carambola na volta final quando tentava segurar quatro carros, talvez se a Pirelli colocasse pneus mais duros, pelo menos todos andariam forte o tempo todo.

    • Engraçado que todo mundo meteu o pau no Vettel no Azerbaijão exatamente por arriscar, não aceitar a passividade ao ver uma chance de vencer.

      Agora criticam sua “suposta” passividade, sendo que, na verdade, Ricciardo, apesar dos problemas, controlou tão bem a corrida que não lhe deu nenhuma chance de ousar nada.

      Vai entender esse povo que só reclama…

  4. Parece que a Mercedes vai usar esses pneus mais macios só no Q1 e Q3. Quando der, vão fazer o Q2 com os médios (médios entre as opções naquela corrida) para largar com eles e depois usar os mais duros.Numa pista com pouca chance de ultrapassagem, essa vai ser a estratégia dos alemães e provavelmente seguida pela Ferrari. O ideal seria a escolha de compostos com grande diferença de rendimento, para que valha a pena usar os mais macios, mesmo fazendo uma parada a mais.

  5. Impressionante a semelhança entre esse seu texto e o do Mark Hughes. Realmente impressionante.

    • Nao vejo problema algum nisso; eu sigo somente 2 blogs sobre a F1 atual, este da Julianne o de outro jornalista britanico, um veterano de 30 anos na F1, ótimo repórter e também historiador, Joe Saward – nao quero dedicar tempo para mais leituras sobre os GPs, o ano todo… aqui com a Ju há o bonus de nos explicar todos os aspectos do evento que norteiam e definem essas corridas na pista, no paddock , na Fedération e o escambau – poucas vezes ela faz questão de mostrar a opinião dela – para mim isso tambem um bônus -, o que já nao acontece, por exemplo, com o brit que mencionei acima, que bem gosta de ‘pavanear’ um pouco seus pontos-de-vista.

  6. Fiquei ainda mais fã do Versttapen do que já era. Que linda ultrapassagem?
    Minha maior motivação em assistir F1, é esse piloto da estirpe de Gilles Villeneuve. Senna, Clark, não os atuais burocratas. Vencem por ter carros infinitamente superiores e correm baseados em estratégia, esperando ganhar posições nos boxes, nos pneus etc…

  7. Se os seus cálculos estiverem certos Ju , estamos diante dos estrategistas mais idiotas da F1
    Se poderiam andar 5s mais rápido nas últimas 20 voltas era dever de Ferrari e Mercedes arriscarem com pelo menos 1 piloto , com todas as dificuldades de ultrapassagem que o circuito proporciona , 5s são 5s , é diferença de uma categoria pra outra , tenho ctz que a Redbull arriscaria , aliás Ferrari e Mercedes tem se especializado em estratégias burocráticas demais , me lembro o que fizeram com Alonso na decisão de 2010

  8. Oi Eduardo!
    Também não entendi a passividade do Vettel, mas ao comparar a F3 euro com a F1, tem que se lembrar quebos carros de F1 são mais largos deixando a pista ainda mais apertada do que já é. Claro que isso não justifica a passividade do Vettel, mas esse detalhe tem de ser lembrado.
    Talvez fosse mais fácil eles tirarem a citada chicane do circuito, Verstappen ultrapassou o Sainz cortando a referida chicane e nem investigado foi, toda corrida tem pelo menos um piloto cortando esse ponto e nada acontece, seria melhor tirar logo.
    Olá Fernando!
    A alguns posts atrás a Julianne já explicou que busca os detalhes técnicos do exterior e traduz aqui no blog (para a nossa alegria) como há diversos detalhes técnicos no texto, provavelmente é daí a semelhança. Ainda bem, que para a nossa sorte, há uma jornalista que nos traz essas informações com prazer, alegria e qualidade porquê depender das informações da grande mídia brasileira é bem triste. Além de trazer as informações de forma tendenciosa ainda deixa diversos detalhes interessantes de fora.
    Grande abraço a todos!

  9. Poupar pneus e combustível…
    Ano passado o Barrichello correu as 24 Horas de Le Mans em um LMP2.
    Ele disse que nos tempos de F1 nunca teve curiosidade de acompanhar mais de perto Le Mans porque achava que lá era mandar a bota nos treinos e administrar na corrida.
    Pois bem…
    Nos ultimos anos Le Mans foi uma batalha campal de Audis vs Peugeot, Audi vs Toyota, Audi vs Toyota vs Porsche… pau puro.
    Teve ano em que depois de 24 Horas de corrida a diferença na bandeira final foi de 12 segundos, o que a grosso modo significaria abrir 0,5 segundos por hora.
    Já a toda soberana F1 vive de corridas mororentas com carros Nutella que ficam bobos se andarem perto demais dos outros… e poupando pneus e combustivel.
    (F1… se inspire e respeite seu próprio passado!!!)

  10. Não se esqueçam que em Mônaco um piloto só ultrapassa se o da frente der uma colaborada. Senão ambos batem.
    Se o Vettel arriscasse bem bastasse com o Ricciardo, quem ganharia era o Hamilton. Acho que aprendeu com a corrida de Baku.
    Mônaco é isso. Faça a pole, largue bem e ganhe a corrida. É só não errar.
    Corridinha burocrática para poupar equipamento.


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